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A amizade de estrelas do atletismo que desafiou o nazismo
Em 1936, um gesto instintivo de esportividade entrou para o folclore olímpico. Mas, para o atleta Luz Long, campeão alemão de salto em distância, aquela atitude traria fortes consequências. A confraternização entre os atletas concorrentes Luz Long (esq.) e Jesse Owens (dir.) marcou a final do salto em distância dos Jogos Olímpicos de Berlim, na Alemanha, em 1936.
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Em 1936, um gesto instintivo de esportividade entrou para o folclore olímpico. Mas, para o atleta Luz Long (1913-1943), campeão alemão de salto em distância, ele traria fortes consequências.
Quando Jesse Owens (1913-1980) superou a marca dos oito metros para garantir a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Berlim, na Alemanha, seu principal adversário – Long – saltou até a caixa de areia, para abraçá-lo e dar os parabéns.
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Mais tarde, em surpreendente contradição à noção distorcida de supremacia ariana da Alemanha nazista e décadas antes do movimento dos direitos civis trazer mudanças radicais para os Estados Unidos, os dois atletas deram uma volta ao estádio juntos. O atleta negro e o colega branco correram de braços dados.
Mas nem todos aplaudiram. No alto das bancadas, o líder alemão Adolf Hitler (1889-1945) assistia com desaprovação.
Quando chegaram ao pódio, Long ofereceu a obrigatória saudação nazista, enquanto Owens saudava a bandeira dos Estados Unidos – um país que ainda não estava pronto para aceitá-lo totalmente como um de seus cidadãos.
Os dois atletas não tinham a menor ideia do que viria em seguida.
Os atletas alemães que subiram ao pódio nos Jogos Olímpicos de Berlim eram obrigados a fazer a saudação nazista.
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Ambos nascidos em 1913, Owens e Long estavam no auge da forma física quando se encontraram em Berlim. Mas as similaridades terminavam ali. A jornada de cada um deles até os Jogos Olímpicos, desde o princípio, foi totalmente oposta.
Owens foi um ícone do século 20 e sua história foi contada inúmeras vezes. Ele era neto de pessoas escravizadas e o mais jovem dos dez filhos de uma família de arrendatários de terras do Alabama, nos Estados Unidos.
Quando era criança, ele colheu algodão junto com seus irmãos. Mas suas capacidades atléticas ficaram claras assim que a família se mudou para Cleveland, no Estado americano de Ohio.
Owens entrou na escola com nove anos de idade. Ele era conhecido como JC – abreviação do seu nome real, James Cleveland. Mas seu professor entendeu errado e o registrou como Jesse. O apelido ficou.
Owens ganhou uma bolsa de atleta para cursar a Universidade Estadual de Ohio. Lá, sob a tutela do técnico Larry Schnyder, ele se tornou um dos maiores velocistas que o mundo já conheceu.
Em um encontro de atletismo na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, em 1935, Owens quebrou três recordes mundiais e igualou um quarto, em um intervalo de uma hora. Sua marca de 8,13 metros no salto em distância permaneceria sem ser superada por 25 anos.
Ao contrário do seu rival, Long teve uma criação privilegiada na Alemanha. Ele nasceu em uma família de classe média na cidade de Leipzig.
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Seu pai, Karl, era dono de uma farmácia no centro da cidade, enquanto sua mãe, Johanna, era professora de inglês formada. Ela vinha de uma respeitada família acadêmica, que inclui o cientista Justus von Liebig (1803-1873), conhecido como um dos fundadores da química orgânica.
Seu nome completo era Carl Ludwig Hermann Long. Luz Long cresceu com seus quatro irmãos na zona rural, fora da cidade. Eles organizavam campeonatos familiares de atletismo no grande jardim da casa.
Long entrou para o Leipzig Sport Club em 1928. Lá, seu técnico Georg Richter o ajudou a desenvolver uma técnica de navegar no ar usando sua força para saltar – ao contrário de Owens, que aproveitou sua velocidade para correr.
A parceria de Long com Richter teve sucesso. O atleta quebrou o recorde alemão de salto em distância em 1933 e foi campeão nacional com apenas 20 anos de idade.
E, apenas dois meses antes dos Jogos Olímpicos de Berlim, Long estabeleceu um novo recorde europeu de salto em distância, de 7,82 m, durante a disputa que levou ao seu terceiro título nacional alemão.
Jesse Owens (esq.) e Luz Long (dir.) adotaram diferentes estilos de salto em distância durante as provas dos Jogos Olímpicos de 1936.
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Enquanto construíam sua trajetória nas pistas, Owens e Long enfrentavam o cenário político existente fora delas.
Nos Estados Unidos, crescia a pressão para boicotar os Jogos de Berlim, em vista das histórias sobre o tratamento do povo judeu na Alemanha com o novo regime nazista.
Inicialmente, Owens apoiou as mobilizações pelo boicote aos Jogos. Ele declarou à Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor que “se houver qualquer minoria na Alemanha sendo discriminada, os Estados Unidos devem se retirar”.
Mas ele acabou concordando em competir, depois dos apelos do seu técnico e das garantias recebidas do Comitê Olímpico Americano, que enviou uma delegação para a Alemanha, a fim de avaliar as condições e discutir a política dos anfitriões em relação à participação de atletas judeus nos Jogos.
‘Sem consciência racial’
Enquanto isso, a pressão política do Estado alemão sobre os atletas do país aumentava.
“Os atletas eram representantes do Reich Alemão, dentro e fora das pistas, não pessoas individuais”, afirma a única neta de Luz Long, Julia Kellner-Long.
A ascensão de Long à equipe nacional veio em 1933, o mesmo ano em que Hitler foi nomeado chanceler da Alemanha.
Na improvável hipótese de que Long não soubesse o que era esperado dele, um pôster no campo de treinamento deixava tudo muito claro: “Atletas do campo e das pistas, pensem nos Jogos Olímpicos de 1936. Não podemos desapontar nosso líder Adolf Hitler.”
Faixa no campo de treinamento da equipe olímpica da Alemanha relembrava aos atletas a importância política da Olimpíada: “Atletas do campo e das pistas, pensem nos Jogos Olímpicos de 1936. Não podemos desapontar nosso líder Adolf Hitler.”
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Hitler estava presente no Estádio Olímpico de Berlim quando Owens e Long competiram em uma das maiores finais do salto em distância da história das Olimpíadas modernas.
Após uma intensa disputa, Long igualou a marca de Owens, de 7,87 metros, na sua penúltima tentativa, para delírio da torcida local.
Mas Owens conseguiu o seu melhor quando mais precisava. Ele respondeu saltando 7,94 metros, passando à frente de Long mais uma vez.
Long falhou na sua última tentativa. Mas seu desempenho trouxe a medalha de prata – a primeira medalha olímpica da Alemanha no salto em distância.
Com o ouro já garantido, Owens fez ainda mais história com seu salto final de 8,06 metros, estabelecendo um recorde olímpico que duraria 24 anos.
Foi quando Long colocou sua própria desilusão de lado e, instintivamente, saltou para a caixa de areia para felicitar o vencedor.
Fixo naquele momento, sozinho naquele abraço, enquanto uma multidão de mais de 100 mil pessoas assistia à cena, Owens confidenciou para o adversário: “Você me forçou a dar o meu melhor.”
Naquela final, Owens e Long quebraram o recorde olímpico anterior cinco vezes.
“É quase como um conto de fadas – saltar tão longe neste tempo”, declarou Long em entrevista ao jornal da sua cidade natal, o Neue Leipziger Zeitung.
“Não pude evitar. Eu corri até ele. Fui o primeiro a dar os parabéns e abraçá-lo.” Mas a reação impulsiva de Long chamou a atenção das autoridades alemãs.
Logo depois dos Jogos Olímpicos, sua mãe, Johanna, anotou no seu diário um alerta feito por Rudolf Hess (1894-1987), então vice-líder do partido nazista alemão.
Segundo ela, Long havia “recebido uma ordem da mais alta autoridade” de nunca mais abraçar uma pessoa negra. Ele foi marcado como “sem consciência racial” pelo regime nazista.
O abraço claramente enfureceu os nazistas. Eles costumavam usar imagens poderosas para promover sua ideologia e receavam que a amizade entre Owens e Long pudesse prejudicar sua propaganda.
E, neste ponto, eles estavam certos. Quase 90 anos depois, a amizade de Owen e Long é um dos episódios mais lembrados da história dos Jogos Olímpicos.
“Aquele gesto de gentileza e igualdade tocou os corações de muitas pessoas”, afirma Kellner-Long.
“Juntos, Luz e Jesse usufruíram de uma amizade única naquele dia, demonstrando ao mundo que, no esporte e na vida, amizade e respeito são o mais importante, independentemente dos antecedentes ou da cor da pele.”
O neto de Owens, Stuart Rankin, também se impressiona com o significado daquele gesto.
“Costumo dizer que, de todas as conquistas do meu avô nos Jogos Olímpicos de 1936, sua improvável amizade com Luz Long é o que me dá mais orgulho e mais me impressiona”, segundo ele.
“Eles terem formado aquela amizade, naquelas condições, naquelas circunstâncias, naquele estádio, em frente a Hitler, foi simplesmente fenomenal.”
Owens (dir.) atribuiu a Long (esq.) o impulso para melhorar sua preparação, depois de enfrentar dificuldades nas eliminatórias.
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Aquela seria a única vez em que Owens e Long competiriam entre si.
Após a vitória no salto em distância e já tendo vencido os 100 metros, Owens seguiu para acrescentar os 200 metros e o revezamento 4×100 metros, levando para casa quatro medalhas de ouro da capital da Alemanha.
Mas ele enfureceu as autoridades ao se recusar a competir em um encontro na Suécia logo após os Jogos Olímpicos. Ele voltou para casa, aproveitando a fama recém-adquirida e uma série de oportunidades comerciais.
Sua decisão faria com que Owens fosse proibido de competir pela União Americana de Atletismo, o que acabou encerrando sua carreira esportiva.
Owens foi recebido como herói em uma cerimônia especial de boas-vindas em Nova York, nos Estados Unidos. Mas um incidente ocorrido em uma festa em sua homenagem no hotel Waldorf Astoria demonstrou que nada havia mudado.
Na chegada ao hotel, um porteiro retirou Owens do lobby e o levou para uma entrada lateral, que era destinada aos fornecedores e pessoas negras. A entrada de serviço foi um duro lembrete da divisão e do preconceito racial enraizados no coração da sociedade americana.
Jesse Owens foi recebido como herói ao voltar para os Estados Unidos – mas precisou usar a entrada de serviço do hotel Waldorf Astoria, em Nova York, para participar de uma festa em sua homenagem.
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Long deixou Berlim como medalhista de prata olímpico, campeão nacional e dono do recorde europeu de salto em distância. Ele ampliaria sua marca para 7,90 metros no ano seguinte, um recorde que permaneceria até 1956.
Mas ele não conseguiu escapar das suspeitas e investigações.
“O abraço de Luz na caixa de areia teve consequências”, segundo Kellner-Long. “Ele foi monitorado mais de perto pelas autoridades, o que o forçou a pisar com mais cuidado e manter um perfil mais discreto.”
Long não voltaria a competir após o início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Ele se concentrou na sua carreira de advogado.
Seu irmão mais novo, Heinrich, morreu em combate. Long ficou devastado.
Ele se casou com Gisela em 1941 e o casal teve um filho em novembro do mesmo ano – o pai de sua neta, Julia. Ele recebeu o nome de Kai Heinrich, em homenagem ao irmão de Long.
Long já havia então sido convocado pelos militares. Inicialmente, suas tarefas estavam fora da linha de combate.
Mas, em 1943, ele foi enviado para a Sicília, na Itália, com o 10º Regimento de Paraquedistas. Um mês depois, ele enviaria sua última carta para a esposa. Na época, ela estava no final da gravidez do segundo filho do casal, Wolfgang Matthias.
“Na carta, Luz descreveu o acampamento em tendas, em uma bela campina florida rodeada por montanhas”, conta Kellner-Long. “Um ambiente de paz. Foi a sua última comunicação com a família.”
“No dia seguinte, 30 de maio de 1943, Wolfgang nasceu. Infelizmente, Luz nunca o conheceu.”
As forças aliadas desembarcaram na Sicília no dia 10 de julho de 1943, como parte de uma operação de liberação da Itália. E, quatro dias, depois, Long foi atingido por estilhaços na perna, enquanto as forças alemãs se retiravam, e sangrou até a morte.
Em 30 de julho, Gisela recebeu a notificação de que seu marido havia desaparecido em combate e considerado morto.
Os detalhes só foram confirmados sete anos depois, quando seu túmulo foi encontrado na seção alemã de honra do cemitério militar americano em Gela, na Itália.
Owens preferiu não se alistar para o serviço militar durante a guerra, nem foi convocado. Mas, como foi banido das competições oficiais de atletismo e com as ofertas comerciais rapidamente desaparecendo, ele precisou encontrar formas menos ortodoxas de sustentar sua família.
Ele desafiava corredores locais, dando uma vantagem de 9 ou 18 metros na largada. Ainda assim, ele os ultrapassava com facilidade e ganhava prêmios em dinheiro.
Quando não havia adversários humanos, Owens corria contra motocicletas, carros e cavalos.
“As pessoas dizem que era humilhante para um campeão olímpico correr contra um cavalo”, dizia Owens, “mas o que eu poderia fazer? Eu tinha quatro medalhas de ouro, mas você não pode comer quatro medalhas de ouro.”
Depois de alternar diversos trabalhos humildes, a situação começou a melhorar para Owens nos anos 1950, quando ele conseguiu emprego como palestrante motivacional.
Ele fundou sua própria empresa de relações públicas e se tornou uma figura procurada, viajando pelo mundo como embaixador esportivo.
O encontro das famílias
Durante uma viagem à Alemanha, em 1951, com a equipe de basquete do Harlem Globetrotters, Owens procurou a família de Long. Ele conheceu Kai Heinrich e o levou para o jogo de basquete em Hamburgo, como convidado de honra.
Em 1964, Kai fez parte de um documentário, intitulado Jesse Owens Retorna a Berlim. Nele, os dois recriaram a foto de Owens e Long reclinados ao lado da pista do Estádio Olímpico.
“Kai admirava muito Jesse – seu carisma, sua modéstia, seu dom natural e seu sucesso como atleta”, relembra Kellner-Long.
Owens recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade em 1976. Ele morreria quatro anos depois, aos 66 anos de idade, de câncer do pulmão.
Em 1990, foi concedida a ele postumamente a Medalha de Ouro do Congresso dos Estados Unidos. E, em 2016, o presidente americano Barack Obama convidou os parentes de Owens para uma recepção na Casa Branca – a mesma que foi negada a ele e aos demais membros negros da equipe olímpica americana de 1936, após os Jogos de Berlim.
A esposa de Jesse Owens, Ruth, deu continuidade ao seu legado, dirigindo a Fundação Jesse Owens. Ela passou o bastão para suas filhas Gloria, Marlene e Beverly – e, mais recentemente, para seus cinco netos.
As famílias Long e Owens permaneceram em contato ao longo dos anos. Julia Kellner-Long e uma das netas de Owens, Gina, acenderam a chama olímpica em uma cerimônia especial no Estádio Olímpico de Berlim, em 2004.
E, com Marlene Dortch, outra neta de Owens, ela apresentou as medalhas do salto em distância durante o Campeonato Mundial de Atletismo de 2009, também em Berlim.
Kellner-Long e Stuart Rankin se tornariam amigos próximos depois de um encontro casual em Munique, na Alemanha, em 2012. Recentemente, eles trabalharam juntos em um documentário sobre seus avôs.
“A relação entre as famílias significa muito para mim e tenho orgulho da nossa ligação”, declarou Kellner-Long.
“Julia e eu brincamos com frequência, pensando nos nossos dois avôs olhando para baixo e sorrindo, muito felizes pelas famílias ainda estarem ligadas, apesar dos anos”, acrescenta Rankin.
A amizade entre as famílias Owens e Long, mantida com carinho pelos dois lados na vida real, não impediu que essa conexão valiosa ganhasse vida própria na internet.
Um mito frequentemente repetido envolve uma carta emocionada que Long teria escrito para Owens, das “areias secas e sangue úmido” do norte da África. A carta pede que Owens retorne à Alemanha se Long não conseguisse voltar para casa, para encontrar seu filho.
Uma das linhas diz: “Diga a ele, Jesse, como era o tempo em que não estávamos separados pela guerra, conte a ele como tudo pode ser entre os homens nesta terra.”
Extremamente comovente, mas quase com certeza inverídico. Long nunca serviu no norte da África, nenhuma das famílias nunca viu essa carta e ambas questionam a probabilidade e a logística dela ter sido escrita e enviada.
Mas Kellner-Long compreende a poderosa mensagem que a sua história continua a trazer para as pessoas.
“Ela oferece esperança e inspiração para as pessoas de todo o mundo”, afirma ela. “Em tempos em que o racismo e a exclusão infelizmente ainda prevalecem, esta história é mais relevante do que nunca.”
“Acho que o exemplo de espírito esportivo demonstrado por Luz deve ser preservado e estimulado para sempre”, segundo Rankin.
“Meu avô certamente nunca teria previsto sua relação com Luz, mas o acontecimento forneceu uma perspectiva de esperança ao meu avô e, certamente, para mim, de que as tendências de toda uma nação não significam que todos os cidadãos daquela nação sejam iguais.”
“A resistência e o caráter de Luz são quase indescritíveis, mas eles demonstram como você ainda consegue encontrar o bem no mais improvável dos lugares.”
Mundo
Rússia diz que fez testes de disparos de mísseis no Mediterrâneo oriental; Ucrânia testa novo míssil nacional
Teste incluiu mísseis hipersônicos, segundo comunicado do ministério da Defesa russo. Tensões entre Rússia e potências ocidentais se acirraram nas últimas semanas com permissão para uso de mísseis de longo alcance americanos e britânicos na guerra. Fragata da Marinha russa dispara um míssil hipersônico antinavio Zircon durante teste na parte oriental do Mar Mediterrâneo em 3 de dezembro de 2024.
Ministério da Defesa da Rússia
A Rússia disse nesta terça-feira (3) que fez testes envolvendo disparos de mísseis, alguns deles hipersônicos, no Mediterrâneo oriental. O teste ocorre em meio a um aumento de tensões com o Ocidente por conta do uso de mísseis de longo alcance pela Ucrânia na guerra e no mesmo momento em que seu aliado sírio, Bashar al-Assad, perde terreno para uma coalizão de rebeldes liderados por islamistas radicais.
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“Mísseis de alta precisão foram disparados no mar e no ar no leste do Mediterrâneo em um exercício para testar os métodos de ação conjunta da Marinha e da Força Aérea russas”, disse o Ministério da Defesa em um comunicado.
Durante esses exercícios, os mísseis hipersônicos Zirkon e um míssil de cruzeiro Kalibr foram lançados das fragatas “Amiral Gorchkov” e “Amiral Golovko”, bem como do submarino “Novorossiysk”, informou o ministério.
“Os alvos designados foram atingidos por ataques diretos”, acrescentou, observando que os exercícios, que envolveram mais de 1.000 militares, dez navios e 24 aeronaves, foram planejados com antecedência.
A Rússia é um dos principais aliados do presidente Bashar al-Assad e tem uma base naval e uma base aérea na Síria, onde intervém militarmente desde 2015.
Na semana passada, grupos rebeldes liderados pelos islamistas radicais do Hayat Tahrir al Sham, o antigo ramo sírio da Al Qaeda, lançaram uma ofensiva contra o Exército sírio, tomando rapidamente dezenas de cidades e grande parte da segunda cidade do país, Aleppo.
Os confrontos são os primeiros de tal magnitude em vários anos na Síria, onde as hostilidades haviam praticamente cessado entre os beligerantes apoiados por várias potências regionais e internacionais com interesses divergentes na guerra devastadora que começou em 2011.
Teste de míssil ucraniano
A Ucrânia realizou um teste de novos mísseis produzidos nacionalmente e está acelerando a produção de mísseis, disse o presidente Volodymyr Zelensky nesta terça-feira.
Zelensky informou no aplicativo de mensagens Telegram que recebeu relatórios de suas forças armadas sobre o teste.
“Podemos agradecer aos nossos desenvolvedores de mísseis ucranianos. Estamos acelerando a produção”, afirmou, sem fornecer mais detalhes.
Em agosto, Zelensky havia anunciado que a Ucrânia realizou seu primeiro teste de um míssil balístico produzido internamente.
A Ucrânia, envolvida em uma guerra de 33 meses contra uma Rússia muito maior e militarmente mais bem equipada, está intensificando a produção doméstica na tentativa de acelerar o fornecimento de armas e reduzir sua dependência de ajuda dos países ocidentais.
Mundo
Caravana de migrantes tenta chegar aos EUA antes da posse de Trump: 'Temos que acelerar o passo'
Grupo é o terceiro a tentar chegar nos Estados Unidos desde as eleições presidenciais. Trump promete maior deportação da história assim que assumir o cargo. ARQUIVO: Migrante tenta chegar aos Estados Unidos pelo Rio Grande, na fronteira com o Texas em 11 de julho de 2023
Eric Gay/AP
Uma nova caravana de migrantes partiu nesta segunda-feira (2) do sul do México em direção aos Estados Unidos com a esperança de chegar ao país norte-americano antes de Donald Trump tomar posse.
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Pouco antes do amanhecer, a caravana cruzou uma cidade que fica próxima à fronteira com a Guatemala para seguir caminho pela estrada, constatou a AFP.
“Temos que acelerar o passo, não sabemos que medidas [Trump] vai tomar”, disse à AFP o venezuelano Alexander Altuve, de 38 anos.
Trump, vencedor da eleição presidencial de 5 de novembro, prometeu declarar estado de emergência nos EUA e recorrer ao exército para realizar “a maior operação de deportação” assim que tomar posse em 20 de janeiro.
A caravana, a terceira desde as eleições americanas, é composta principalmente por venezuelanos e jovens, além de famílias com crianças pequenas.
“Decidimos andar porque em nosso país a situação está muito, muito crítica […] Decidimos fazer esta caminhada para buscar um futuro melhor”, comentou José Luis Fernánadez, um cubano de 35 anos.
Trump classifica como “invasão” a entrada de imigrantes sem visto nos Estados Unidos e ameaçou o governo do México com tarifas de 25% sobre as importações caso não consiga conter a chegada de estrangeiros sem documentos.
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, conversou por telefone com Trump na semana passada para apresentar a estratégia do México no combate à migração ilegal e às drogas.
Durante a ligação, Sheinbaum informou a Trump que as caravanas de migrantes não chegam mais à fronteira graças às ações das autoridades mexicanas.
Os migrantes frequentemente organizam essas caravanas para pressionar pela emissão de salvo-condutos que lhes permitem seguir viagem pelo território mexicano sem medo de serem deportados.
Embora Trump e Sheinbaum tenham expressado satisfação com a conversa, surgiram divergências. Enquanto o republicano afirmou que o México fecharia sua fronteira, a presidente negou ter assumido tal compromisso.
O México é o principal parceiro comercial dos Estados Unidos, para onde destina pouco mais de 80% de suas exportações.
Diante do endurecimento das políticas migratórias, das ameaças de Trump e dos riscos de atravessar a fronteira clandestinamente, muitos migrantes têm buscado entrar nos Estados Unidos por meio de um agendamento no aplicativo CBP One, que permite pedir asilo formalmente.
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Governo da Geórgia descarta novas eleições gerais apesar de protestos que contestam resultados
O pleito, que ocorreu em 26 de outubro, foi vencido pelo partido governista Sonho Georgiano, acusado de proximidade com a Rússia. A oposição, no entanto, denuncia que as eleições foram marcadas por irregularidades. Manifestação em Tiblisi, na Geórgia
Reprodução/TV Globo
O governo da Geórgia descartou, neste domingo (1º), a realização de novas eleições legislativas no país, como tem exigido a oposição.
“Claro que não”, respondeu o primeiro-ministro Irakli Kobakhidze aos jornalistas que lhe perguntaram se o governo, acusado de uma deriva autoritária pró-russa, aceitaria organizar um novo pleito.
As eleições na Geórgia ocorreram em 26 de outubro e foram vencidas pelo partido governista Sonho Georgiano, acusado de proximidade com a Rússia.
A oposição, no entanto, cuja proposta é acelerar a integração do país com a União Europeia, denunciou que o pleito foi marcado por irregularidades e passou a exigir uma nova votação. (leia mais abaixo)
Inclusive, a presidente Salomé Zourabichvili anunciou que se recusaria a entregar o mandato no fim do ano, enquanto novas eleições legislativas não acontecessem.
Há três noites consecutivas, o país vive uma série de manifestações pró-UE, que tem sido dispersadas pela polícia.
Manifestações pró-UE
Mais de 100 são presos em protestos na Geórgia
Os protestos nas ruas da Geórgia, que reuniram milhares de manifestantes, foram provocadas pela decisão do governo de adiar para 2028 as ambições do país de integrar a União Europeia.
As manifestações em Tbilisi e outras cidades foram reprimidas com jatos de água e gás lacrimogêneo pela polícia, que realizou mais de 150 prisões. Dezenas de policiais foram feridos por projéteis e fogos de artifício lançados pelos manifestantes.
A nova chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, criticou o uso desproporcional da força pela polícia.
“É claro que o uso da violência contra manifestantes pacíficos não é aceitável e que o governo georgiano deve respeitar a vontade do povo georgiano”, afirmou ela durante uma visita de apoio à Ucrânia, no primeiro dia de seu mandato.
“Votamos para a União Europeia, pela liberdade, pelos direitos humanos. E o que nosso governo está fazendo? O exato oposto”, denunciou no sábado (30) Ani Bakhtouridzé, uma manifestante de 32 anos.
O Ministério do Interior, por sua vez, afirmou que “as ações de certos indivíduos presentes na manifestação se tornaram violentas pouco depois de seu início” e que a polícia respondeu “conforme a lei”.
Paralelamente às manifestações, centenas de funcionários públicos, incluindo do Ministério das Relações Exteriores, da Defesa e da Educação, bem como juízes, publicaram declarações conjuntas em sinal de protesto. Mais de cem escolas e universidades suspenderam suas atividades.
Cerca de 160 diplomatas georgianos também criticaram a decisão do governo, considerando que ela contrariava a Constituição e levaria “ao isolamento internacional” do país. Muitos embaixadores georgianos renunciaram em sinal de protesto.
A presidente pró-europeia do país, Salomé Zourabichvili, apoia o movimento de protesto, mas tem poderes limitados. Ela garantiu que não deixaria seu cargo como previsto no final de dezembro.
“Enquanto não houver novas eleições e um Parlamento que eleja um novo presidente de acordo com novas regras, meu mandato continuará”, afirmou ela em uma entrevista exclusiva à AFP.
A ex-diplomata francesa, nascida em Paris, anunciou que estabeleceu no sábado um “conselho nacional” composto por partidos da oposição e representantes da sociedade civil.
‘Graves irregularidades’
A chefe da diplomacia europeia, que assumiu o cargo neste domingo (1º), declarou que a situação na Geórgia tinha “consequências claras” para as relações com a UE.
Kaja Kallas explicou que “opções” foram propostas aos 27 Estados membros da UE sobre como reagir, inclusive com a imposição de sanções, e que um acordo sobre o assunto deveria ser alcançado.
O governo georgiano, por sua vez, acusa Bruxelas de “chantagem”, mas ainda garante que pretende integrar a UE até 2030.
Após a votação de outubro, um grupo de observadores eleitorais da Geórgia afirmou ter provas de um sistema complexo de fraude eleitoral em grande escala.
Bruxelas exigiu uma investigação sobre o que qualificou como “graves” irregularidades.
O porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Matthew Miller, “condenou o uso excessivo da força contra os georgianos que exercem sua liberdade de manifestação”. “Suspendemos nossa parceria estratégica com a Geórgia”, acrescentou ele.
A França, o Reino Unido, a Ucrânia, a Polônia, a Suécia e a Lituânia também expressaram suas preocupações.
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