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Como 'Ainda Estou Aqui' inspira jovens a compartilhar no TikTok histórias de pais e avós torturados na ditadura

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Relatos ganharam milhões de visualizações e trouxeram à tona histórias de tortura, exílio e perseguição. O pai de Maria Petrucci sofreu traumas e sempre falava sobre o assunto com muito receio e medo
Maria Petrucci/Arquivo Pessoal
Maria Petrucci, de 22 anos, teve o pai preso por militares durante a ditadura no início dos anos 1970.
Luana Lungaretti, de 22 anos, também sofreu com a tortura e prisão do pai por agentes no DOI-CODI, na mesma década.
Já Elisa Nunes, de 21 anos, teve a avó exilada na França durante dez anos nesta mesma época.
As três jovens, de idades semelhantes, compartilham histórias de familiares marcados pela repressão do regime militar brasileiro, que durou 21 anos.
Os relatos foram compartilhados graças a uma trend no TikTok, inspirada no filme Ainda Estou Aqui, do diretor Walter Salles, e que rendeu postagens virais, com mais de quatro milhões de visualizações.
Um dos primeiros vídeos foi o de Maria, onde ela segura a foto 3×4 do pai, preso na época, e escreve: “O impacto de ver esse filme sendo filha de um preso político da ditadura que hoje tem Alzheimer em estado avançado”.
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O post tinha como trilha sonora a música “É Preciso Dar um Jeito, Meu Amigo”, do cantor Erasmo Carlos, e que compõe o longa.
Após essa publicação, outros jovens começaram a compartilhar relatos sobre pais e avós que sofreram com a perseguição, destacando como o filme se tornou um marco para que o tema fosse falado abertamente.
“Eu não imaginei que ia ter essa repercussão e muitas pessoas jovens perguntando o que foi a ditadura. Fiquei feliz que pude contribuir para que outras pessoas pudessem ter mais consciência de todo o prejuízo que muitas famílias sofreram. Vi um paralelo com a história do meu pai”, diz Maria.
Codinome Frederico
Logo que ingressou na faculdade de administração pública na década de 1970, o pai de Maria, Sérgio de Azevedo, hoje com 78 anos, entrou para o movimento estudantil e ajudou pessoas que eram perseguidas pela ditadura.
Ele e os amigos usavam um apartamento para salvar e abrigar indivíduos e deixá-los em segurança.
“Eles chamavam de ‘aparelho’ e funcionava como uma espécie de esconderijo. Para dificultar a identificação, ele também usava o nome de Frederico”, diz Maria.
Na época, ele tinha uma amiga chamada Anita e os dois combinaram de se encontrar em uma praça no bairro do Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro. Ela demorou muito a aparecer no local e quando ele e um amigo estavam indo embora, foram surpreendidos por militares.
“Os militares os pisotearam e os levaram para a penitenciária da Tijuca”, relembra a estudante.
Chegando ao local, ele passou cinco dias em uma cela, deitado em uma esteira no chão, com um militar armado ao seu lado.
“Ele ficou por volta de dois meses na prisão e, nesse meio tempo, ocorreram diversas situações que o impediram de ser torturado”, conta. Na primeira vez, segundo Maria, os militares haviam encontrado jovens de outro grupo e não realizaram a tortura.
“Provavelmente acharam um outro grupo mais significativo. E talvez não desconfiaram dele, porque ele realmente escondeu muita gente relevante no apartamento”, acrescenta.
Em um outro momento, ele foi levado para uma sessão de tortura na qual as pessoas eram chamadas em ordem alfabética.
Por ter o nome S, ele estava entre os últimos e, bem naquele dia, o horário para tortura havia acabado. “Ele nunca agradeceu tanto por ser Sérgio e ter o S no nome”, relembra.
Em outro momento, um militar o acorda no meio da noite e pergunta se ele era o Frederico e diz “que não queria estar na pele dele e que ele havia caído”.
Maria conta que o pai chegou a pensar que fora delatado pelos amigos, mas, ao chegar na sala de tortura, viu seu amigo ensanguentado e, mesmo assim, o companheiro disse que aquele não era o Frederico que os militares estavam buscando.
“Até hoje a gente não sabe se ele quis poupá-lo ou se não era ele mesmo. Ele passou ‘raspando’ por sessões de tortura”, conta a jovem.
Após quase dois meses, ele consegue ser solto com a ajuda de um militar conhecido da família, que o ajuda com argumentos de que ele tinha bons antecedentes e que já havia estudado no colégio naval na adolescência.
Ao sair da cadeia, Maria conta que o pai era vigiado constantemente por militares e precisou mudar de casa. Ele havia passado em um concurso para ser fiscal de renda e sofreu ameaças para assumir o cargo, o que o fez desistir.
“Eles não queriam que alguém contra o regime ocupasse um cargo público”, conta.
Só depois de muito tempo e com uma liminar na Justiça, que ele conseguiu, de fato, pleitear o cargo.
Depois, passou por processos de exílio, quando foi estudar para um mestrado no Chile e na Argentina, até retornar ao Brasil, nos anos 70.
Devido a todas as adversidades, Sérgio sofreu traumas e sempre falava sobre o assunto com muito receio e medo. “Ele falava baixo, falava com medo. Chegou a dar depoimento na Comissão Nacional da Verdade e ficou realmente nervoso”, relembra a filha.
Fim dos sonhos e Alzheimer
Mesmo não sofrendo tortura física, as sequelas psicológicas foram graves, de acordo com Maria. Ele conta que o pai tomou por muito tempo ansiolíticos e, mesmo após anos, ainda tinha receio de falar sobre tudo que viveu na prisão.
A estudante também relata que o pai parou de sonhar, literalmente, anos após sair da cadeia.
“Ele não tinha mais a experiência de sonhar como as pessoas normais. Quando ele saiu da prisão, ele sonhava muito com tortura, tirando a camisa, a calça, para se ‘desidentificar'”, diz.
“Como fazia abuso de ansiolíticos, teve um comprometimento psíquico e neural. Então, ele realmente não sonhava com nada ou não se lembrava. E também não tinha mais esperança com a vida. Tornou-se uma pessoa muito pessimista”, acrescenta.
Em 2018, Sérgio foi diagnosticado com demência e a doença foi evoluindo. Ele precisou se retirar da faculdade em que dava aula e foi tendo uma piora no quadro de saúde.
Atualmente, por decisão da família, ele vive em uma ILPI (Instituição de Longa Permanência), e tem dificuldade em reconhecer as filhas. “Hoje, ele já está em estágio avançado do Alzheimer e muito debilitado. Tem dificuldade para se comunicar, para formar frase”, diz.
Mesmo diante da condição, Maria acredita que os resquícios da ditadura ainda permanecem. “Uma vez eu estava cantando Chico Buarque para ele e ele disse para eu não cantar aquilo que iam me prender”, relembra.
Para a jovem, a identificação com o filme veio justamente daí, já que, para ela, a cena mais emblemática foi quando a atriz Fernanda Montenegro, que interpreta Eunice no fim da vida, reconhece o marido na televisão e esboça reação sem dizer uma palavra.
“Foi muito impactante. Ela ressurge de si mesma. Fiquei muito comovida com esses paralelos”, diz.
Para ela, a obra é fundamental para preservar a história de todas as pessoas que passaram por algum tipo de tortura nessa época, além de mostrar para outras que duvidam que isso existiu.
“Tenho relato de amigos que foram assistir com pais conservadores. E só de conseguirem ter empatia e entender o que pelo menos foi o regime militar, fico feliz. É muito importante a empatia que o cinema proporciona”, diz.
‘Meu pai foi torturado e teve o tímpano perfurado’
A estudante Luana Lungaretti, de 22 anos, cresceu ouvindo sobre o impacto da ditadura militar na vida de seu pai, Celso Lungaretti, hoje com 74 anos.
Jornalista e ex-guerrilheiro da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), ele foi preso aos 19 anos em uma operação que desarticulou o grupo ao qual pertencia.
Celso foi preso no dia 16 de abril de 1970 e levado para a sede do DOI-CODI, na zona norte do Rio de Janeiro.
Durante o tempo de detenção, foi submetido as sessões de tortura que incluíam choques elétricos e espancamentos.
“Choques nos dedos, nos testículos e com eletrodos atados nos ouvidos, de forma que sentíamos como se um raio atravessasse nosso cérebro”, relembra Celso, em entrevista à BBC News Brasil.
Ele sofreu agressões pelo tenente Ailton Joaquim, que, segundo Sérgio, era considerado um dos mais violentos da época. O militar chegou a ministrar uma aula prática de tortura na Vila Militar, em outubro de 1969, para um grupo de sargentos e oficiais.
“Em uma dessas sessões, ele teve o tímpano do ouvido direito estourado, uma lesão que resultou em anos de crises de labirintite e cirurgias”, conta Luana.
“Fiz três cirurgias, mas até hoje continua perfurado. O buraco só diminuiu de diâmetro, mas, se entrar água, infecciona”, afirma o jornalista.
Além dos danos físicos, as marcas psicológicas e sociais foram severas. “Ele passou quase um ano tentando se reerguer psicologicamente após a prisão. Ainda assim, enfrentou difamações e foi acusado injustamente de delatar seus colegas. Isso o isolou de muitas pessoas e comprometeu sua carreira profissional por décadas”, relata a filha.
Ele chegou a ficar um ano preso, e levou praticamente o mesmo tempo em que ficou em cárcere para se recuperar. “Não tinha dinheiro para pagar terapeuta, mas fui superando os traumas e revolta represada”, diz.
Segundo Celso, pelo menos 20 pessoas que ele conhecia pessoalmente foram assassinadas durante a luta armada ao participar de uma comunidade alternativa, a convite de antigos amigos dele da escola.
Para driblar a hostilidade e os preconceitos, ele chegou a usar pseudônimos para assinar trabalhos na imprensa e conseguir trabalho.
A história do pai nunca foi um tabu dentro de casa. Desde cedo, Luana ouviu sobre o período repressivo e como ele moldou sua visão de mundo.
“Meu pai nunca se calou sobre o que viveu. Ele sempre participou de debates, deu entrevistas e escreveu sobre o tema. Em 2005, publicou o livro “Náufrago da Utopia”, onde relata sua trajetória na guerrilha e as marcas deixadas pela ditadura”, ressalta.
Ao assistir ao filme “Ainda Estou Aqui”, a estudante sentiu-se representada.”Foi impossível não me emocionar e pensar no que meu pai enfrentou. Era como se eu pudesse sentir, mesmo que minimamente, o que ele viveu na pele”, diz.
No entanto, a experiência foi marcada por limitações: tanto ela quanto Celso têm deficiência auditiva, e a ausência de legendas nos cinemas brasileiros dificultou o acesso.
“Uma pessoa que me acompanhava precisou escrever pelo WhatsApp o que acontecia para que eu pudesse entender.” O pai da jovem ainda não conseguiu assistir ao longa, justamente pela falta de acessibilidade.
Documento mostra perseguição durante ditadura militar brasileira
Luana Lungaretti/Arquivo pessoal
A repercussão do filme e dos vídeos no TikTok, onde Luana compartilhou a história de sua família, é, para ela, uma oportunidade de conscientizar as novas gerações.
“A maioria que defende, muitas vezes, é influenciada por opiniões extremistas e, em alguns casos, sem fundamento sobre o assunto. Falta mais estudo e, principalmente, humanidade”, diz Luana.
Questionados sobre as pessoas que pedem para que a ditadura retorne, ambos são categóricos nas respostas. Para eles, defender a volta desse regime é fruto da falta de informação.
“Tais pessoas, ou estão sendo enganadas por gente inescrupulosa que lhes impingem mentiras cabeludas aproveitando sua inocência, ou são seres desumanos ao extremo”, diz Celso.
A filha ainda faz um apelo para que essas pessoas se coloquem no lugar das minorias, de quem perdeu alguém e de quem teve que lutar.
“Viver com medo, viver sendo vigiado, viver sob cautela o tempo todo, viver sem direitos. Isso não é viver, e não podemos permitir que se repita.”
‘Minha avó ficou exilada por dez anos na França’
A avó da estudante Elisa Nunes, Vera Tude de Souza, precisou abandonar sua vida no Brasil durante a ditadura militar.
“Minha avó era muito jovem, praticamente da minha idade, e teve que largar tudo para acompanhar meu avô, que era da luta armada. Ela não era militante, mas ajudava pessoas perseguidas, como o Rubens Paiva”, conta Elisa.
Vera acabou sendo identificada pelas autoridades após ajudar na fuga de um amigo, que acabou capturado. A situação se tornou insustentável, e ela partiu para o exílio na França em 1969. Lá, ingressou no Partido Comunista Francês e passou a observar as diferenças sociais e políticas em relação ao Brasil.
“Ela via como políticas públicas, saúde e educação de qualidade mudavam a vida das pessoas, e isso marcou muito a visão dela”, explica a neta.
Mesmo politicamente ativa no exílio, sua avó enfrentou dificuldades financeiras. Sem formação acadêmica completa, fez trabalhos manuais e passeava com cachorros para sustentar as filhas gêmeas. “A ditadura roubou isso dela, e ela teve que se virar com o que dava para criar minha mãe e minha tia”, relata Elisa.
Segundo a jovem, a avó conta que o período, apesar dos desafios, foi importante para a formação política dela, que agora tem 81 anos. “Ela nunca escondeu essa parte da vida para a família, sempre contou suas experiências. Foi uma época difícil, mas que trouxe muito aprendizado para ela e meu avô.”
Elisa também explorou a história da avó em sua monografia do ensino médio, que abordava o papel das mulheres na ditadura.
“Usei os relatos dela para mostrar como era ser mulher na linha de frente naquele período. Foi muito especial trazer essa memória para o trabalho”, afirma.
A identificação da família com o filme de Walter Salles foi imediata. “Assistimos juntos porque sabíamos que nos reconheceríamos nos personagens. Somos uma família de classe média, e a trajetória deles lembra muito a da minha avó.”
Ao levar a história de Vera para o TikTok, a estudante quis destacar a força e resiliência da avó.
“Ela é uma heroína invisível, a mulher que eu mais admiro no mundo. É importante contar essas histórias para que ninguém esqueça o que aconteceu e para que possamos entender melhor nosso passado.”
Para Elisa, a falta de punição aos responsáveis pelo regime contribui para o esquecimento coletivo.
“Os culpados nunca foram punidos, e isso cria um fator de esquecimento muito grande nas pessoas. Muitos defendem a ditadura sem saber o que realmente aconteceu”, diz
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Village People, atração da posse de Trump, é ícone da disco music e da cultura gay com hit 'Y.M.C.A.'

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Grupo e a cantora Carrie Underwoood são as atrações musicais do evento de posse de Donald Trump, presidente eleito dos EUA, nesta segunda-feira (20). Villge People
Reprodução/Facebook
O grupo Village People e cantora country Carrie Underwood serão as atrações musicais do evento de posse de Donald Trump, presidente eleito dos EUA, nesta segunda-feira (20).
Formado em 1977, o Village People começou a fazer sucesso na era da disco music, sobretudo nos anos 80. Além das músicas dançantes e coreografadas (“Y.M.C.A.”, “Macho Man”, “In the Navy”), o grupo ficou conhecido por seus figurinos e performances extravagantes.
Os membros do grupo costumam se vestir como um personagem da cultura americana. Os integrantes se apresentam trajados como um policial, um indígena, um motociclista, um cowboy, um operário da construção civil e um soldado, enquanto dançam e cantam nos shows.
O grupo também tem um impacto significativo na comunidade LGBTQ+, sendo frequentemente celebrado como ícones da cultura gay.
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Reprodução/Redes sociais
O convite para a posse de Trump gerou controvérsia, mas o vocalista Victor Willis disse que a ideia é usar canções como “Y.M.C.A.” para “ajudar a unir as pessoas”. Trump dançou a música diversas vezes durante a campanha presidencial, o que fez o hit voltar às paradas.
Em quase 50 anos de carreira, o Village People lançou dez álbuns e teve várias mudanças em sua formação. Entre idas e vindas de membros, 28 pessoas já passaram pelo Village People.
Em 1980, o grupo estrelou o filme musical “Can’t Stop the Music”, mas sem o mesmo sucesso e impacto da carreira musical.
Com temperaturas congelantes, Washington se prepara para posse de Trump na 2ª-feira

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Gildinho foi Monarca que se tornou rei e voz das tradições musicais gaúchas

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Morte do artista, há uma semana, joga luz sobre obra de cantor e músico que fez história em mercado autossustentável, ‘longe demais das capitais’. Gildinho (1942 – 2025) deixa legado como vocalista, acordeonista e fundador do grupos Os Monarcas, criado em 1972 por ele com o irmão Chiquito
Reprodução
♫ MEMÓRIA
♪ Nascido em 18 de janeiro de 1942 em Soledade (RS), município do interior do estado do Rio Grande do Sul, Nésio Alves Corrêa por pouco não teve tempo de festejar os 83 anos que completaria hoje. No sábado passado, 11 de janeiro de 2025, o cantor e acordeonista gaúcho saiu de cena.
Internado em hospital de Porto Alegre (RS), Gildinho – como o artista era conhecido no universo musical dos Pampas – morreu em decorrência de câncer, tendo sido velado e enterrado em Erechim (RS), cidade onde nasceu como artista na década de 1960 em programas de rádio do município.
Gildinho fica imortalizado na cena local como uma voz que ajudou a perpetuar as tradições musicais gaúchas como vocalista, músico e criador do grupo Os Monarcas, fundado por Gildinho em 1972 com o irmão Francisco Alves Corrêa, o Chiquito, com quem formara em 1967 a dupla Gildinho & Chiquito, embrião do conjunto.
Assim como Chiquito, Gildinho é nome pouco familiar para quem vive fora das fronteiras do Rio Grande do Sul. Vale até usar a expressão-clichê longe demais das capitais – cunhada por Humberto Gessinger em 1986 no título do primeiro álbum da banda Engenheiros do Hawaii – para se referir ao trabalho do grupo Os Monarcas, de alcance restrito ao sul do Brasil. Até porque o mercado de música gaúcha sempre foi autossustentável e nunca dependeu do aval de outros estados do país.
Criado em 1972 e atuante desde 1974, o grupo começou a engrenar na década de 1980 e alcançou o auge nos anos 1990, década de álbuns bem-sucedidos comercialmente como Cheiro de galpão (1991) e Eu vim aqui para dançar (1994).
Nos rincões gaúchos, o grupo Os Monarcas foi rei. O conjunto animava os bailes com o repertório de vaneras, vaneirões, chamamés, milongas, rancheiras, bugios e chimarritas, entre outros ritmos da música tradicional gaúcha.
Gildinho – cujo apelido veio da predileção de Nésio pelas músicas de Gildo de Freitas (1919 – 1982), compositor gaúcho identificado com a música nativista da região sul – conquistou a realeza nesse universo musical regional pela coerência nos 60 anos de carreira. Por isso, a morte do artista – a exatamente uma semana de completar 83 anos – foi tão sentida pelo povo do Rio Grande do Sul.

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'Maria Callas' decepciona com cinebiografia fraca e traz Angelina Jolie acima do tom; g1 já viu

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Atriz que pode ser indicada ao Oscar fez preparação vocal para cantar músicas interpretadas pela diva da ópera. Filme encerra trilogia do diretor Pablo Larraín, de ‘Jackie’ e ‘Spencer’, sobre ícones femininos “Maria Callas”, filme que estreou nesta quinta-feira (16), propõe mostrar como foram os últimos dias da famosa cantora lírica que, para muitos, é a definição de diva da música clássica. Pena que o longa não está à altura da biografada, que já foi tema de várias produções. O resultado é pouco cativante.
Embora tenha qualidades — especialmente em partes técnicas como fotografia, figurino e direção de arte —, o filme peca em tornar a personagem-título uma pessoa desinteressante, com uma narrativa que não empolga o suficiente. Que dirá, então, para quem quer saber quem foi a cantora intérprete que tem uma legião de fãs até hoje.
Ambientada principalmente em Paris, na França da década de 1970, a trama acompanha Maria Callas (Angelina Jolie) em uma espécie de exílio, com apenas a companhia de seus dois empregados, Ferruccio (Pierfrancesco Favino) e Bruna (Alba Rohrwacher).
Sem se apresentar há anos, Maria decide voltar a cantar, mas enfrenta problemas com sua voz, que já não alcança as notas das óperas que interpretava no passado. Enquanto isso, ela relembra de episódios de sua vida, sobretudo do período difícil em que viveu na Segunda Guerra Mundial e de seu relacionamento problemático com o magnata grego Aristóteles Onassis (Haluk Bilginer).
Assista ao trailer do filme “Maria Callas”
Passarinho na gaiola
“Maria Callas” é o terceiro filme dirigido por Pablo Larraín sobre mulheres icônicas. Antes, ela tinha realizado “Jackie” (2016), no qual Natalie Portman interpretou Jacqueline Kennedy , e “Spencer” (2021), em que Kristen Stewart personificou a Princesa Diana. Enquanto esses longas chamaram a atenção por mostrarem de forma original e inusitada a vida dessas personalidades, a terceira e última parte dessa trilogia, infelizmente, é a mais fraca de todas.
O diretor chileno se mostra pouco inventivo aqui. Fez uma cinebiografia que é, durante boa parte, bem tradicional e sem grandes momentos marcantes, replicando uma fórmula desgastada. Há uma ou outra cena que sai do convencional, como a que Maria caminha pelos arredores da Torre Eiffel e vê pessoas cantando — inicialmente de forma amistosa e, depois, intimidadora indo em sua direção.
Maria (Angelina Jolie) se encanta por Artistotle Onassis (Haluk Bilginer) numa cena de ‘Maria Callas’
Divulgação
Para piorar, o roteiro de Steven Knight, que volta a trabalhar com Larraín após “Spencer”, é bem problemático por diversos motivos. Um deles é que ele não consegue criar um perfil mais completo sobre Callas, preferindo pular de situação para situação, sem ter uma maior coesão, o que torna superficiais algumas questões sobre a protagonista, como a relação que ela tinha com Onassis.
Outro problema está no fato de que Maria é retratada como uma pessoa arrogante e que desperta pouca compaixão pelas pessoas. Um bom exemplo disso está numa cena em que ela se recusa a mudar de área num café porque quer ser adorada pelas pessoas ao seu redor.
Além disso, pintam Maria como alguém que explorava seus empregados sempre que podia — como quando ela ordena que eles arrastem seu piano de cauda para vários cômodos, mesmo sabendo que um dos funcionários tem problemas de saúde. Essa e outras atitudes fazem com que parte do público não simpatize com ela, nem se importe com os dramas que a cantora viveu no final da vida.
Maria (Angelina Jolie) se apresenta num teatro numa cena de ‘Maria Callas’
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O roteiro também erra em criar uma situação suspeita em relação a um dos personagens do filme, como se existisse um mistério sobre ele. Porém, logo no início da história, aparece uma fácil pista sobre o seu segredo, que acaba estragando a surpresa e torna a reviravolta proposta por Knight completamente tola e inútil.
O filme também comete um grave pecado na edição de som e na própria Angelina Jolie. A atriz disse ter estudado canto lírico por meses para interpretar as canções de Callas. O objetivo inicial era “misturar” sua voz com a da diva nas cenas musicais, o que só teria acontecido mesmo na cena final.
Só que a combinação da voz de Callas com a movimentação dos lábios de Jolie nem sempre funciona, ficando evidente a falta de sincronia em algumas sequências — o que gera momentos constrangedores para quem prestar bastante atenção. Um filme sobre música não pode cometer uma falha grave dessas.
Maria (Angelina Jolie) mostra sua elegância numa cena de ‘Maria Callas’
Divulgação
Diva maior do que a vida
Mesmo com todas essas falhas, “Maria Callas” tem alguns méritos, como a belíssima fotografia assinada por Ed Lachman, que já tinha trabalhado com Larraín em seu filme anterior, “O Conde” (2023). Ele realiza um bom trabalho que ressalta tanto as locações externas quanto os cenários do filme, como os cômodos da casa da protagonista (principalmente no final). As cenas em preto e branco, que mostram o passado de Maria, também chamam atenção.
A direção de arte e os figurinos usados por Jolie, que reforçam a elegância e o charme de Callas (e também da atriz) são pontos fortes do filme. Aliás, os objetos nos cômodos da casa de Maria reforçam sua elegância.
Maria (Angelina Jolie) lembra de seu passado numa cena de ‘Maria Callas’
Divulgação
A caracterização de alguns personagens também foi muito bem realizada, em especial a que fizeram no ator Haluk Bilginer, que viveu Onassis no filme. Quem tiver curiosidade, basta olhar as imagens de arquivo que aparecem durante os créditos finais.
À frente do elenco e com um papel difícil para interpretar, Angelina Jolie não se sai tão bem. Ela procura transmitir veracidade para sua Maria Callas, especialmente nos momentos em que aparece sofrendo. Mas a sensação é que a atriz atua alguns tons acima do que deveria, com muitas caras e bocas, deixando evidente que sua atuação é aquela que parece dizer: “Por favor, me deem um Oscar”. Ela pode até ser indicada para a premiação mais popular do cinema. Mas não apresenta um trabalho consistente que fará diferença em sua carreira.
Jolie tem alguns momentos bons, no entanto. Basta prestar atenção na cena em que ela conversa com John F. Kennedy (Caspar Phillipson, que viveu o mesmo papel em “Jackie”) sobre a possível infidelidade de Onassis com Jacqueline. Na sequência, a atriz consegue passar bem a indignação e frustração que Callas sentiu ao se ver traída pelo seu amado.
Outro bom momento é quando ela se reencontra com sua irmã (Valeria Golino) e conversa sobre o dolorido passado das duas. É uma pena que Jolie não transmita tanta verdade em outras partes da história.
Angelina Jolie interpreta a diva da música clássica em ‘Maria Callas’
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O restante do elenco está competente em suas interpretações, sobretudo Pierfrancesco Favino —como o fiel mordomo de Callas —, e Kodi Smit-McPhee (de “Ataque dos Cães”) como um repórter que deseja entrevistar a cantora e acaba se tornando seu confidente. Mas todos estão a serviço de fazer Jolie brilhar em cena, o que não acontece totalmente.
“Maria Callas” tinha tudo para encerrar o projeto de Pablo Larraín sobre ícones femininos de forma mais relevante. Do jeito que ficou, infelizmente, perdeu a chance de apresentar uma das maiores divas do século para um público que não conhecia sua história. Pouco emocionante, o filme se mostra abaixo da excelência que Callas merecia. Uma pena.
Cartela resenha crítica g1
g1

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