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Por que Brasil é central no plano bilionário da Arábia Saudita de investimentos na América Latina
A monarquia árabe tem aumentado sua presença em países na América Latina e no Caribe para diversificar a sua economia e se afastar do petróleo. Lula viajou em novembro a Riad, capital da Arábia Saudita, única nação do Oriente Médio a participar do G20 e forte aliada dos Estados Unidos na região.
Ricardo Stuckert/PR
Uma nova potência chegou à América Latina e ao Caribe: a Arábia Saudita.
Seguindo as linhas definidas pelo príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman no plano econômico que intitulou de Visão 2030, a monarquia árabe demonstra um interesse crescente na região e aumentou recentemente a sua presença econômica e diplomática.
As exportações sauditas para a América Latina, que, em 2019, atingiram o valor de US$ 2,8 bilhões, atingiram pouco mais de US$ 4,5 bilhões em 2023, uma alta de 38,8%.
As importações passaram de US$ 3,8 bilhões em 2019 para quase US$ 5 bilhões em 2023, um aumento de 23,6%.
O aquecimento do comércio tem sido acompanhado por crescentes investimentos sauditas, possibilitados pelo grande capital que o país árabe possui graças à sua vasta riqueza petrolífera, o que lhe permite ser um dos maiores exportadores do mundo.
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Parte desse dinheiro começou a fluir para a América Latina e o Caribe. E a crescente relação entre a Arábia Saudita e a região passa, em grande parte, pelo Brasil.
Os dois países têm reforçado seus laços econômicos e políticos.
As exportações do Brasil, maior parceiro comercial da Arábia Saudita na região, atingiram o nível mais alto dos últimos dez anos em 2023.
O ministro de Investimentos, Khalid Al-Falih, comunicou, em visita ao Brasil, o desejo de que ambos os países se tornem um dos cinco maiores investidores um do outro, numa cooperação impulsionada “pela evolução do Sul Global e pelos valores partilhados” entre os dois países.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que viajou a Riad, capital da Arábia Saudita, em novembro de 2023, acha que é uma boa ideia.
“Não estamos interessados apenas em saber quanto os fundos sauditas podem investir no Brasil, mas em quanto os empresários brasileiros podem investir na Arábia Saudita”, disse Lula.
Mas não é só o Brasil.
A Guiana anunciou em novembro que Riad se comprometeu a investir US$ 2,5 bilhões para o desenvolvimento dos países caribenhos nos próximos anos.
A Aramco, grupo petrolífero do Estado saudita, adquiriu uma das principais distribuidoras de combustíveis do Chile, onde pretende expandir a sua atividade comercial.
Segundo o pesquisador Najad Khouri, do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre o Oriente Médio, um centro de pesquisas no Brasil, “esses são os primeiros passos de um relacionamento natural”.
Parece que o relacionamento está avançando.
O ministro Khalid Al-Falih fez uma viagem a sete países da região em agosto de 2023 para, disse ele, “explorar oportunidades para fortalecer e aprofundar parcerias de investimento”.
A Visão 2030 da Arábia Saudita
O príncipe Bin Salman é o responsável pela iniciativa conhecida como Visão 2030.
Getty Images via BBC
Ao assumir o trono saudita em 2015, o rei Salman surpreendeu ao fazer do seu sétimo filho, Mohammed bin Salman, que tinha apenas 32 anos na época, o homem forte do governo e passou à frente de todos os seus irmãos nas preferências do pai.
Tim Callen, especialista do Instituto de Estudos Árabes do Golfo em Washington (EUA), disse à BBC que Bin Salman “chegou com um plano muito ambicioso para diversificar a economia e reduzir a sua dependência do petróleo, além de transformar a muito conservadora sociedade saudita”.
Economicamente, o principal objetivo era orientar para um mundo visto como descarbonizado no futuro e gerar empregos para os jovens, uma parte muito importante da sociedade saudita.
Segundo Callen, “ainda que a Arábia Saudita demore décadas a se desligar do petróleo — porque tem tanto [petróleo] que pode produzir muito e a custos muito baixos —, tem importantes necessidades energéticas internas e procura desenvolver formas alternativas e mais limpas de energia”.
Um dos meios para concretizar a estratégia batizada de Visão 2030 tem sido um poderoso fundo soberano saudita, cujos recursos são estimados em cerca de US$ 1 bilhão.
O príncipe e o ministro Al-Falih, encarregado de tornar realidade as diretrizes do palácio, traçaram uma nova estratégia para alocar parte dos enormes investimentos do fundo soberano saudita para outros destinos que não os Estados Unidos, Ásia e Europa, locais onde Riad investe há anos.
Por meio de sua Iniciativa de Investimentos Futuros, o fundo começou a organizar o que chama de Cúpulas Prioritárias, reuniões para promover negócios e investimentos na América Latina e no Caribe, cujas primeiras edições foram realizadas no Rio de Janeiro e em Miami (EUA).
A iniciativa Visão 2030 também prevê uma transformação social e uma abertura ao mundo exterior.
Nesse âmbito, Riad começou a permitir a entrada de turistas no país em 2019, quando antes só permitia visitas por motivos religiosos.
Um ano antes, havia sido tomada uma das medidas de abertura mais simbólicas num país onde prevalece uma interpretação estrita do Islã: permitir que as mulheres dirijam, algo que até então era proibido.
Por que a Arábia Saudita está interessada na América Latina e no Caribe?
Brasil é o principal parceiro comercial da Arábia Saudita na região.
Getty Images via BBC
Najad Khouri, do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre o Oriente Médio, diz que “a América Latina e o Caribe são destinos interessantes para os investimentos sauditas porque geralmente possuem países estáveis, nos quais não há guerras ou revoluções”.
“A América Latina e o Caribe precisam de investimentos e a Arábia Saudita tem muito dinheiro para investir”, afirma.
A região também possui alguns dos elementos mais difíceis de encontrar no país árabe desértico, como alguns dos metais que emergem como estratégicos no futuro — por exemplo, lítio, níquel ou cobre.
A expectativa é de que eles devem impulsionar a economia mundial quando o petróleo já não fizer isso — e a América do Sul tem depósitos importantes.
Embora a riqueza em petróleo torne difícil que este combustível fóssil deixe de ser o principal negócio dos sauditas no curto prazo, eles já começaram a se posicionar para um futuro que parece baseado na eletricidade.
Uma das apostas recentes do reino é a Ceer, primeira fabricante de automóveis elétricos saudita, que deve demandar alguns dos minerais sul-americanos.
E já hoje, a fértil região da América Latina exporta uma grande quantidade de alimentos e produtos agrícolas para a Arábia Saudita, onde a árida geografia da Península Arábica torna a agricultura muito difícil e cara.
A América Latina também é uma das regiões por onde flui mais água doce do planeta.
A atenção à América Latina e ao Caribe não responde apenas a razões econômicas.
A maioria dos governos da América Latina e do Caribe também pertence a países não alinhados com o chamado bloco ocidental. Riad pode contar com o fato de não receber críticas pela forma como lida com os direitos humanos — e isso não será um obstáculo aos seus negócios.
O reino tem sido alvo de críticas há anos por organizações ocidentais de direitos humanos e de grupos de mulheres que denunciaram a discriminação a que são submetidas no país.
O assassinato no consulado saudita em Istambul do jornalista crítico Jamal Kashoggi em 2018, pelo qual o príncipe Bin Salman foi diretamente acusado, prejudicou gravemente a imagem internacional da monarquia árabe e desde então o seu governo tem se dedicado a um esforço para limpá-la por meio de intensas atividades comerciais e diplomáticas.
Os países da região representam um bom número de votos nas Nações Unidas e nos diferentes fóruns multilaterais, o que indica que esse apoio pode ser uma ferramenta valiosa na tentativa de reabilitação internacional buscada pelo príncipe bin Salman.
Há exemplos. Os Estados do bloco caribenho Caricom, que se beneficiaram dos fundos de desenvolvimento da Arábia Saudita, apoiaram a sua candidatura para sediar a feira mundial Expo 2030, disputa que acabou vencida pela Coreia do Sul e pela Itália.
“Um dos objetivos do príncipe é alcançar uma posição mais central e de liderança no que tem sido chamado de Sul Global”, diz Callen.
E uma atividade que desperta paixões em milhões de latino-americanos também desempenha um papel nisso: o futebol.
O país árabe tem injetado enormes quantias em seu campeonato nacional, o que atraiu grandes estrelas do futebol internacional, como o português Cristiano Ronaldo, e também sul-americanos, como Neymar, para clubes sauditas.
Neymar é uma das estrelas do futebol que foi para a Arábia Saudita.
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O papel do Brasil
A aproximação entre Riad e Brasília se intensificou nos últimos tempos.
Ambos os países já realizaram diversas reuniões bilaterais e o Brasil aceitou o convite da Arábia Saudita para ingressar na Opep+ (grupo de produtores e exportadores de petróleo que se reúne regularmente para decidir quanto petróleo bruto vender no mercado mundial), embora apenas tenha feito isso como observador.
O Brasil, por sua vez, conseguiu que Riad se juntasse ao grupo Brics — antes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e que em 2023 anunciou uma expansão.
No entanto, segundo Mohamad Nourad, vice-presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, trata-se mais de “uma relação comercial do que política e isso ocorre porque agora existem boas oportunidades para ambas as partes”.
Na esfera comercial, o Brasil é o maior exportador para a Arábia Saudita de alimentos halal, aqueles produzidos de acordo com os preceitos do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos.
As outras exportações notáveis são açúcar, milho e alimentos de origem animal.
Nourad diz que há “um crescente interesse saudita na capacidade brasileira de produzir energia renovável” e espaço para aumentar a cooperação em setores mais tecnológicos, como a fabricação de turbinas eólicas ou a indústria de defesa em geral.
A gigante mineira brasileira Vale vendeu recentemente uma das suas unidades de negócio ao capital saudita por US$ 2,5 bilhões e a Embraer assinou um acordo com o Centro Nacional de Desenvolvimento Industrial da Arábia Saudita, o que pode levar à montagem dos seus aviões no país árabe.
Para Najad Khouri, “a relação entre a Arábia Saudita e a América Latina e o Caribe está apenas começando e representa uma boa oportunidade para ambos”.
Ainda que, para isso, tenha de superar “obstáculos e limites”, como a distância geográfica e cultural que separa duas áreas muito distantes.
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Mundo
O que aconteceu no Líbano durante as duas grandes invasões de Israel — e quais foram as consequências delas
Israel invadiu o Líbano em seis ocasiões. Em duas delas, grandes marcas foram deixadas na sociedade libanesa. Moradores da cidade portuária de Saida, no após fugirem de um bombardeio israelense realizado em julho de 2006.
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Nos últimos dias, Israel lançou uma série de ataques militares em alvos específicos no sul do Líbano, onde opera o grupo armado xiita Hezbollah.
O exército israelense também mobilizou tropas e alertou centenas de milhares de libaneses para deixarem suas casas e se mudarem para o norte do país. Entretanto, os bombardeios em Beirute, a capital do Líbano, que fica mais ao centro do país, continuam a acontecer e até se intensificaram.
Todos esses desdobramentos sugerem que a escalada da nova operação no Líbano será maior do que o inicialmente anunciado.
Embora esta seja a primeira incursão israelense no Líbano desde 2006, as gerações passadas foram marcadas por um histórico de invasões. Desde a independência do Líbano em 1943, Israel fez operações militares em território libanês em seis ocasiões.
A primeira delas ocorreu em 1978 e tinha como objetivo expulsar militantes palestinos da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) do sul do país.
“A operação foi curta, durou menos de uma semana, não atingiu todos os objetivos e as Nações Unidas exigiram a retirada das forças israelenses”, resume Mayssoun Sukarieh, professor de estudos do Oriente Médio no King’s College London, no Reino Unido.
As origens do conflito
Milhares de refugiados e civis foram mortos indiscriminadamente no massacre de Sabra e Shatila durante a invasão de 1982.
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Pode-se dizer que o atual conflito entre Hezbollah e Israel no sul do Líbano, como muitos outros que acometem a região, tem as suas origens na “nakba” ou “a catástrofe palestina”.
Este foi um período histórico em que mais de 750 mil palestinos foram forçados a fugir ou acabaram expulsos de suas casas depois que Israel proclamou a sua independência do Mandato Britânico da Palestina em 14 de maio de 1948 e durante a Guerra Árabe-Israelense, que começou no dia seguinte e durou 15 meses.
Como resultado da “nakba”, mais de 100 mil palestinos, principalmente das áreas do norte do que era então conhecido como Palestina e Galileia, acabaram no Líbano. A eles juntaram-se outras ondas de refugiados que vieram de Jerusalém Oriental, da Cisjordânia e da Faixa de Gaza durante as subsequentes guerras árabe-israelenses que aconteceram em 1956 e 1967.
A partir do Acordo do Cairo em 1969, assinado pelo presidente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Yasser Arafat, e pelo chefe do exército libanês, os campos de refugiados ficaram sob o controle de um corpo da polícia militar palestina.
A OLP, que foi criada em 1964 com o objetivo de libertar os palestinos de Israel por meio da luta armada, estabeleceu uma espécie de Estado dentro do Líbano. Neste contexto, milhares de combatentes palestinos refugiaram-se e foram treinados em campos que estavam fora da jurisdição do exército libanês.
O governo do então primeiro-ministro de Israel, Menachem Begin, considerou que a presença de militantes da OLP representava um problema de segurança e decidiu agir em 1978 e depois em 1982.
A invasão israelense do Líbano em 1982 ocorreu em meio a uma sangrenta guerra civil desencadeada após um ataque das Falanges Libanesas, uma milícia cristã de direita aliada a Israel, contra um ônibus que transportava refugiados palestinos.
A guerra civil libanesa, que durou de 1975 a 1990, foi marcada por um aumento dos ataques palestinos contra alvos israelenses em todo o mundo. Um destes ataques, ocorrido em Londres, desencadearia a ira de Israel.
A invasão mais sangrenta até hoje
Tropas israelenses no oeste de Beirute em 14 de setembro de 1982.
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Após uma tentativa de assassinato do embaixador israelense em Londres, Menachem Begin deu início a uma invasão do Líbano no dia 6 de junho que levou o exército do país às ruas de Beirute. Por meio de uma operação terrestre, Israel tentava enfraquecer ou mesmo expulsar a OLP do Líbano.
Especialistas dizem que os líderes israelenses também procuraram impor o seu aliado Bachir Gemayel, chefe das Falanges Libanesas, como presidente do Líbano — e, assim, trazer a nação árabe para a esfera de influência de Israel.
Foram dois meses de batalhas e muita destruição até que um acordo foi assinado em agosto, no qual milhares de combatentes da OLP concordaram em deixar o país. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos garantiram a proteção da população civil libanesa após a evacuação das forças da OLP.
Até então, o plano israelense parecia ter sido bem sucedido.
Em 23 de agosto, Gemayel, o chefe das Falanges Libanesas, foi eleito presidente pelo parlamento do país para um mandato de seis anos.
Mas ele nunca assumiria a presidência.
Gemayel foi morto num ataque realizado no dia 14 de setembro, durante uma reunião de seu partido no bairro de Achrafieh, em Beirute.
Sabra e Shatila: um massacre contra refugiados palestinos
Dois dias após o assassinato de Gemayel, milícias cristãs apoiadas por Israel entraram em dois campos de refugiados em Beirute e massacraram um grande número de palestinos.
“A morte de Gemayel desencadeou a ira dos falangistas. Os israelenses cercaram os campos de Sabra e Shatila e deixaram as milícias das Falanges Libanesas entrarem e massacrarem todos que encontraram”, diz o professor Mayssoun Sukarieh.
Os falangistas entraram nos campos à noite, momento em que muitos dos refugiados dormiam, depois de lançarem sinalizadores para iluminar o local.
“Eles mataram famílias inteiras que dormiam. Alguns acordaram a tempo, começaram a chamar pelos outros e a gritar que os israelenses haviam chegado e estavam matando pessoas”, complementa Sukarieh.
Muitos buscaram abrigo na mesquita local. Mas os falangistas tomaram o prédio e assassinaram aqueles que lá estavam.
Neste episódio, também foram relatados casos de violência sexual contra mulheres palestinas. Uma enfermeira que trabalha no hospital Akka, perto de Chatila, disse à BBC que os falangistas fizeram disparos de forma indiscriminada.
“Uma criança me contou que os falangistas arrombaram a porta e atiraram em toda a família; ele foi o único sobrevivente”, disse ela.
Os militantes também sequestraram outras duas enfermeiras que trabalham no mesmo hospital. Uma delas conseguiu escapar e contou à imprensa que a colega havia sido estuprada antes de ser morta.
Estima-se que entre 2 mil e 3,5 mil pessoas morreram somente neste episódio sangrento.
“O que aconteceu foi horrível. Alguns chamam de massacre, outros argumentam que foi um genocídio”, diz Sukarieh.
Os israelenses retiraram-se do local três meses após o início da invasão, mas criaram uma zona-tampão dentro do Líbano.
Do lado libanês, cerca de 20 mil pessoas — a maioria civis — foram mortas. Do lado israelense, 654 soldados morreram.
Israel continuou a ocupar a maior parte do sul do Líbano até 3 de setembro de 1983, quando se retirou para o sul do rio Awali, devido ao aumento das baixas israelenses em ataques de guerrilheiros xiitas.
Nesse mesmo ano, o Ministro da Defesa de Israel durante o massacre, Ariel Sharon, teve que renunciar ao cargo após uma investigação feita no país sobre o que aconteceu no Líbano. Em 2001, Sharon seria eleito chefe do governo de Israel.
Um novo inimigo
Família de refugiados que conseguiu fugir dos combates entre guerrilheiros palestinos e militantes xiitas em 1982.
Getty Images via BBC
Uma das consequências da grande invasão israelense no Líbano foi promover a criação do Hezbollah, dizem analistas.
Alguns líderes xiitas do Líbano queriam uma resposta militar à invasão e romperam com o Movimento Amal, um grupo político que se tornou uma das mais importantes milícias muçulmanas xiitas durante a Guerra Civil Libanesa (1975-1990).
Os rebeldes formaram um movimento militar xiita que recebeu apoio militar e logístico da Guarda Revolucionária Iraniana e foi denominado “Amal Islâmico”. Pouco depois, esta organização aliou-se a outros grupos e criou o Hezbollah.
A fundação do grupo mudaria o alvo das futuras invasões israelenses no Líbano.
“O objetivo inicial das invasões era livrar-se dos grupos paramilitares. Mas o que elas fizeram foi desencadear uma resistência mais severa contra Israel a partir do Amal e, mais tarde, com o Hezbollah”, avalia Vanessa Newby, especialista em Oriente Médio da Universidade de Leiden, na Holanda.
“Há um argumento que sugere que o aumento do uso da força simplesmente gerou uma resistência mais violenta por parte da população libanesa”, acrescenta ela.
Em abril de 1996, as forças israelenses atacaram pela primeira vez o novo inimigo, o Hezbollah, em resposta a uma série de ataques com foguetes feitas pelo grupo. Essa operação durou pouco mais de duas semanas.
Estima-se que, além de 13 combatentes do Hezbollah, cerca de 250 civis foram mortos no Líbano. Nesse ataque, não foram registradas mortes do lado israelense.
A operação foi limitada, mas as tensões entre Israel e o Hezbollah continuaram.
As Forças de Defesa de Israel (IDF) retiraram-se do sul do Líbano em 25 de maio de 2000 e, em junho, as Nações Unidas estabeleceram uma “Linha Azul”, ou uma fronteira não oficial entre o Líbano e Israel.
E esse vácuo deixado pelas FDI foi preenchido pelo Hezbollah.
A fracassada invasão do Líbano em 2006
Pessoas cobrem o rosto para lidar com cheiro de decomposição enquanto começam a remover os restos mortais dos milhares de refugiados palestinos que foram mortos no massacre de Sabra e Shatila.
Getty Images via BBC
O Hezbollah nunca reconheceu a legitimidade da “Linha Azul” traçada pelas Nações Unidas. Para o grupo, Israel continuou a ocupar ilegalmente o território libanês.
Em 2006, o Hezbollah iniciou uma série de ataques com foguetes contra cidades israelenses.
Em 12 de julho, um grupo de combatentes do grupo cruzou a fronteira com Israel, atacou dois veículos militares, matou oito soldados e fez dois reféns.
A resposta israelense foi implacável e envolveu uma operação militar que incluiu o bloqueio e um intenso bombardeio de cidades, vilas, aeroportos, pontes e muitas outras estruturas importantes no Líbano.
A guerra durou 33 dias, durante os quais o Hezbollah também lançou uma saraivada de foguetes contra Israel.
Segundo dados oficiais, 1.191 pessoas morreram no Líbano, a maioria delas civis. Em Israel, 121 soldados e 44 civis foram mortos.
O Hezbollah ficou praticamente intacto.
A Comissão Winograd, criada pelo governo israelense para avaliar o resultado da guerra, concluiu em 2008 que a operação foi um fracasso e que Israel tinha iniciado “uma longa guerra, que terminou sem uma vitória militar clara”.
O conflito atual
Forças de Israel fazem nova onda de bombardeios contra o Líbano
Quase duas décadas depois, Israel lançou outra invasão que o governo classifica como “limitada, localizada e direcionada” no sul do Líbano contra alvos do Hezbollah.
Mas as evidências mostram que este não é o caso. As FDI desencadearam uma campanha aérea implacável sobre o Líbano, atingindo mais de 3,6 mil alvos ligados ao Hezbollah.
Para os analistas, esta é a operação aérea mais intensa dos últimos vinte anos. Os ataques conseguiram, entre diversos objetivos, matar Hassan Nasrallah, líder histórico do Hezbollah.
Até o momento, outras 1,4 mil pessoas foram mortas e 900 mil foram deslocadas desde que Israel iniciou a sua operação transfronteiriça, de acordo com o governo libanês.
A analista Vanessa Newby acredita que a mais recente invasão israelense poderá desencadear uma guerra mais ampla no Oriente Médio.
Mayssoun Sukarieh, por sua vez, tem dúvidas sobre se Israel conseguirá erradicar o Hezbollah, como planejado.
“Ainda é muito cedo para saber se esse objetivo será alcançado”, acredita ele.
Mundo
Greta Thunberg é presa durante manifestação em Bruxelas
A ativista ambiental sueca foi detida neste sábado (5) pela polícia da capital belga após se recusar a deixar o local da mobilização, que bloqueou o trânsito. O protesto era contra os subsídios às energias fósseis. Greta Thunberg em protesto ambiental em Bruxelas em 5 de outubro de 2024.
John Thys/AFP
A ativista ambiental sueca Greta Thunberg foi detida neste sábado (5) em Bruxelas, na Bélgica, junto com dezenas de manifestantes, por bloquear o trânsito durante um protesto contra os subsídios às energias fósseis.
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Thunberg, que já foi presa por desobediência civil em protestos anteriores, foi levada pela polícia belga após se recusar a deixar o local de uma mobilização, segundo a AFP.
A ativista de 21 anos integrava um grupo de manifestantes que se separou de um protesto organizado pelo movimento United for Climate Justice para pedir à União Europeia (UE) que acabasse com os subsídios aos combustíveis fósseis.
O objetivo é alcançar a neutralidade de carbono até 2050, mas essa meta “não ocorrerá sem uma eliminação imediata dos subsídios aos combustíveis fósseis”, escreveram ativistas da luta contra a mudança climática, cientistas e economistas em uma carta aos líderes da UE.
“Até que as mudanças necessárias sejam introduzidas, as pessoas continuarão saindo às ruas para fazer com que nossas vozes sejam ouvidas e cobrar responsabilidades”, acrescentaram.
Mundo
Cidadão dos EUA morre em bombardeio israelense no Líbano
Kamel Ahmad Jawad foi um dos mortos dos bombardeios israelenses diários ao território libanês. Kamel Ahmad Jawad, de Michigan, foi morto no Líbano em um ataque aéreo israelense em 1º de outubro de 2024.
Reprodução/redes sociais
Um americano foi morto no Líbano durante um bombardeio israelense nesta semana, segundo o Departamento de Estado norte-americano. As informações foram divulgadas nesta sexta-feira (4).
Kamel Ahmad Jawad, de Dearborn, Michigan, foi morto no Líbano em um ataque aéreo israelense na terça-feira (1º), de acordo com sua filha, um amigo e a congressista dos EUA que representa seu distrito.
O governo Biden está trabalhando para entender as circunstâncias do incidente, segundo o porta-voz Matthew Miller. Os Estados Unidos são o principal aliado de Israel, que realiza bombardeios diários contra diversos locais do Líbano, inclusive a capital Beirute, e uma operação terrestre contra alvos militares do grupo extremista libanês Hezbollah. (Leia mais abaixo)
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O porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, disse no início desta semana que Washington acreditava que Jawad era um residente permanente legal, e não um cidadão americano. Na sexta-feira, o departamento afirmou que ele era cidadão dos EUA.
“Estamos cientes e alarmados com os relatos da morte de Kamel Jawad, que confirmamos ser cidadão dos EUA”, disse o porta-voz.
“Como temos observado repetidamente, é um imperativo moral e estratégico que Israel tome todas as precauções possíveis para mitigar danos a civis. Qualquer perda de vida civil é uma tragédia”, disse Miller.
Israel afirma que está atacando militantes do Hezbollah, apoiados pelo Irã, que têm lançado foguetes em Israel desde o início da guerra em Gaza, há um ano.
Sua recente campanha militar no Líbano matou centenas e feriu milhares, de acordo com o governo libanês, que não informou quantas das vítimas eram civis ou membros do Hezbollah. O bombardeio israelense também desalojou mais de 1,2 milhão de libaneses.
A governadora de Michigan pediu ao governo dos EUA que faça mais para resgatar americanos presos no Líbano, muitos deles de Michigan, durante a ofensiva militar de Israel no país.
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Bombardeios israelenses deixam rastro de destruição em Beirute, capital do Líbano
Mais de 1.900 mortos
Em menos de duas semanas, os bombardeios de Israel ao Líbano já deixaram 1.974 pessoas mortas, afirmou nesta quinta-feira (3) o Ministério da Saúde libanês.
Desse total, 127 eram crianças, ainda de acordo com o ministério.
Mais de 6 mil pessoas também ficaram feridas em decorrência dos bombardeios.
O número ultrapassou o balanço total de mortos na guerra do Líbano em 2006 — quando Israel também invadiu o país vizinho para lutar contra o Hezbollah. Em pouco mais de um mês, o conflito teve um total de 1.191 mortos, entre civis, soldados e membros do Hezbollah.
No conflito atual, as Forças Armadas de israelenses começaram a bombardear o território libanês em 20 de setembro, dias depois de anunciar uma nova fase da guerra, com foco no norte de Israel, perto da fronteira com o sul do Líbano. A região é o reduto do Hezbollah
No último dia 30, Israel invadiu o Líbano por terra. Nesta quinta-feira, dois novos ciclos de bombardeios atingiram o centro de Beirute, matando nove pessoas e ferindo outras 14.
Crise humanitária grave
Durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU na quarta-feira (2), o representante interino do Líbano na ONU, Al-Sayyid Hadi Hashim, afirmou que o país foi empurrado para uma crise humanitária grave, com milhares de pessoas desabrigadas.
Segundo Hashim, um milhão de libaneses precisaram deixar suas casas por causa do conflito. O país também abriga 2 milhões de sírios deslocados, além de 500 mil palestinos refugiados.
“O que está acontecendo agora, com essas mortes, pessoas desabrigadas e destruições sem precedentes, não pode ser mais tolerado ou ignorado. As crianças dos subúrbios do sul de Beirute estão dormindo nas ruas”, afirmou.
Do lado de Israel, 50 soldados morreram em confrontos diretos com membros do Hezbollah no sul do Líbano, segundo as Forças Armadas israelenses. Oito deles foram mortos na quarta-feira (2) em uma emboscada do grupo extremista em um vilarejo no sul.
O representante de Israel na ONU, Danny Danon, disse que o país enfrenta ataques diretos à própria existência. “Essa é a realidade que enfrentamos todos os dias: terror nas fronteiras, mísseis sobre nossas cabeças, balas nas ruas. O Conselho [de Segurança da ONU] precisa entender o cenário em que Israel é forçado a viver”, disse.
O representante do Líbano rebateu o argumento de Israel e disse ser “mentira” que as forças israelenses tenham feito ataques precisos e “cirúrgicos”.
“Os prejuízos aos civis e à infraestrutura civil são imensos”, afirmou Hashim. “Hoje, o Líbano está preso entre a máquina de destruição de Israel e a ambição de outros na região. As pessoas do Líbano rejeitam essa fórmula fatal. O Líbano merece vida.”
O governo do Líbano pediu ao Conselho de Segurança da ONU o envio de ajuda humanitária urgente e apelou por um aporte financeiro de US$ 426 milhões (R$ 2,3 bilhões). O país também pediu para que outras nações pressionem Israel para a aprovação de um cessar-fogo de 21 dias proposto por França e Estados Unidos.
“O Conselho de Segurança deve tomar as medidas para evitar uma implosão do Oriente Médio”, afirmou Hashim.
Israel, Irã e Líbano trocam acusações em reunião do Conselho de Segurança da ONU
Entenda o conflito
Entenda o conflito no Oriente Médio e a possibilidade de uma guerra geral
Israel disse que está fazendo uma operação militar contra o grupo extremista Hezbollah. Embora tenha atuação política no Líbano, a organização possui um braço armado com forte influência no país. Além disso, o Hezbollah é apoiado pelo Irã e é aliado dos terroristas do Hamas.
Os extremistas têm bombardeado o norte de Israel desde outubro de 2023, em solidariedade ao Hamas e às vítimas da guerra na Faixa de Gaza.
Nos últimos meses, Israel e Hezbollah viveram um aumento nas tensões. Um comandante do grupo extremista foi morto em um ataque israelense no Líbano, em julho. No mês seguinte, o grupo preparou uma resposta em larga escala contra Israel, que acabou sendo repelida.
Mais recentemente, líderes israelenses emitiram uma série de avisos sobre o aumento de operações contra o Hezbollah.
O gatilho para uma virada no conflito veio após os seguintes acontecimentos:
Nos dias 17 e 18 de setembro, centenas de pagers e walkie-talkies usados pelo Hezbollah explodiram em uma ação militar coordenada.
A imprensa norte-americana afirmou que os Estados Unidos foram avisados por Israel de que uma operação do tipo seria realizada. Entretanto, o governo israelense não assumiu a autoria.
Após as explosões, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse que estava começando “uma nova fase na guerra”.
Enquanto isso, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prometeu que levará de volta para casa os moradores do norte do país, na região de fronteira, que precisaram deixar a área por causa dos bombardeios do Hezbollah.
Segundo o governo, esse retorno de moradores ao norte do país só seria possível por meio de uma ação militar.
Em 23 de setembro, Israel bombardeou diversas áreas do Líbano. O dia foi o mais sangrento desde a guerra de 2006.
Em 27 de setembro, Israel matou o chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, por meio de um bombardeio em Beirute.
Em 30 de setembro, Israel lançou uma operação terrestre no Líbano “limitada e precisa” contra alvos do Hezbollah.
Em 1º de outubro, o Irã atacou Israel com mísseis como resposta à morte de Nasrallah e outros aliados do governo iraniano. Os mísseis iranianos, no entanto, foram interceptados pelo sistema de defesa israelense, o chamado Domo de Ferro.
Veja onde fica o Líbano
Arte/g1
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