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Militares na Bolívia: o que se sabe sobre 'mobilizações irregulares' denunciadas por presidente
A mídia local publicou nesta quarta-feira (26) imagens de tropas posicionadas na Plaza Murillo, em La Paz, onde fica a sede do governo. ‘Denunciamos as mobilizações irregulares de algumas unidades do Exército Boliviano’, escreveu o presidente boliviano, Luis Arce, em rede social
Getty Images via BBC
O presidente da Bolívia, Luis Arce, afirmou na quarta-feira (26) que estão ocorrendo “mobilizações irregulares” dos militares no país.
“Denunciamos as mobilizações irregulares de algumas unidades do Exército Boliviano. A democracia deve ser respeitada”, disse, em postagem na rede social X.
A mídia local publicou imagens de tropas posicionadas na Plaza Murillo, em La Paz, onde fica a sede do governo, enquanto a emissora Bolivia TV noticiou a entrada de soldados no palácio do governo.
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O general Juan José Zuñiga, que até terça-feira (25/6) era chefe do Exército antes de ser demitido, declarou à imprensa que há uma “mobilização de todas as unidades militares” devido “à situação do país”.
Por sua vez, o ex-presidente Evo Morales disse que “está se formando um golpe de Estado”.
“Neste momento, o pessoal das Forças Armadas e tanques estão posicionados na Plaza Murillo. Convocaram uma reunião de emergência para as 15h no Estado-Maior do Exército em Miraflores com uniformes de combate”, escreveu no X.
Diante dos últimos acontecimentos, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, disse que condena “da forma mais contundente” o que está acontecendo no país sul-americano.
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“O Exército deve submeter-se ao poder civil legitimamente eleito. Enviamos nossa solidariedade ao presidente da Bolívia, Luis Arce Catacora, ao seu governo e a todo o povo boliviano”, disse Almagro.
“A comunidade internacional, a OEA e a Secretaria-Geral não tolerarão qualquer violação da ordem constitucional legítima na Bolívia ou em qualquer outro lugar.”
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‘Como eu sou um amante da democracia, eu quero que a democracia prevaleça na América Latina’, disse Lula quando questionado sobre situação da Bolívia
EPA-EFE via BBC
Questionado por jornalistas sobre o tema na quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ter pedido informações ao Itamaraty sobre o tema e ressaltou ser necessário primeira ter certeza sobre o que ocorre no país .
“Eu o ministro Mauro [Vieira, de Relações Exteriores] ligar para a Bolívia, ligar para o presidente [boliviano], ligar para o embaixador brasileiro, para a gente ter certeza, para ter uma posição”, disse Lula durante uma visita a uma exposição de ônibus escolares do Programa Caminho da Escola-Novo PAC.
“Mas, como eu sou um amante da democracia, eu quero que a democracia prevaleça na América Latina, golpe nunca deu certo.”
A BBC News Brasil procurou o Itamaraty para obter um posicionamento da pasta sobre o tema, mas ainda não houve resposta.
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Cidadão dos EUA morre em bombardeio israelense no Líbano
Kamel Ahmad Jawad foi um dos mortos dos bombardeios israelenses diários ao território libanês. Kamel Ahmad Jawad, de Michigan, foi morto no Líbano em um ataque aéreo israelense em 1º de outubro de 2024.
Reprodução/redes sociais
Um americano foi morto no Líbano durante um bombardeio israelense nesta semana, segundo o Departamento de Estado norte-americano. As informações foram divulgadas nesta sexta-feira (4).
Kamel Ahmad Jawad, de Dearborn, Michigan, foi morto no Líbano em um ataque aéreo israelense na terça-feira (1º), de acordo com sua filha, um amigo e a congressista dos EUA que representa seu distrito.
O governo Biden está trabalhando para entender as circunstâncias do incidente, segundo o porta-voz Matthew Miller. Os Estados Unidos são o principal aliado de Israel, que realiza bombardeios diários contra diversos locais do Líbano, inclusive a capital Beirute, e uma operação terrestre contra alvos militares do grupo extremista libanês Hezbollah. (Leia mais abaixo)
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O porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, disse no início desta semana que Washington acreditava que Jawad era um residente permanente legal, e não um cidadão americano. Na sexta-feira, o departamento afirmou que ele era cidadão dos EUA.
“Estamos cientes e alarmados com os relatos da morte de Kamel Jawad, que confirmamos ser cidadão dos EUA”, disse o porta-voz.
“Como temos observado repetidamente, é um imperativo moral e estratégico que Israel tome todas as precauções possíveis para mitigar danos a civis. Qualquer perda de vida civil é uma tragédia”, disse Miller.
Israel afirma que está atacando militantes do Hezbollah, apoiados pelo Irã, que têm lançado foguetes em Israel desde o início da guerra em Gaza, há um ano.
Sua recente campanha militar no Líbano matou centenas e feriu milhares, de acordo com o governo libanês, que não informou quantas das vítimas eram civis ou membros do Hezbollah. O bombardeio israelense também desalojou mais de 1,2 milhão de libaneses.
A governadora de Michigan pediu ao governo dos EUA que faça mais para resgatar americanos presos no Líbano, muitos deles de Michigan, durante a ofensiva militar de Israel no país.
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Mais de 1.900 mortos
Em menos de duas semanas, os bombardeios de Israel ao Líbano já deixaram 1.974 pessoas mortas, afirmou nesta quinta-feira (3) o Ministério da Saúde libanês.
Desse total, 127 eram crianças, ainda de acordo com o ministério.
Mais de 6 mil pessoas também ficaram feridas em decorrência dos bombardeios.
O número ultrapassou o balanço total de mortos na guerra do Líbano em 2006 — quando Israel também invadiu o país vizinho para lutar contra o Hezbollah. Em pouco mais de um mês, o conflito teve um total de 1.191 mortos, entre civis, soldados e membros do Hezbollah.
No conflito atual, as Forças Armadas de israelenses começaram a bombardear o território libanês em 20 de setembro, dias depois de anunciar uma nova fase da guerra, com foco no norte de Israel, perto da fronteira com o sul do Líbano. A região é o reduto do Hezbollah
No último dia 30, Israel invadiu o Líbano por terra. Nesta quinta-feira, dois novos ciclos de bombardeios atingiram o centro de Beirute, matando nove pessoas e ferindo outras 14.
Crise humanitária grave
Durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU na quarta-feira (2), o representante interino do Líbano na ONU, Al-Sayyid Hadi Hashim, afirmou que o país foi empurrado para uma crise humanitária grave, com milhares de pessoas desabrigadas.
Segundo Hashim, um milhão de libaneses precisaram deixar suas casas por causa do conflito. O país também abriga 2 milhões de sírios deslocados, além de 500 mil palestinos refugiados.
“O que está acontecendo agora, com essas mortes, pessoas desabrigadas e destruições sem precedentes, não pode ser mais tolerado ou ignorado. As crianças dos subúrbios do sul de Beirute estão dormindo nas ruas”, afirmou.
Do lado de Israel, 50 soldados morreram em confrontos diretos com membros do Hezbollah no sul do Líbano, segundo as Forças Armadas israelenses. Oito deles foram mortos na quarta-feira (2) em uma emboscada do grupo extremista em um vilarejo no sul.
O representante de Israel na ONU, Danny Danon, disse que o país enfrenta ataques diretos à própria existência. “Essa é a realidade que enfrentamos todos os dias: terror nas fronteiras, mísseis sobre nossas cabeças, balas nas ruas. O Conselho [de Segurança da ONU] precisa entender o cenário em que Israel é forçado a viver”, disse.
O representante do Líbano rebateu o argumento de Israel e disse ser “mentira” que as forças israelenses tenham feito ataques precisos e “cirúrgicos”.
“Os prejuízos aos civis e à infraestrutura civil são imensos”, afirmou Hashim. “Hoje, o Líbano está preso entre a máquina de destruição de Israel e a ambição de outros na região. As pessoas do Líbano rejeitam essa fórmula fatal. O Líbano merece vida.”
O governo do Líbano pediu ao Conselho de Segurança da ONU o envio de ajuda humanitária urgente e apelou por um aporte financeiro de US$ 426 milhões (R$ 2,3 bilhões). O país também pediu para que outras nações pressionem Israel para a aprovação de um cessar-fogo de 21 dias proposto por França e Estados Unidos.
“O Conselho de Segurança deve tomar as medidas para evitar uma implosão do Oriente Médio”, afirmou Hashim.
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Entenda o conflito
Entenda o conflito no Oriente Médio e a possibilidade de uma guerra geral
Israel disse que está fazendo uma operação militar contra o grupo extremista Hezbollah. Embora tenha atuação política no Líbano, a organização possui um braço armado com forte influência no país. Além disso, o Hezbollah é apoiado pelo Irã e é aliado dos terroristas do Hamas.
Os extremistas têm bombardeado o norte de Israel desde outubro de 2023, em solidariedade ao Hamas e às vítimas da guerra na Faixa de Gaza.
Nos últimos meses, Israel e Hezbollah viveram um aumento nas tensões. Um comandante do grupo extremista foi morto em um ataque israelense no Líbano, em julho. No mês seguinte, o grupo preparou uma resposta em larga escala contra Israel, que acabou sendo repelida.
Mais recentemente, líderes israelenses emitiram uma série de avisos sobre o aumento de operações contra o Hezbollah.
O gatilho para uma virada no conflito veio após os seguintes acontecimentos:
Nos dias 17 e 18 de setembro, centenas de pagers e walkie-talkies usados pelo Hezbollah explodiram em uma ação militar coordenada.
A imprensa norte-americana afirmou que os Estados Unidos foram avisados por Israel de que uma operação do tipo seria realizada. Entretanto, o governo israelense não assumiu a autoria.
Após as explosões, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse que estava começando “uma nova fase na guerra”.
Enquanto isso, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prometeu que levará de volta para casa os moradores do norte do país, na região de fronteira, que precisaram deixar a área por causa dos bombardeios do Hezbollah.
Segundo o governo, esse retorno de moradores ao norte do país só seria possível por meio de uma ação militar.
Em 23 de setembro, Israel bombardeou diversas áreas do Líbano. O dia foi o mais sangrento desde a guerra de 2006.
Em 27 de setembro, Israel matou o chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, por meio de um bombardeio em Beirute.
Em 30 de setembro, Israel lançou uma operação terrestre no Líbano “limitada e precisa” contra alvos do Hezbollah.
Em 1º de outubro, o Irã atacou Israel com mísseis como resposta à morte de Nasrallah e outros aliados do governo iraniano. Os mísseis iranianos, no entanto, foram interceptados pelo sistema de defesa israelense, o chamado Domo de Ferro.
Veja onde fica o Líbano
Arte/g1
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Quais são as chances de guerra total no Oriente Médio?
Conflitos que começaram no ano passado, entre Israel e o Hamas, agora incluem mais países e grupos militantes. Jornalistas da BBC analisam possibilidade de tensão no Oriente Médio desencadear um conflito global. Fumaça e chamas no sul de Beirute em 3 de outubro de 2024.
REUTERS/Amr Abdallah Dalsh
A guerra na Faixa de Gaza está longe do fim.
Israel está invadindo o sul do Líbano por terra e o Irã já lançou quase 200 mísseis em direção a Israel, que também bombardeou os rebeldes houthis no Iêmen.
A contínua escalada da violência levou políticos e analistas de todo o mundo a expressar seu temor de uma guerra total no Oriente Médio.
Por isso, perguntamos aos correspondentes da BBC na região quais as possibilidades de que isso venha a acontecer e se uma guerra maior na região poderia desencadear um conflito global.
Nawal Al-Maghafi, repórter de investigações internacionais
Para descrever a situação atual no Oriente Médio, é comum recorrer à expressão “à beira do precipício”.
Mais de 40 mil vidas já foram perdidas em Gaza e mais de 1 mil mortes ocorreram no Líbano em apenas uma semana.
O custo humanitário é colossal. Milhões de pessoas foram deslocadas e áreas inteiras estão em ruínas. A perspectiva de cair naquele precipício é assustadora.
Estamos presenciando uma das mais perigosas crises verificadas na região nas últimas décadas.
Na semana passada, houve comemorações em Israel após a morte do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah. A eliminação de Nasrallah e de Ismail Haniyeh, líder do Hamas, pode ter trazido satisfação momentânea para as pessoas que desejam destruir o chamado Eixo da Resistência do Irã, mas as comemorações, sem dúvida, são prematuras.
É inegável que Israel causou baixas significativas para o Hezbollah em seus ataques dirigidos que eliminaram líderes importantes.
A campanha contra o Hamas já dura um ano e gerou impactos devastadores para milhões de pessoas na Faixa de Gaza. Ela reduziu significativamente as capacidades do grupo, mas é improvável que venha a marcar o fim do Hamas como importante força política e militar.
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Nem todos concordam neste ponto. Mas as pessoas que discordam não percebem como esses grupos constroem e sustentam seu alcance e sua influência. São movimentos profundamente institucionalizados e indissociavelmente incorporados ao tecido social e político no qual eles operam.
A morte de Nasrallah e a reação do Irã deixaram a região perigosamente próxima de uma guerra total.
A retórica dos líderes israelenses após o ataque dos mísseis iranianos sugere que a intensificação do conflito é inevitável, envolvendo diretamente os dois inimigos, além das forças apoiadas pelo Irã no Líbano, Síria, Iêmen e Iraque, bem como os aliados de Israel no Ocidente, incluindo os EUA e o Reino Unido.
Agora, a questão iminente é como Israel irá retaliar o ataque.
“Esta é a maior oportunidade de mudar a face do Oriente Médio dos últimos 50 anos”, declarou no X, antigo Twitter, o ex-primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett. Ele sugere que Israel ataque as instalações nucleares iranianas para “inviabilizar totalmente aquele regime terrorista”.
Se as suas palavras forem indicações das intenções oficiais, podemos estar à beira de algo realmente sem precedentes e devastador para a região.
Desde o início da guerra em Gaza, os esforços diplomáticos para reduzir o conflito falharam repetidamente. As principais potências se mostraram incapazes de refrear ou até mesmo de influenciar significativamente os combates.
Este fracasso contínuo chama a atenção para uma ordem global profundamente fraturada, incapaz de se reunir para fazer valer a legislação internacional ou as próprias regras vigentes de combate. Esta fratura parece destinada a se aprofundar ainda mais, com consequências desastrosas para a região e seu povo.
Fortes explosões são vistas perto do aeroporto de Beirute, capital do Líbano
AP Photo/Hussein Malla
Nisrine Hatoum, correspondente da BBC News Árabe em Beirute, no Líbano
Os libaneses não estão preparados para enfrentar uma guerra total.
É claro que estão aumentando os temores de uma guerra total nos países vizinhos, como a Síria, Irã, Iraque, Iêmen e, talvez, na Jordânia. Estes temores se multiplicaram depois dos ataques de mísseis do Irã contra Israel na terça-feira (1/10) e com a possibilidade de novos ataques iranianos.
Se o Irã atacar novamente, os Estados Unidos e outros países ocidentais que apoiam Israel poderão intervir, aumentando ainda mais as possibilidades de uma guerra total.
Israel está atacando o grupo militante Hezbollah no Líbano, não o exército libanês. E a posição oficial libanesa é de tentar evitar uma guerra maior.
Aqui, as autoridades estão trabalhando 24 horas por dia, com esforços diplomáticos liderados pela França, para chegar a um acordo de cessar-fogo. Todo o trabalho tem como objetivo implementar a Resolução 1701 das Nações Unidas, que respalda e dá poder ao exército libanês, deslocando-o para o sul do Líbano.
Internamente, persistem os esforços para eleger um presidente e ativar as instituições constitucionais.
Aqui no Líbano, nunca houve disposição para a guerra. As pessoas estão cansadas de conflitos, principalmente agora que enfrentam uma longa crise econômica, que persiste desde outubro de 2019.
A maioria das pessoas deseja viver em paz e evitar a guerra. Alguns libaneses acreditam que foram arrastados para uma guerra que não é sua.
Muitos acreditam que chegou a hora de interromper o conflito árabe-israelense, para poderem viver em paz de forma permanente.
Só será possível evitar uma guerra total por meio de esforços diplomáticos, para que o Líbano não entre em colapso.
As guerras anteriores comprovaram que as operações militares não forneceram soluções duradouras e que recorrer ao diálogo e aos meios diplomáticos pode pôr fim ao conflito de forma mais eficaz.
Se olharmos para trás, em 2006, a guerra contra Israel durou apenas 34 dias, em circunstâncias diferentes. Não havia uma guerra em Gaza, nem envolvimento da Síria, Iraque, Irã e Iêmen.
Não podemos esquecer que, ao contrário do que aconteceu durante a guerra de 2006, existem agora diversas forças regionais envolvidas. E o Líbano, oficialmente, é um Estado fraco, com um exército incapaz de assumir o controle.
Terroristas abriram fogo contra pessoas em Jaffa, no sul de Tel Aviv
Telegram/Reprodução
Muhannad Tutunji, correspondente da BBC News Árabe em Jerusalém
O Oriente Médio vem presenciando eventos sem precedentes, que podem potencialmente resultar em um conflito regional significativo ou até mesmo global.
A atual escalada entre Israel e o Hezbollah, ou até mesmo o Irã, indica a possibilidade de que ocorra uma guerra total em algum momento.
Os recentes eventos significativos – como o assassinato do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, e o assassinato por parte de Israel do secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah, e de importantes líderes políticos e militares das duas organizações – não levaram a uma guerra regional no Oriente Médio.
Como jornalistas que acompanham os acontecimentos em Israel e suas guerras do passado contra o Hezbollah, suspeitamos que o assassinato de Hassan Nasrallah poderia gerar imediatamente uma guerra total que talvez envolvesse o Irã. Mas isso não aconteceu.
As forças regionais sempre lutam para evitar que esses eventos deem início a uma guerra regional e os Estados Unidos desempenham um papel significativo neste particular.
Estes esforços podem ter tido sucesso no curto prazo, mas permanece a questão se os ataques recíprocos em andamento entre Israel e o Irã poderão gerar uma guerra total irreversível.
O gatilho para uma guerra regional, que poderia gerar um conflito global, está entre Israel e o Irã. Ele quase foi disparado em abril, quando Israel atacou o consulado iraniano na Síria, levando o Irã a lançar do seu território centenas de ataques aéreos contra Israel.
Mas os Estados Unidos conseguiram conter a situação.
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Na época, relatamos uma conversa entre o presidente americano Joe Biden e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. O contato se deu em um momento de “emoções exacerbadas” pouco depois do ataque, que incluiu cerca de 100 mísseis balísticos disparados simultaneamente em direção a Israel.
Durante a ligação, os dois líderes discutiram “como desacelerar e examinar as coisas”. Os Estados Unidos também declararam que não apoiariam Israel em nenhum ataque retaliatório.
Mas a atual série de eventos, incluindo os assassinatos de Haniyeh e Nasrallah e os ataques dirigidos por Israel ao Hezbollah, trouxeram de volta ao Irã o dilema de reagir diretamente, com mais força do que antes.
A reação de Israel, como alertaram suas autoridades, permanece um fator fundamental para determinar a possibilidade desta escalada dos confrontos.
A principal questão é se Israel realmente pretende atacar o Irã e arrastar o país para uma guerra total, possivelmente para se aproveitar da situação e atingir as instalações nucleares iranianas. Este é um objetivo de Israel há muito tempo.
Alguns podem recear que os ataques iranianos contra Israel, embora possam ser contidos por causarem danos materiais e não humanos, venham a alterar a dinâmica das possíveis intenções de Israel.
Benjamin Netanyahu tenta criar mudanças significativas no Oriente Médio. Ele acredita que este é um objetivo impossível sem atacar o Irã, que Israel descreve como a “cabeça da cobra”.
Existe uma sensação de euforia em Israel, desde suas conquistas contra o Hezbollah. Alguns podem acreditar que Israel poderia tomar medidas maiores contra o Irã, que não possam ser contidas.
Esta decisão geraria uma guerra regional. E, se o Irã for significativamente atingido, a guerra poderá envolver outros países, potencialmente gerando um conflito global.
A intenção de Israel de pôr fim ao programa nuclear iraniano pode ser o motivo desta guerra maior. E os ataques diretos do Irã contra Israel poderão servir de pretexto para o conflito.
Mas a grande questão é: os Estados Unidos irão permitir que Israel siga adiante?
Eman Eriqat, correspondente da BBC News Árabe nos territórios palestinos
Uma mescla de alegria e medo pode ser a descrição do sentimento geral dos palestinos na terça-feira (1/10) à noite, quando o Irã lançou cerca de 200 mísseis em direção a Israel.
Muitas pessoas aguardavam este momento desde o início da guerra na Faixa de Gaza. Eles acreditavam na importância da interferência externa para apoiar Gaza e os territórios palestinos.
Os locais da queda dos mísseis iranianos nos territórios palestinos se transformaram em cenário de fotos para a posteridade. Os palestinos acreditam que esta pode se tornar uma guerra total.
O assassinato do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, após a morte do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em julho, criaram o cenário para uma guerra maior.
Aqui, o estado de espírito fez com que muitos palestinos revivessem as lembranças da primeira e da segunda Intifada. Mesmo os que vivenciaram a “Nakba” em 1948 dizem que a história está se repetindo.
A Nakba ocorreu em 14 de maio de 1948, quando Israel declarou sua independência. No dia seguinte, começava uma guerra que fez com que até 750 mil palestinos que moravam naquelas terras fugissem ou fossem expulsos de suas casas.
Nos territórios palestinos hoje em dia, muitas pessoas acreditam que a situação atual indica que a ofensiva de Israel atingiu um novo nível, que poderá ser muito mais sangrento.
Por muitos anos, a Autoridade Palestina destacou a importância de:
Promover soluções políticas que suspendam as operações militares.
Não entrar em conflitos e buscar soluções políticas que protejam e favoreçam a implementação da solução de dois Estados.
Eles acreditam que este caminho ofereceria aos palestinos um Estado dentro das fronteiras de 1967, ao lado de Israel.
Desde 7 de outubro de 2023, data de início da mais recente guerra na Faixa de Gaza, o presidente palestino Mahmoud Abbas convocou a comunidade internacional a intervir e anunciar um cessar-fogo imediato.
Seus apelos receberam apoio internacional, mas, em terra, as operações militares continuam, reforçando em muitos palestinos a crença de que a possibilidade de uma guerra total na região é muito maior do que as chances de retomada do processo de paz.
Irã voltou a atacar Israel pela segunda vez este ano. Foto mostra mísseis sendo interceptados no céu da cidade de Ashkelon, em Israel.
Reuters via BBC
Kasra Naji, correspondente da BBC News Persa
A decisão de atacar Israel diretamente do Irã com cerca de 200 mísseis balísticos não foi uma decisão fácil para o Líder Supremo do Irã, Ali Khamenei.
Ele normalmente não toma decisões rápidas sem consideração adequada. Khamenei prefere o que ele próprio chama de “paciência estratégica”.
Mas ele e seu governo sofreram intensa pressão dos seus próprios políticos de linha dura e dos membros das suas milícias aliadas na região, para reagir militarmente à eliminação da liderança do Hezbollah por parte de Israel.
Os políticos de linha dura também pressionaram para que o país reagisse à morte de um importante general da Guarda Revolucionária, em um ataque em massa ao seu esconderijo no sul de Beirute.
O Irã sofreu perdas importantes de prestígio em julho, por não reagir ao assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, na capital iraniana, Teerã. Acredita-se que a explosão que o matou tenha sido resultado do trabalho das operações de inteligência de Israel no Irã.
Mas o líder supremo do Irã sabe que seu país não é capaz de enfrentar uma guerra maior.
Militarmente, o Irã não é páreo para Israel, que detém superioridade quase completa sobre o Irã em poderio aéreo. O espaço aéreo do Irã, em grande parte, é aberto para os aviões israelenses.
Economicamente, o Irã está de joelhos, após muitos anos de sanções dos Estados Unidos e de outros países. E, politicamente, o governo é muito impopular entre o povo iraniano.
Poucos cidadãos iranianos apoiariam uma guerra contra Israel, com tantos outros problemas domésticos importantes. Eles reconhecem que a guerra poderia gerar mais sanções e aumento das dificuldades econômicas. Muitos não veem Israel como inimigo.
Mas o líder supremo precisou correr o risco, na esperança de que um ataque controlado contra alvos militares e de inteligência possa causar apenas uma reação similar, que, segundo seus cálculos, o Irã poderá absorver.
Mundo
Brasileiros contam como foi para fugir de aldeias bombardeadas no Líbano: ‘Vimos bombas caindo ao longo do caminho’, diz jovem
A jovem Amena Yehia Atwi, de 20 anos, e Mohamed Atwi, de 33, deixaram suas casas, no Sul do Líbano, com medo de serem atingidos e foram para o Norte do país. Ambos os trajetos não levariam mais do que 1h30, mas chegaram a 12h. Brasileiros fogem de aldeias bombardeadas no Líbano
Reprodução
Uma viagem de cerca de 80 quilômetros que poderia ser feita em pouco mais de 1 hora se tornou um dos trajetos mais traumáticos e tristes de milhares de pessoas do Sul do Líbano que tentavam escapar de mais um bombardeio de Israel no país. Famílias levaram mais de 12 horas na estrada.
Os brasileiros Amena Yehia Atwi, de 20 anos, e Mohamed Atwi, de 33, fugiram de suas aldeias em direção ao norte do país durante o ataque do dia 23 de setembro, há pouco mais de uma semana, que deixou mais de 500 mortos em um só dia.
A família de Amena levou mais de 8 horas para conseguir chegar no Norte e encontrar um lugar para ficar.
“Vimos bombas caindo ao longo do caminho e famílias com crianças dormindo na beira da estrada, sem abrigo ou segurança. O medo foi constante, não sabíamos se conseguiríamos achar a um lugar para ficar. A cada som de explosão ou qualquer barulho, o medo aumentava”, relata a jovem.
Brasileiros fogem de aldeias bombardeadas no Líbano
Reprodução
“Saímos sem saber para onde ir, sem um lugar para ficar. Fomos a várias aldeias diferentes em busca de um lugar para nos abrigar. Passamos por escolas, igrejas e mesquitas que estavam abertas para pessoas deslocadas e fugindo, mas todas estavam cheias”, conta.
A jovem lembra ainda que eles tentaram alugar apartamentos ou casas, mas todos os locais estavam lotados.
“Pensamos que teríamos que dormir em nossos carros, mas, no último minuto, graças a Deus, conseguimos encontrar um lugar seguro para ficar”, relembra ela.
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Brasileiros fogem de aldeias bombardeadas no Líbano
Reprodução/Mohamed Atwi
Mohamed conta que dirigiu por mais de 12 horas até conseguir chegar na casa da irmã, em Beirute, capital do Líbano.
“Imagina ficar 12 horas dirigindo na rua, as bombas caindo por todos os lados, você nem sabe em qual segundo uma bomba vai cair no seu carro com a sua família dentro. Foi muito perigoso, passamos por uma interseção e logo depois que passamos caiu uma bomba”, conta Mohamed.
Brasileiro conta como foi fugir de cidade bombardeada no Líbano
Ele lembra que a situação na estrada era crítica. Em determinado momento, grupos começaram a fazer sanduíches para distribuir entre as famílias que estavam presas no trânsito.
“Tem pessoas que precisam de oxigênio, mulheres grávidas, crianças e bebês nessa situação. Foi um dia horrível. Graças a Deus eu tinha dinheiro, mas muitas pessoas saíram sem nada”, relembra.
Brasileiros fogem de aldeias bombardeadas no Líbano
Reprodução/Mohamed Atwi
Medo intenso e constantes sons de bombas
Os dois brasileiros, que têm origem libanesa mas nasceram em Foz do Iguaçu, ressaltam que o medo era e continua sendo constante. Mesmo em locais agora considerados seguros, eles se sentem temerosos de que o conflito continue escalonando. Nos últimos dias, o subúrbio de Beirute já foi atacado.
O dia do ataque ao Sul do Líbano, sobretudo, foi o mais traumático para as famílias.
“Eu estava na minha casa com a minha família. As bombas estavam caindo por todo lado, bem perto da minha casa. Era uma cidade que achávamos que era segura, mas uma bomba caiu a 200 metros da minha casa e quebrou todos os vidros da casa. Começamos a correr, saímos com algumas roupas, passaporte e documentos”, conta Mohamed.
Na região de Beirute onde ele está é comum ver drones de Israel sobrevoarem o local, segundo ele.
“Chegando em Beirute, esse grupo terrorista começou a atacar Beirute bem perto de onde minha irmã mora, onde estamos. Você não imagina o barulho das bombas todos os dias, nem imagina o medo que as crianças têm. Essa situação vai demorar muito a passar. O melhor é fazer esse projeto de repatriação”, destaca o homem.
‘Vivenciamos um trauma inesquecível’, diz jovem
Uma amiga de Amena e toda sua família, que moravam na mesma aldeia, foram mortos no dia do ataque, enquanto a jovem e seus familiares fugiam para o Norte.
“Na segunda-feira, 23 de agosto, foi o dia mais traumático da minha vida. Eu e minha família, assim como muitos outros, vivenciamos um trauma inesquecível. Acordamos ao som de bombas caindo perto da nossa aldeia. As explosões eram incessantes, destruindo casas e vidas ao nosso redor”, conta Amena.
“O barulho das explosões era ensurdecedor, e a cada bomba a casa tremia. Ninguém conseguiu dormir naquela noite com medo de que a próxima bomba nos atingisse ou que alguém próximo a nós fosse ferido. A cada explosão, levantávamos nossas mãos acima das cabeças, como se isso pudesse nos proteger, em um gesto de medo tentando nos manter a salvo”, continua ela.
“Passamos o dia e a noite ouvindo e vendo as explosões, enviando mensagens a amigos, rezando para que respondessem e que ainda estivessem vivos”, relembra.
Brasileiros fogem de aldeias bombardeadas no Líbano
Reprodução
Para os próximos dias, Amena tem esperança de que um acordo de cessar-fogo seja feito, mas entende que a repatriação ao Brasil também é uma opção.
“Não temos certeza do que está por vir. Embora estejamos mais seguros agora, ainda ouvimos bombas e bombas sônicas. A maioria das aldeias no Sul ainda está sendo bombardeada todos os dias, e não podemos voltar para o sul porque não é seguro. Não é fácil deixar nossa aldeia e tudo para trás”, diz a jovem.
“Temos esperança de voltar para casa, para o lugar onde uma vez nos sentimos seguros e onde guardamos todos os nossos momentos e memórias preciosas. Queremos voltar para nossa aldeia, onde estiveram todos os nossos amigos e familiares”, afirma Amena.
A família de Mohamed já recebeu o formulário do consulado para preencher as informações da repatriação.
“Nessa guerra ninguém tem certeza qual cidades são seguras”, conclui ele.
O governo brasileiro anunciou nesta terça-feira (1º) que vai iniciar a repatriação de ao menos 3 mil brasileiros que estão no Líbano. O governo estima que 21 mil brasileiros morem no país — formando a maior comunidade brasileira no Oriente Médio.
O primeiro avião da operação estava a caminho de Beirute nesta quarta (2).
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