Pop
Chitãozinho e Xororó analisam era de hits 'descartáveis': 'Não acredito que a música que faz sucesso imediato vá ficar'
Em entrevista ao g1, dupla ainda explica como ‘Evidências’ deu a volta por cima e superou ‘Fio de Cabelo’ no posto de principal hit de Chitãozinho e Xororó. Chitãozinho e Xororó falam sobre ‘Evidências’ e cenário de ‘músicas descartáveis’
Em 2023, Chitãozinho e Xororó marcaram espaço no The Town, mesmo que de forma indireta, abrindo espaço para a entrada do sertanejo nos grandes festivais mais pops. Na ocasião, Bruno Mars incluiu “Evidências”, hit da dupla, em sua apresentação. Foi apenas a parte instrumental, deixando a plateia cantar os versos do “hino nacional sertanejo”, mas causou grande comoção entre o público.
Meses depois, a dupla foi confirmada no Rock in Rio, abrindo de vez as portas do festival para o sertanejo. Será a primeira apresentação do ritmo no palco do evento.
Eles se apresentam no dia 21 de setembro (sábado), no Palco Mundo, com o show “Para sempre Sertanejo”, no qual vão receber a Orquestra Heliópolis, Ana Castela, Júnior, Luan Santana e Simone Mendes. (Veja line-up completo.)
No último sábado (29), eles fizeram uma espécie de teste do que pode render para o evento, estreando em outro festival pop. Chitãozinho e Xororó foram a atração principal do Turá, evento que aconteceu no final de semana, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
Chitãozinho e Xororó no festival Turá
Camila Cara/Divulgação
No palco, eles fizeram uma apresentação de 1h30 e tocaram clássicos como “Fio de Cabelo” e “Sinônimos”. Eles também investiram bastante nos hits com a pegada mais country, como “Ela não vai mais chorar” e “Bailão de Peão” – nessa hora, o público trocou as batidas das palmas pelo som do abre-e-fecha dos enormes leques.
A dupla também recebeu Lucas Silveira, da banda Fresno, que tinha acabado de se apresentar no evento, para um feat em “Brincar de Ser Feliz”. “Vamos repetir isso no Rock in Rio”, avisou Xororó, vendo a vibração da plateia.
E “Evidências”, claro, não ficou de fora e encerrou a apresentação, fazendo com que o público permanecesse ali até o último minuto de show – mesmo com o frio e a garoa que caia na cidade.
Nova fase para o sertanejo
Antes do evento, eles conversaram com o g1 e comentaram que esse ingresso nos festivais que vão além das festas sertanejas representa uma fase para eles e para a música sertaneja.
“Eu acho que é uma nova fase para nós e, também, para o sertanejo, porque o sertanejo não vive só de Chitãozinho e Xororó. Tem inúmeras duplas maravilhosas, inúmeros cantores, cantoras”, afirmou Chitãozinho.
“Eu acho que a música sertaneja tem um casting tão grande que eu sinto que é do tamanho do Brasil. E esses festivais, se derem uma chance para a música sertaneja, tenho certeza de que o sucesso vai ser garantido.”
Chitãozinho e Xororó no festival Turá
Camila Cara/Divulgação
Os artistas, que iniciam em breve uma nova turnê, também responderam como essa abertura para festivais mais pops interfere no trabalho deles.
“A gente tá sempre tentando inovar e trazendo novos elementos e novidades para a nossa música. E a ideia sempre foi essa. A gente começou isso na nossa adolescência”, explicou Xororó.
“E uma coisa que a gente sempre se preocupou é com a renovação. A cada 15 anos, a gente procura fazer algo diferente e chamar a atenção do público que está naquele momento curtindo a música sertaneja. E isso tem dado muito certo”, completou Chitãozinho.
Nem sempre o hino foi Evidências
Apesar da renovação, o hit “Evidências” não sai do repertório dos artistas. Mas nem sempre foi assim. Como já citamos aqui no g1, a música não esteve presente em dois dos quatro DVDs do projeto “Amigos”, na década de 1990.
A faixa, que hoje é um dos maiores hits do sertanejo, entrou para os álbuns de 1996 e 1997, mas ficou de fora do projeto nos dois anos seguintes.
“Você falando, agora me veio à memória que a música mais forte da nossa dupla naquela época era ‘Fio de Cabelo’. Porque foi ela que rompeu todas as barreiras do preconceito. Foi a primeira música sertaneja a ser tocado nas FMs do Brasil, que não tocavam sertanejo”, relembra Xororó.
“E a ‘Evidências’ começou a competir alguns anos depois. Foi, foi, até que ela virou a página.”
Chitãozinho e Xororó no festival Turá
Camila Cara/Divulgação
“A gente gravou ‘Evidências’ exatamente para ter uma música pop dentro do nosso repertório. A gente queria agradar muito essa nova geração que começou a assistir e ir aos shows e ouvir a nossa música”, explicou Chitãozinho.
“Então a gente começou a procurar a música mais pop. E aí vieram ‘Evidências’, ‘Alô’, várias canções que nós gravamos nesse período. Só que ‘Evidências’ superou tudo. A gente não esperava tanto sucesso, mas graças a Deus ela tá aí até hoje.”
Clássicos x músicas descartáveis
Donos de vários hits eternizados ao longo dos 54 anos de carreira, Chitãozinho e Xororó ainda falaram sobre o atual cenário da música sertaneja. Também deram a receita para que sejam produzidos mais clássicos e menos músicas descartáveis, que até fazem sucesso nos lançamentos, mas que não conseguem permanecer em alta nem ultrapassar gerações.
“Eu acho que a música sertaneja hoje está muito mecanizada. Ela está muito feita em série. Os caras se juntam em estúdios, nos campings, num lugar, e meia dúzia de pessoas fica fazendo música. E dali saem alguns sucessos.”
“Mas eu não acredito que a música que faz sucesso imediato, vá ficar. A música tem que ser mais sensível, tem que ter uma mensagem, tem que marcar um momento na vida da pessoa. Essa música realmente fica. Mas música descartável, não”, analisou Chitãozinho.
“Eu acho que tem que se preocupar com a qualidade da letra, da melodia, do arranjo. É uma mistura de coisas. Não é simplesmente fazer uma música e sair gravando de qualquer maneira”, completou Xororó.
“A música tem que nascer. Tem que entrar a introdução, o arranjo, e as pessoas identificarem qual música vem. E o arranjo tem que seguir junto e finalizar. Então a música tem que ter um começo, meio e fim. Só assim que ela permanece.”
Chitãozinho e Xororó no festival Turá
Camila Cara/Divulgação
Pop
Caso Diddy: psiquiatra explica onda de comentários irônicos envolvendo denúncias a rapper
Pessoas têm postado comentários ironizando toda a situação, que envolve crimes de violência física e sexual. Especialista cita que redes sociais amplificam o ‘efeito manada’. Psiquiatra explica onda de comentários irônicos envolvendo o caso Sean Combs
Sean “Diddy” Combs não saiu das notícias dos últimos dias. O rapper, que também é conhecido como Puff Daddy, foi preso no dia 16 de setembro sob a suspeita de tráfico sexual e agressão. O artista é acusado de abuso sexual e de drogar pessoas durante festas promovidas por ele.
Diddy nega todas as acusações, que são bem semelhantes às feitas por Cassie Ventura. A ex-namorada do rapper abriu um processo contra ele alegando que foi estuprada e violentada por mais de uma década.
Ponto a ponto: quem é Sean Diddy Combs e quais são as acusações que envolvem sua prisão
Além de tudo o que virou notícia sobre o caso, uma situação chamou a atenção nas redes sociais: apesar de todas as questões de violência física e sexual do caso, muita gente decidiu fazer piada e ironizar a situação.
Desde a prisão do rapper, a internet ficou cheia de postagens inspiradas nesse caso. Muitos delas apontam nomes de amigos famosos do cantor, como Jay-Z. Os dois têm uma relação bem próxima. O cantor, inclusive, já foi criticado por não ter se posicionado sobre o caso Diddy.
Caso Diddy: quem são os famosos citados nas notícias do escândalo
Quem são os sete filhos do rapper
Instagram de Sean Diddy Combs
Reprodução/Instagram
O Instagram do rapper, atualmente, conta só com duas fotos. Uma é de sua filha Chance, de 18 anos, e outra de sua caçula, Love, de 1 ano e 9 meses. No espaço para comentários, muitas piadinhas.
Muitas delas, de brasileiros que estão “culpando” Diddy por casos que aconteceram no país. Por exemplo, tem gente afirmando que não vai perdoar Diddy por ele ter empurrado Mc Kevin da sacada. O rapper brasileiro morreu em 2021 após cair do 5º andar de hotel na Barra da Tijuca. Tem gente que diz, também, que Diddy seria responsável pela morte do Silvio Santos. O apresentador morreu em agosto, aos 93 anos.
As postagens seguem a linha de teorias da conspiração que surgiram após a prisão de Diddy e que afirmam que ele estaria envolvido na morte de astros internacionais.
Existem ainda mais memes e tentativas de piadas com outras questões relacionadas ao caso: como a grande quantidade de garrafas de óleo de bebê encontradas na casa do rapper. Ou também sobre o fato de Justin Bieber ter Diddy como um de seus padrinhos musicais.
A falta do olhar do outro
Internautas criam memes ironizando caso de Sean Diddy Combs
Reprodução/Instagram
Autor de livros como “Viagem por dentro do cérebro”, “Doentia maldade” e “O lado bom do lado ruim”, o psiquiatra Daniel Barros explicou ao g1 que as pessoas tendem a contar piadas com temas graves, porque as redes sociais eliminam uma parte fundamental da interação humana: o olhar do outro.
“No ambiente virtual, não há um feedback imediato das reações emocionais dos interlocutores, como acontece nas interações face a face. E aí, sem ver o sofrimento ou a indignação diretamente, as pessoas não têm o freio social que normalmente as impediria de ironizar questões sérias”, afirma Daniel.
“Sem ver o sofrimento ou a indignação diretamente, as pessoas não têm o freio social que normalmente as impediria de ironizar questões sérias.”
“Assim, acabam expressando desprezo ou falta de empatia, algo que provavelmente não fariam no mundo real, onde o desconforto gerado pelas expressões de dor do outro seria mais evidente”, completa o psiquiatra.
O médico também comenta que as redes sociais amplificam o efeito manada. Esse comportamento é muito usado na psicologia para explicar como as pessoas, quando estão em grupo, agem e reagem de uma mesma forma, mesmo sem um planejamento.
“Quando uma pessoa faz um comentário irônico ou ofensivo, outros podem seguir o exemplo e agir da mesma maneira, sem refletir profundamente sobre o impacto disso. Essa propagação rápida de comportamentos antissociais se deve ao fato de que, nas redes, as respostas não são vistas em tempo real, o que dá uma sensação de anonimato e segurança, mesmo que parcial. Isso faz com que a escalada de agressividade e ironia ocorra de maneira mais veloz e generalizada.
Daniel ainda comenta que uma mudança em relação a esse tipo de atitude requer tempo e adaptação.
Mas ele explica que se a sociedade se tornar mais consciente dos efeitos negativos das redes sociais, talvez as pessoas desenvolvam novas formas de empatia e autorregulação no ambiente virtual.
“Um caminho potencial seria uma maior educação sobre os impactos de nossas ações on-line e o desenvolvimento de mecanismos de autorreflexão para pensar antes de postar.”
Pop
Coldplay ainda faz música de verdade ou apenas trilha para palestra motivacional?
‘Moon Music’, 10º álbum do grupo britânico, desperdiça boas participações em melodias ao mesmo tempo sem referência e sem identidade; veja análise do g1. g1 analisa ‘Moon Music’, novo álbum do Coldplay
O Coldplay lançou nesta sexta-feira (4) “Moon Music”, seu 10º álbum de estúdio — segundo o vocalista Chris Martin, o antepenúltimo da banda, que pretende parar de fazer música após o 12º trabalho. As dez novas faixas, no entanto, deixam a sensação de que eles já pararam.
Nas últimas décadas, o grupo britânico viveu uma das maiores transformações musicais do pop mundial. Foi do rock alternativo melancólico do disco “Parachutes” (2000), influenciado por nomes como Oasis e Radiohead, ao pop motivacional de arena, mostrado principalmente a partir de “Viva la Vida or Death and All His Friends”, de 2008.
A fase mais recente transformou o Coldplay em um fenômeno de venda de ingressos. Iniciada em 2022, a turnê global “Music of the Spheres” arrecadou US$ 945,7 milhões e foi descrita pela revista “Billboard” como a mais lucrativa de todos os tempos para uma banda de rock.
Coldplay no Rock in Rio 2022
Stephanie Rodrigues
No ano passado, o espetáculo visual cósmico, com lasers, fantoches e pulseirinhas coloridas, passou pelo Brasil em 11 apresentações de estádios, com entradas esgotadas.
Ainda assim, fãs mais antigos torcem o nariz — e torcem por algum indício de retorno da banda às raízes. Esses podem desencanar: o “Moon Music” segue a mesma atmosfera etérea-edificante do trabalho anterior de 2021, o que dá nome à turnê quase bilionária.
Nesses dois álbuns, “Music of the Spheres” e “Moon Music”, o ponto alto são as participações. O primeiro tem Selena Gomez e o grupo de k-pop BTS no auge. O novo disco traz a cantora nigeriana Ayra Starr enriquecendo os vocais de “Good Feelings”, pop funkeado sobre a importância de cultivar bons sentimentos.
Em “We Pray”, louvor com levada de rap, está o também nigeriano Burna Boy, outro astro do afrobeat. Com hits e artistas escalando nas paradas, o pop africano ganhou força global em 2024. Mas o que poderia ser uma boa referência no álbum do Coldplay acaba diluído em melodias que parecem de inteligência artificial.
O disco consegue ser, ao mesmo tempo, sem referências e sem identidade: os arranjos não se conectam de verdade com nenhum movimento musical. Já as letras falam de um mundo sem complexidade, onde apenas o poder do amor é capaz de resolver problemas geopolíticos e unir nações em guerra.
“One World”, a música que fecha o “Moon Music”, tem Chris Martin em um instrumental onírico repetindo as palavras “um mundo, apenas um mundo”, para depois concluir: “No fim, é só amor”.
Capa de ‘Moon Music’, 10º álbum do Coldplay
Divulgação
Escolha seu lugar
Não é exatamente para ouvir música que os fãs lotam as apresentações do Coldplay. Com ornamentações de todo tipo, os shows do grupo são vendidos como “experiências” que agradam também outros sentidos.
Mas, se ao vivo a combinação com elementos visuais ajuda a criar um clima mágico, no trabalho de estúdio tudo se torna bem mais monótono.
O Coldplay não está interessado na música em si, mas em guiar as sensações do público. E, sem pirotecnia ou chuva de papel picado, a experiência fica mais parecida com uma palestra motivacional.
Na música-título, que abre o álbum, há um instrumental ambiente de quase dois minutos, perfeito para os espectadores irem escolhendo seus lugares no auditório. Depois, o “Moon Music” encaminha o ouvinte para se animar em “Feels Like I’m Falling in Love”; para refletir em “We Pray”; se empoderar em “IAAM”; se emocionar ao lembrar de tempos mais difíceis em “All My Love”.
Quem consegue deixar o mau humor de lado para se entregar de corpo e alma a esse tipo de vivência pode dar o play tranquilo. Vai ser divertido. Os outros provavelmente vão achar um tanto cafona.
Pop
Por que a cultura do estupro é tão comum na indústria musical e o que Sean Diddy tem a ver com isso
Com mais de 200 páginas, documento reúne dezenas de casos de magnatas da música americana acusados de cometer crimes sexuais e de assumir posturas controversas. Sean ‘Diddy’ Combs
Chris Pizzello/Invision/AP
O caso Diddy ainda parece distante de uma conclusão, mas, sem dúvidas, já é um marco na indústria da música. Há, inclusive, expectativas de que se torne o próximo MeToo, movimento que chacoalhou Hollywood em 2017 com uma onda de denúncias de crimes sexuais.
Preso em 16 de setembro, Dsddy se diz inocente e aguarda julgamento. Mas ele não foi o único músico a entrar na mira da Justiça nessas últimas semanas. Quem também foi processado é o astro country Garth Brooks, acusado de estupro, o que é negado por ele.
Dominado por homens, o setor musical tem uma extensa lista de denúncias e condenações por assédio e abuso. Isso é tão frequente que há uma naturalização do problema, o que acaba levando à chamada cultura do estupro.
“Por décadas, a indústria da música tem tolerado, perpetuado e, muitas vezes, comercializado uma cultura de abuso sexual contra mulheres e meninas menores de idade. Milhares de artistas, executivos e acionistas lucraram bilhões de dólares, enquanto se envolviam e/ou encobriam comportamentos sexuais criminosos”, diz o texto introdutório do relatório “Sound Off: Make the Music Industry Safe” (ou “Som desligado: Torne a Indústria da Música segura”, em português), publicado em fevereiro deste ano.
Com mais de 200 páginas, o documento reúne dezenas de casos de magnatas da música americana acusados de cometer crimes sexuais e de assumir posturas controversas. São histórias que vão dos anos 1950 a 2024.
A constante negligência de denúncias, investigações e até sentenças judiciais estimula crimes sexuais no mercado musical. É o que aponta o relatório, elaborado por uma coalizão entre os grupos feministas Lift Our Voices, Female Composer Safety League e Punk Rock Therapist.
Caso Diddy: entenda o que é fato sobre o caso
Sexo, drogas e rock n’ roll
“Para desenvolver uma marca estética de alguns artistas, a indústria usa essa cultura a seu favor”, diz Nomi Abadi, pianista e fundadora da Female Composer Safety League, rede de suporte a compositoras vítimas de abuso sexual e assédio. Ela conversou com o g1 por videochamada. “É por isso que tem tanto músico acusado impune.”
Ela cita o famoso lema “sexo, drogas e rock n’ roll”. Para a artista, a ideia é menos sobre um espírito roqueiro e mais sobre uma dinâmica de poder que está presente em todos os gêneros musicais. É uma forma de relativizar histórias de mulheres que alegam terem sido drogadas e violadas sexualmente em festas com músicos, executivos, produtores e outros profissionais do setor.
De fato, não é raro encontrar esse tipo de queixa no meio musical. O próprio Diddy é acusado de drogar e estuprar mulheres durante seus festões luxuosos, chamados de “white parties” e “freak-off”. Inclusive, há relatos de que ele teria coagido algumas convidadas a usar fluidos intravenosos para recuperação física após submetê-las a longas e violentas performances eróticas.
O músico nega todas as acusações que levaram à sua prisão. Quanto ao caráter libertino de suas festas, ele sempre gostou de fazer menções, se gabando dos eventos.
Sean ‘Diddy’ Combs em foto de 2017, em Nova York.
Lucas Jackson/Reuters
“Todos nós já sabíamos. Por muito tempo, ouvimos histórias sobre essas festas”, afirma Nomi. “Eu conheci uma vítima de P. Diddy. Minha amiga esteve em uma dessas festas… Ninguém a escutou. Ninguém se importou com ela.”
Os eventos, que rolavam desde os anos 2000, eram privados — a lista de convidados do rapper reunia atores, músicos, empresários e políticos. Jay-Z, Will Smith, Diana Ross, Leonardo DiCaprio, Owen Wilson, Vera Wang, Bruce Willis e Justin Bieber são algumas das celebridades que compareceram aos encontros.
“O que tinha nessas festas era coisa muito ruim. E mesmo envolvendo tantas pessoas, continuava acontecendo”, continua Nomi. É mais ou menos o que também afirmou a cantora Cassie, ex-namorada de Diddy, em 2023, quando ela abriu um processo contra ele, alegando ter sido estuprada e violentada por mais de uma década. Na ação, que já foi encerrada (sem os detalhes divulgados), a artista afirmou que os supostos crimes do rapper eram testemunhados por muita gente “tremendamente leal” que nunca fazia nada para impedi-lo.
Sean ‘Diddy’ Combs
Richard Shotwell/Invision/AP
Desde que fundou a Female Composer Safety League, Nomi tem tido contato com várias denúncias de agressão sexual no setor da música. “Uma coisa que me surpreendeu quando comecei a frequentar esse meio [de dar suporte a vítimas] é que cada sobrevivente tem sua própria versão da mesma história. As circunstâncias são diferentes. O que aconteceu com cada pessoa é único. Mas todas elas querem ser validadas, compreendidas e terem seus empregos mantidos”, afirma ela. “São os mesmos medos e os mesmos desejos.”
Anos atrás, a artista moveu processos contra Danny Elfman, compositor de trilhas de blockbusters como “Batman” e “Beetlejuice”. Nas ações, ela alegou ter sido vítima de crimes sexuais. Ele nega. Os dois entraram em um acordo com termos não divulgados.
A cultura externa
Também em entrevista ao g1, a pesquisadora de rap Nerie Bento analisa que, na indústria, a cultura do estupro é atrelada à desigualdade de gênero do mercado, além da própria influência de quem está de fora.
“É uma cultura que permeia toda a sociedade, então, obviamente vai estar aqui também”, diz ela. “E a própria música em si… A gente tem muita música misógina que contribui com isso.”
Neire menciona, então, a erotização de corpos femininos em videoclipes de cantores famosos como o próprio Sean Diddy, o que, segundo ela, também endossa a cultura do estupro, ao objetificar a figura da mulher.
O apelo às gravadoras
O relatório “Sound Off” também faz menções à erotização feminina no setor. Além disso, critica as três maiores empresas do mercado fonográfico (Warner Music, Universal Music e Sony Music), propondo que adotem as seguintes demandas:
O fim de NDAs (Non-disclosure agreements, na sigla em inglês), ou seja, acordos de confidencialidade — prática frequente para o encerramento desse tipo de processo no meio musical;
Uma lista pública dos músicos, executivos, gerentes, produtores e outros profissionais acusados de má conduta sexual;
Adoção de protocolos institucionalizados que estimulem a denúncia, não o silêncio;
Investigações conduzidas por partes externas
A defesa de leis que derrubem a prescrição em crimes sexuais
Demandas que surgem porque, segundo a coalizão do relatório, essas gravadoras “ignoraram acusações, silenciaram vítimas e até permitiram o abuso” por décadas.
O g1 entrou em contato com as assessorias da Warner, Universal e Sony, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem.
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