Tecnologia
Como limitar quem pode te colocar em grupos no WhatsApp?
Aplicativo permite configurar para que apenas seus contatos possam adicioná-lo a grupos. Também é possível restringir pessoas específicas. Blog mostra o que fazer caso o WhatsApp não consiga receber e enviar informações pelo Wi-Fi.
REUTERS/Thomas White
Spams e mensagens indesejadas também estão presentes no WhatsApp. Em algumas situações, números desconhecidos podem adicionar você a grupos, mesmo sem a sua permissão.
Isso ocorreu com frequência em junho, quando muitas pessoas relataram ter sido adicionadas a grupos e comunidades do WhatsApp que promoviam o “Fortune Tiger”, conhecido como o jogo do tigrinho.
Em casos assim, a Meta, dona do WhatsApp, recomenda que os usuários configurem o aplicativo para restringir quem pode adicioná-los a grupos. Confira na arte abaixo como realizar essa configuração:
Como limitar quem pode te adicionar em grupos
Arte/g1
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Tecnologia
Rússia multa Google em valor maior do que todo dinheiro que existe no mundo todo
A soma surreal é cobrada devido a restrições aplicadas pela empresa à mídia estatal russa no YouTube. Google
Getty Images via BBC
Um tribunal russo multou o Google em dois undecilhões de rublos — um “2” seguido de 36 zeros — por restringir canais de mídia estatais russos no YouTube.
Isso é equivalente a US$ 2,5 decilhões, ou R$ 14,45 decilhões.
Apesar de ser uma das empresas mais ricas do mundo, isso é consideravelmente mais do que os US$ 2 trilhões que o Google vale.
Na verdade, é muito superior ao PIB total mundial, estimado pelo Fundo Monetário Internacional em US$ 110 trilhões.
A multa atingiu um nível tão gigantesco porque, como destacou a agência de notícias estatal Tass, o seu valor está aumentando rapidamente e constantemente.
De acordo com a Tass, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, admitiu que “não consegue nem pronunciar esse número”, mas pediu que “a administração do Google preste atenção”.
A empresa não comentou publicamente nem respondeu a um pedido de declaração da BBC.
Entenda o caso
O veículo russo RBC relatou que a multa aplicada ao Google está relacionada à restrição de conteúdo de 17 canais de mídia russos no YouTube.
Embora isto tenha começado em 2020, agravou-se após a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia, dois anos depois.
Isso fez com que a maioria das empresas ocidentais saísse da Rússia, com a realização de negócios lá também fortemente restringida por sanções.
Os meios de comunicação russos também foram proibidos na Europa — o que levou a medidas de retaliação de Moscou.
O casal que processou o Google — e ganhou R$ 14 bilhões
Google
Arnd Wiegmann/Reuters
Em 2022, a subsidiária local do Google foi declarada falida, e a empresa deixou de oferecer os seus serviços comerciais na Rússia, como publicidade.
Porém, seus produtos não são totalmente proibidos no país.
Este desdobramento é a mais recente escalada entre a Rússia e a gigante da tecnologia dos Estados Unidos.
Em maio de 2021, o regulador de mídia russo, Roskomnadzor, acusou o Google de restringir o acesso do YouTube aos meios de comunicação russos, incluindo RT e Sputnik, e de apoiar “atividades de protesto ilegais”.
Então, em julho de 2022, a Rússia multou o Google em 21,1 bilhões de rublos por não restringir o acesso ao que chamou de material “proibido” sobre a guerra na Ucrânia e outros conteúdos.
Praticamente não existe liberdade de imprensa na Rússia, com meios de comunicação independentes e a liberdade de expressão severamente restringidas.
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Tecnologia
Como usuários do X ganham milhares de dólares espalhando fake news sobre eleição dos EUA
As contas fazem parte de redes pró-Trump e pró-Harris que compartilham o conteúdo umas das outras várias vezes ao dia. As contas fazem parte de redes pró-Trump e pró-Harris que compartilham o conteúdo umas das outras várias vezes ao dia
BBC
Alguns usuários do X (antigo Twitter) que passam os dias compartilhando conteúdo que inclui desinformação eleitoral, imagens geradas por inteligência artificial (IA) e teorias de conspiração infundadas dizem que estão ganhando “milhares de dólares” pela plataforma de rede social.
A BBC identificou redes de dezenas de contas que compartilham o conteúdo umas das outras várias vezes ao dia — incluindo uma mistura de material verdadeiro, infundado, falso e forjado — para aumentar seu alcance e, portanto, a receita na plataforma.
Vários dizem que os ganhos de suas próprias contas e de outras contas variam de algumas centenas a milhares de dólares.
Eles também dizem que coordenam o compartilhamento das publicações uns dos outros em fóruns e bate-papos em grupo. “É uma forma de tentar ajudar uns aos outros”, afirmou um usuário.
Algumas destas redes apoiam Donald Trump, outras Kamala Harris — e algumas são independentes. Vários destes perfis — que dizem não estar ligados a campanhas oficiais — foram contatados por políticos dos EUA, incluindo candidatos ao Congresso, em busca de postagens de apoio.
Em 9 de outubro, o X alterou suas regras para que os pagamentos feitos para contas certificadas com alcance significativo sejam calculados de acordo com a quantidade de engajamento de usuários premium — curtidas, compartilhamentos e comentários —, em vez do número de anúncios em suas postagens.
Muitas plataformas de rede social permitem que os usuários ganhem dinheiro com suas postagens ou compartilhem conteúdo patrocinado. Mas elas geralmente têm regras que permitem desmonetizar ou suspender perfis que publicam desinformação. O X não possui diretrizes sobre desinformação nos mesmos moldes.
Embora o X tenha uma base de usuários menor que a de algumas plataformas, ele tem um impacto significativo no discurso político. Isso levanta questionamentos sobre se o X está incentivando os usuários a publicar alegações provocativas, sejam elas verdadeiras ou não, em um momento altamente sensível para a política dos EUA.
A BBC comparou os ganhos aproximados informados por alguns desses usuários do X com o valor que se esperaria que eles ganhassem, com base no número de visualizações, seguidores e interações com outros perfis, e concluiu que eles eram confiáveis.
Entre as publicações enganosas compartilhadas por algumas destas redes de perfis, estavam alegações sobre fraude eleitoral que haviam sido refutadas pelas autoridades, e alegações extremas e infundadas de pedofilia e abuso sexual contra os candidatos à presidência e vice-presidência.
Algumas postagens enganosas e falsas que se originaram no X também se espalharam para outras plataformas de rede social com um público maior, como Facebook e TikTok.
Em um exemplo, um usuário do X com poucos seguidores diz que criou uma imagem adulterada que pretendia mostrar Kamala Harris trabalhando no McDonald’s quando jovem. Em seguida, outros usuários divulgaram alegações sem provas de que o Partido Democrata estava manipulando imagens da sua candidata.
Teorias de conspiração infundadas do X sobre a tentativa de assassinato de Donald Trump, em julho, também foram propagadas em outros sites de rede social.
O X não respondeu a perguntas sobre se o site está incentivando os usuários a fazer esse tipo de publicação, nem a pedidos de entrevista com o dono da plataforma, Elon Musk.
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‘Ficou muito mais fácil ganhar dinheiro’
A base de criação de conteúdo da Freedom Uncut — onde seu fundador produz e transmite vídeos — é decorada com luzes no formato de uma bandeira americana. Free — como seus amigos o chamam — diz que é independente, mas prefere que Donald Trump se torne presidente do que Kamala Harris.
Ele conta que é capaz de passar até 16 horas por dia em sua base postando no X, interagindo com a rede de dezenas de criadores de conteúdo da qual faz parte, e compartilhando fotos geradas por inteligência artificial.
Ele não compartilha seu nome completo ou identidade real porque diz que as informações pessoais de sua família foram expostas online, levando a ameaças.
Ele não é, de forma alguma, um dos postadores mais radicais — e concordou em se encontrar comigo para explicar como essas redes operam no X.
Free diz que teve 11 milhões de visualizações nos últimos meses, desde que começou a postar regularmente sobre a eleição nos EUA. Ele mostra várias delas na tela enquanto conversamos em sua casa em Tampa, na Flórida.
O homem por trás da conta Freedom Uncut diz que pode ganhar ‘alguns milhares de dólares’ com o X
BBC
Algumas são obviamente sátiras — Donald Trump parecendo um personagem do filme Matrix enquanto afasta projéteis, ou o presidente Joe Biden como um ditador.
Outras imagens de IA são menos fantasiosas — incluindo a de uma pessoa no telhado de uma casa inundada enquanto caças de combate passam sobre ela, com o comentário: “Lembre-se de que os políticos não se importam com você em 5 de novembro”.
A imagem ecoa a alegação de Trump de que não havia “helicópteros, nenhum resgate” para as pessoas na Carolina do Norte após o furacão Helene. A alegação foi refutada pela Guarda Nacional da Carolina do Norte, que diz ter resgatado centenas de pessoas em 146 missões de voo.
Freedom Uncut afirma que vê suas imagens como “arte”, que despertam uma conversa. Ele diz que “não está tentando enganar ninguém”, mas que pode “fazer muito mais usando IA”.
Desde que seu perfil foi monetizado, ele conta que pode ganhar “alguns milhares de dólares” por mês com o X: “Acho que ficou muito mais fácil para as pessoas ganharem dinheiro”.
Ele acrescenta que alguns usuários que ele conhece estão ganhando mais de cinco dígitos — e afirma que pode confirmar isso ao ver o alcance de suas postagens: “É nesse ponto que isso realmente se torna um trabalho”.
Ele diz que são as coisas “polêmicas” que tendem a ter mais visualizações — e compara isso à mídia tradicional “sensacionalista”.
Freedom Uncut publica imagens geradas por IA, muitas vezes satíricas, em apoio a Donald Trump ou criticando os democratas
BBC
Embora ele publique “coisas provocativas”, ele diz que “geralmente são baseadas em alguma versão da realidade”. Mas ele sugere que outros perfis que ele vê gostam de compartilhar publicações que sabem não ser verdadeiras. Isso, segundo ele, é uma “forma fácil de ganhar dinheiro”.
Freedom Uncut rejeita as preocupações sobre as declarações falsas que influenciam a eleição, alegando que o governo “espalha mais desinformação do que o resto da internet combinada”.
Ele também diz que é “muito comum” que políticos locais entrem em contato com contas como a dele no X para obter apoio.
E conta que alguns deles conversaram com ele sobre a possibilidade de aparecer em suas transmissões ao vivo, e falaram com ele sobre a possibilidade dele criar para eles e compartilhar com ele, imagens de IA e artes.
Será que alguma destas postagens — enganosas ou não — podem ter um impacto tangível nesta eleição?
“Acho que você já está vendo isso atualmente. Acho que muito do apoio a Trump vem disso”, ele diz.
Na opinião de Free, há “mais confiança na mídia independente” — incluindo contas que compartilham imagens geradas por IA e desinformação —, do que em “algumas empresas de mídia tradicionais”.
‘Não há como chegar à verdade’
No confronto direto com as contas pró-Trump descritas por Freedom Uncut, estão perfis como o de Brown Eyed Susan, que tem mais de 200 mil seguidores no X.
Ela faz parte de uma rede de contas “obstinadas” que publicam conteúdo várias vezes a cada hora em apoio à candidata democrata Kamala Harris. Embora use seu primeiro nome, ela não compartilha seu sobrenome devido a ameaças e abusos que recebeu online.
Falando comigo de Los Angeles, Susan diz que nunca teve a intenção de começar a ganhar dinheiro com suas postagens — ou que o alcance de sua conta “explodisse”. Às vezes, ela posta e compartilha novamente mais de 100 mensagens por dia — e suas postagens individuais alcançam muitas vezes mais de 2 milhões de usuários cada.
Ela diz que só ganha dinheiro com suas postagens porque recebeu um selo azul de verificação, que marca usuários da versão paga do site e algumas contas de destaque.
“Eu não pedi por isso. Não posso esconder, e não posso devolver. Então cliquei em monetizar”, ela me conta, estimando que pode ganhar algumas centenas de dólares por mês.
Susan disse à BBC em uma videochamada que a rede de contas com as quais ela interage amplifica as postagens umas das outras para ajudar Kamala Harris a vencer a eleição
BBC
Além de postar sobre política, algumas de suas postagens mais virais — com mais de três milhões de visualizações — promoveram teorias da conspiração infundadas e falsas, sugerindo que a tentativa de assassinato, em julho, foi encenada por Donald Trump
Ela reconhece que um membro da multidão e o atirador foram mortos, mas diz que tem dúvidas genuínas sobre o ferimento de Trump, as falhas de segurança e se o incidente foi devidamente investigado.
“Não há como chegar à verdade disso. E se eles quiserem chamar de conspiratório, eles podem”, diz ela.
Susan também compartilha memes, alguns dos quais usam inteligência artificial, visando o candidato republicano. Vários exemplos mais convincentes fazem com que ele pareça mais velho ou doente. Ela diz que eles “ilustram sua condição atual”.
Outros o mostram parecendo um ditador. Ela afirma que todas as suas imagens são fakes “óbvios”.
Assim como Freedom Uncut, ela diz que políticos, inclusive candidatos ao Congresso, entraram em contato com ela para pedir apoio, e ela afirma que tenta “espalhar o máximo de conscientização” possível sobre eles.
‘Eles querem que seja real’
Após uma discussão sobre se Kamala Harris já trabalhou no McDonald’s, uma imagem adulterada dela usando o uniforme da rede de fast food foi compartilhada no Facebook por seus apoiadores — e viralizou.
Quando algumas contas pró-Trump perceberam que era uma foto editada de uma mulher diferente usando o uniforme, isso desencadeou acusações infundadas de que a imagem tinha vindo do próprio Partido Democrata.
Uma conta chamada “The Infinite Dude” no X pareceu ser a primeira a compartilhar a imagem com a legenda: “Isso é falso”.
A pessoa por trás da imagem me disse que seu nome é Blake, e que ele a compartilhou isso como parte de um experimento. Seu perfil não tem tantos seguidores quanto as outras contas com as quais tenho conversado.
Quando pedi evidências de que ele havia adulterado a imagem, ele me disse que tinha “os arquivos originais e os registros de data e hora de criação”, mas não os compartilhou comigo, pois disse que as provas não importam.
“As pessoas compartilham conteúdo não porque é real, mas porque querem que seja real. Ambos os lados fazem isso igualmente — eles apenas escolhem histórias diferentes para acreditar”, diz ele.
Blake diz que adulterou esta imagem para fazer parecer que Kamala Harris estava usando um uniforme do McDonald’s na juventude
BBC
Sua fidelidade política não está clara — e ele diz que “não se trata de política”.
O X afirma online que sua prioridade é proteger e defender a voz do usuário. O site adiciona rótulos de mídia manipulada a alguns vídeos, áudios e imagens gerados por IA e adulterados. Também possui um recurso chamado Notas da Comunidade, que faz a verificação de fatos por meio da colaboração coletiva dos usuários.
Durante a eleição no Reino Unido, o X tomou medidas sobre uma rede de contas que compartilhavam vídeos falsos que eu investiguei.
Na campanha eleitoral dos EUA, no entanto, não recebi nenhuma resposta às minhas perguntas ou solicitações para entrevistar Elon Musk.
Isso é importante, porque empresas de rede social como a dele podem afetar o que acontece quando os eleitores vão às urnas.
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Tecnologia
O 'serviço de emergência' no fundo do oceano que mantém a internet funcionando
99% das comunicações digitais do mundo dependem de cabos submarinos. Quando eles se rompem, isso pode significar um desastre para a internet de um país inteiro. Mas como consertar uma falha no fundo do oceano? Toda a extensão dos cabos submarinos pelo mundo seria suficiente para dar uma volta ao redor do Sol
Getty Images
Pouco depois das 17h do dia 18 de novembro de 1929, o chão começou a tremer.
Ao longo da costa da Península de Burin, ao sul da ilha de Terra Nova, no Canadá, um terremoto de magnitude 7,2 perturbou a paz daquela noite. Inicialmente, os moradores notaram apenas alguns danos — algumas chaminés derrubadas.
No mar, no entanto, uma força invisível estava se movendo. Por volta de 19h30, um tsunami de 13 metros de altura atingiu a costa da Península de Burin. No total, 28 pessoas morreram em decorrência de afogamentos ou ferimentos causados pelas ondas.
O terremoto foi devastador para as comunidades locais, mas também teve um efeito duradouro no mar. O abalo sísmico desencadeou um deslizamento de terra submarino.
As pessoas não perceberam isso na época, sugerem os registros históricos, porque ninguém sabia que tais deslizamentos de terra subaquáticos existiam.
Quando os sedimentos são agitados por terremotos e outras atividades geológicas, a água fica mais densa, gerando um fluxo descendente, como uma avalanche de neve montanha abaixo. O deslizamento de terra submarino — chamado corrente de turbidez — fluiu a mais de 1.000 km de distância do epicentro do terremoto, a uma velocidade entre 11 e 128 km/h.
Embora o deslizamento de terra não tenha sido notado na época, deixou uma pista reveladora. Na sua rota, estava o que havia de mais moderno em tecnologia de comunicação da época: cabos submarinos transatlânticos. E esses cabos se romperam. Doze deles foram partidos em 28 lugares no total.
Algumas das 28 rupturas aconteceram quase simultaneamente com o terremoto. Mas outras 16 ocorreram ao longo de um período muito mais longo, à medida que os cabos se rompiam um após o outro, em uma espécie de padrão misterioso de ondas, de 59 minutos após o terremoto até 13 horas e 17 minutos depois, e a mais de 500 quilômetros de distância do epicentro.
Se todos tivessem sido rompidos pelo terremoto em si, os cabos teriam se rompido ao mesmo tempo — então os cientistas começaram a se perguntar: por que não se romperam? Por que se romperam um após o outro?
Só em 1952 que os pesquisadores descobriram por que os cabos se romperam em sequência, ao longo de uma área tão grande e em intervalos que pareciam diminuir com a distância do epicentro. Eles descobriram que um deslizamento de terra os atingiu, e que os cabos que se rompiam traçaram seu movimento pelo fundo do mar.
Até então, ninguém sabia da existência das chamadas correntes de turbidez.
Como esses cabos se romperam e havia um registro do momento em que se partiram, eles ajudaram a entender os movimentos oceânicos acima e abaixo da superfície. Eles motivaram um trabalho de reparo complexo, mas também se tornaram instrumentos científicos acidentais, registrando um fenômeno natural fascinante que estava fora do alcance da vista humana.
Nas décadas seguintes, à medida que a rede global de cabos de águas profundas se expandiu, seu reparo e manutenção resultaram em outras descobertas científicas surpreendentes, abrindo mundos totalmente novos, e nos permitindo espiar o fundo do mar como nunca antes, além de nos permitir comunicar em velocidade recorde.
Ao mesmo tempo, nossa vida cotidiana, rendimentos, saúde e segurança também se tornaram cada vez mais dependentes da internet — e, em última análise, desta complexa rede de cabos submarinos. Mas, afinal, o que acontece quando eles se rompem?
Como nossos dados trafegam
Há 1,4 milhão de quilômetros de cabos de telecomunicações no fundo do mar, abrangendo todos os oceanos do planeta.
Estendidos de uma extremidade à outra, estes cabos — responsáveis pela transferência de 99% de todos os dados digitais — poderiam dar uma volta ao redor do Sol. Mas para algo tão importante, são surpreendentemente finos — muitas vezes, com pouco mais de 2 cm de diâmetro, ou aproximadamente a largura de uma mangueira.
Uma repetição do rompimento de cabos em massa de 1929 teria impactos significativos na comunicação entre a América do Norte e a Europa.
No entanto, “em grande parte, a rede global é notavelmente resistente”, diz Mike Clare, consultor ambiental marinho do Comitê Internacional de Proteção de Cabos, que pesquisa os impactos de eventos extremos em sistemas submarinos.
“Há de 150 a 200 casos de danos à rede global a cada ano. Portanto, se compararmos com 1,4 milhão de quilômetros, não é muito e, na maioria das vezes, quando esses danos ocorrem, eles podem ser consertados com relativa rapidez.”
Mas como a internet funciona com cabos tão finos e evita panes desastrosas?
Os cabos submarinos têm a espessura de uma mangueira, para fácil instalação e reparo
Getty Images
Desde que os primeiros cabos transatlânticos foram instalados no século 19, eles têm sido expostos a eventos ambientais extremos, desde erupções vulcânicas submarinas até tufões e inundações. Mas a principal causa dos danos que sofrem não é natural.
A maioria das falhas — de 70 a 80%, dependendo do lugar no mundo — está relacionada a atividades humanas acidentais, como lançar âncoras ou redes de pesca de arrasto, que acabam ficando presas nos cabos, diz Stephen Holden, chefe de manutenção da Europa, Oriente Médio e África na Global Marine, uma empresa de engenharia submarina que atua na reparação de cabos submarinos.
Em geral, estes acidentes acontecem em profundidades de 200 a 300 metros (mas a pesca comercial está avançando para águas cada vez mais profundas, em alguns lugares, chegando a 1.500 metros no nordeste do Atlântico).
Somente de 10% a 20% das falhas nos cabos a nível mundial estão relacionadas a ameaças naturais e, na maioria das vezes, estão relacionadas ao desgaste dos cabos em locais onde as correntes fazem com que eles resvalem contra as rochas, causando o que é chamado de “falhas de derivação”, diz Holden.
A ideia de que os cabos se rompem porque são mordidos por tubarões é hoje uma espécie de lenda urbana, acrescenta Clare.
“Houve casos de danos causados por mordidas de tubarões, mas isso já acabou, porque a indústria dos cabos utiliza uma camada de Kevlar (tipo de fibra sintética) para reforçá-los.”
No entanto, os cabos devem ser mantidos finos e leves em águas mais profundas para ajudar na recuperação e no reparo. Transportar um cabo grande e pesado ao longo de milhares de metros abaixo do nível do mar colocaria uma enorme pressão sobre ele. Os cabos mais próximos da costa tendem a ser mais blindados, porque têm mais chance de serem danificados por redes de pesca e âncoras.
Um exército de navios de reparo a postos
Os cabos subaquáticos podem ser consertados em períodos curtos de tempo, que podem levar até duas semanas
Getty Images
Se uma falha for encontrada, um navio de reparo é enviado.
“Todas essas embarcações estão estrategicamente posicionadas ao redor do mundo para que o trajeto entre a base e o porto seja de 10 a 12 dias”, explica Mick McGovern, vice-presidente adjunto de operações marítimas da Alcatel Submarine Networks.
“Você tem esse tempo para descobrir onde está a falha, carregar os cabos [e os] amplificadores de sinal” — que aumentam a força de um sinal à medida que ele trafega pelos cabos.
“Em essência, quando você pensa no tamanho do sistema, não é preciso esperar muito”, ele acrescenta.
Embora tenha demorado nove meses para consertar o último cabo submarino danificado pelo terremoto de 1929, McGovern diz que um reparo moderno em águas profundas deve levar uma ou duas semanas, dependendo da localização e do clima.
“Quando você pensa na profundidade da água e onde está, não é uma solução ruim.”
Isso não significa que um país inteiro vai ficar sem internet por uma semana. Muitas nações possuem mais cabos e mais largura de banda dentro desses cabos do que a quantidade mínima exigida, de modo que, se alguns forem danificados, os outros possam compensar. Isso é chamado de redundância no sistema.
Devido a essa redundância, a maioria de nós nunca perceberia se um cabo submarino fosse danificado — talvez este artigo demorasse um ou dois segundos a mais para carregar do que o normal.
Em eventos extremos, pode ser a única coisa que mantém um país online.
O terremoto de magnitude 7 na costa de Taiwan, em 2006, rompeu dezenas de cabos no Mar do Sul da China — mas alguns permaneceram online.
Muitos países possuem cabos adicionais para evitar depender da estabilidade de uma única área geográfica
Getty Images
Para reparar o dano, o navio utiliza um arpéu, ou gancho, para levantar e cortar o cabo, puxando uma extremidade solta até a superfície, e enrolando-a na proa com grandes tambores motorizados.
A parte danificada é então arrastada até uma sala interna e analisada em busca de falhas, reparada, testada (enviando um sinal para terra firme a partir do barco), selada e, em seguida, presa a uma boia enquanto o processo é repetido na outra extremidade do cabo.
Uma vez que as duas extremidades são consertadas, cada fibra óptica é emendada sob microscópio para garantir que haja uma boa conexão — e, na sequência, são vedadas com uma junta universal que é compatível com o cabo de qualquer fabricante, facilitando a vida das equipes de reparo internacionais, explica McGovern.
Os cabos reparados são colocados de volta na água e, em águas mais rasas, onde pode haver mais tráfego de barcos, são enterrados em valas. Veículos subaquáticos operados remotamente (ROV, na sigla em inglês), equipados com jatos de alta potência, podem abrir trilhas no fundo do mar para a instalação dos cabos.
Em águas mais profundas, o trabalho é feito por arados equipados com jatos, arrastados ao longo do leito marinho por grandes embarcações de reparo acima.
Alguns arados pesam mais de 50 toneladas e, em ambientes extremos, são necessários equipamentos ainda maiores.
McGovern se lembra de um trabalho no Oceano Ártico, que exigiu que um navio arrastasse um arado de 110 toneladas, capaz de enterrar cabos de 4 metros e penetrar no permafrost.
Ouvidos no fundo do mar
As rupturas geralmente acontecem em águas de pouca profundidade, quando os barcos ancoram em áreas onde não sabem que há cabos
Getty Images
A instalação e o reparo dos cabos levaram a algumas descobertas científicas surpreendentes — a princípio de forma acidental, como no caso dos cabos rompidos e do deslizamento de terra, e mais tarde, intencionalmente, quando os cientistas começaram a usar os cabos de propósito como ferramentas de pesquisa.
Essas lições das profundezas do mar começaram quando os primeiros cabos transatlânticos foram instalados no século 19.
Os operadores de cabos notaram que o Oceano Atlântico ficava mais raso no meio, descobrindo sem querer a cordilheira Dorsal Mesoatlântica.
Hoje, os cabos de telecomunicações podem ser usados como “sensores acústicos” para detectar baleias, barcos, tempestades e terremotos em alto mar.
Os danos causados aos cabos oferecem à indústria “uma nova compreensão fundamental sobre os perigos que existem no fundo do mar”, diz Clare.
“Nunca saberíamos que havia deslizamentos de terra no fundo do mar após erupções vulcânicas se não fosse pelos danos causados (nos cabos)”.
Em alguns lugares, as mudanças climáticas estão tornando as coisas mais desafiadoras. As inundações na África Ocidental estão causando um aumento no deságue de sedimentos dos cânions no Rio Congo, que ocorre quando grandes volumes de sedimentos fluem para um rio após uma inundação. Estes sedimentos são então despejados da foz do rio no Oceano Atlântico, e podem danificar os cabos.
“Agora sabemos que devemos colocar os cabos mais longe do estuário”, diz McGovern.
Os cabos de águas profundas também podem ser usados como instrumentos científicos
Getty Images
Alguns danos serão inevitáveis, preveem os especialistas.
A erupção vulcânica do Hunga Tonga-Hunga Ha’apai, em 2021 e 2022, destruiu o cabo submarino de internet que conectava a nação insular de Tonga, no Pacífico, ao resto do mundo.
Levou cinco semanas até a conexão com a internet voltar a funcionar totalmente, embora alguns serviços tenham sido restabelecidos após uma semana.
No entanto, muitos países contam com vários cabos submarinos, o que significa que uma falha — ou até mesmo várias falhas — pode não ser percebida pelos usuários da internet, pois a rede pode recorrer a outros cabos em uma crise.
“Isso realmente mostra por que é necessário haver uma diversidade geográfica das rotas de cabo”, acrescenta Clare.
“Especialmente no caso das ilhas pequenas, em lugares como o Pacífico Sul, onde há tempestades tropicais, terremotos e vulcões, elas são particularmente vulneráveis e, com as mudanças climáticas, diferentes áreas estão sendo afetadas de maneiras diferentes.”
À medida que a pesca e o transporte marítimo se tornam mais sofisticados, pode ficar mais fácil evitar danos aos cabos.
O advento do sistema de identificação automática (AIS, na sigla em inglês) no transporte marítimo levou a uma redução nos danos causados pela ancoragem, diz Holden, porque algumas empresas agora oferecem um serviço em que é possível seguir um padrão definido para reduzir a velocidade e ancorar.
No entanto, em regiões do mundo onde os barcos de pesca tendem a ser menos sofisticados e operados por equipes menores, os danos provocados pelas âncoras ainda acontecem.
Nesses locais, uma opção é informar às pessoas onde estão os cabos, e aumentar a conscientização, afirma Clare.
“É para o benefício de todos que a internet continue funcionando.”
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