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Os fatores que levaram os EUA ao topo do ranking de melhores países para o turismo

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Um novo relatório destaca a promoção dos recursos naturais e culturais do país, além do compromisso com a sustentabilidade e o turismo. Quase 80 milhões de pessoas viajaram para os Estados Unidos em 2019, antes da pandemia
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Os últimos quatro anos foram turbulentos para a indústria do turismo. Felizmente, em 2024, a movimentação de turistas internacionais deve finalmente retornar aos níveis pré-pandemia.
Mas o setor permanece em uma posição delicada. Afinal, a inflação que disparou mundo afora, as mudanças climáticas e as tensões geopolíticas ameaçam a continuidade do crescimento do turismo global.
Alguns países e governos vêm trabalhando melhor do que outros para minimizar os riscos e aproveitar seu potencial de viagens e turismo, segundo o Índice do Desenvolvimento de Viagens e Turismo 2024, publicado em maio pelo Fórum Econômico Mundial.
O índice avalia os países de todo o mundo com base em fatores como segurança, priorização do turismo, infraestrutura de viagens aéreas e terrestres, sustentabilidade e recursos naturais e culturais.
O ranking deste ano tem o Japão (vencedor do ano passado), Espanha, França e Austrália entre os cinco primeiros colocados. O Brasil ocupa a 26ª posição, à frente dos nossos vizinhos sul-americanos.
Mas a lista tem um novo país em primeiro lugar. Os Estados Unidos superaram seus concorrentes globais, com avaliações positivas do seu ambiente comercial, infraestrutura de transporte aéreo e recursos naturais.
As altas avaliações são um reflexo da forte infraestrutura do país, facilidade de transporte entre as cidades, diversidade dos seus destinos naturais e culturais e dos recursos de apoio ao turista, como guias nas cidades, parques e outras atrações.
“Embora existam motivos óbvios para este reconhecimento, como a diversidade dos seus cenários, sua beleza natural e a riqueza cultural, os Estados Unidos também ostentam uma estrutura bem desenvolvida de apoio ao setor de viagens e turismo”, afirma a instrutora adjunta Anna Abelson, do Centro de Hotelaria SPS Tisch, da Universidade de Nova York.
Riqueza cultural é parte do que levou ao bom desempenho do país no setor turístico
ALAMY
Esta infraestrutura atrai um enorme poder de compra. A previsão bianual de viagens nos Estados Unidos, da Associação Americana de Viagens (USTA, na sigla inglês), indica que, antes da pandemia, os visitantes internacionais gastaram US$ 180 bilhões (cerca de R$ 974 bilhões) nos Estados Unidos em 2019, gerando uma receita de cerca de US$ 2 trilhões (cerca de R$ 10,8 trilhões).
Em termos de comparação, o país mais visitado do mundo — a França — recebeu 90 milhões de visitantes em 2019, mais do que os 79,4 milhões que viajaram para os Estados Unidos. E, naquele ano, a receita dos franceses com o turismo internacional atingiu cerca de US$ 61 bilhões (cerca de R$ 330 bilhões).
É claro que a receita do turismo nos Estados Unidos despencou durante a pandemia, mas a USTA afirma que o número de visitantes deve se recuperar até 2025.
Em comparação com outros países, o governo federal americano fornece amplo apoio para o setor de viagens e turismo, especialmente mantendo e regulamentando a forte infraestrutura de aeroportos e companhias aéreas.
Mas os especialistas defendem que grande parte do sucesso do país no setor turístico pode ser justificado pela diversidade das suas cidades, pequenas e grandes, e pelo tempo e investimento financeiro dedicado para elaborar planos de turismo sustentáveis e de longo prazo.
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Ampla oferta
Com maior orçamento e quadro de funcionários, as maiores cidades dos Estados Unidos vêm concentrando seus esforços para permanecer na lembrança dos turistas internacionais. E suas enormes apostas estão atingindo seus objetivos.
“Por décadas, as principais cidades dos Estados Unidos, como Las Vegas e Nova York, assumiram uma posição proativa e agressiva na promoção dos seus destinos, com forte promoção de suas marcas, para que os consumidores se identifiquem com elas de forma duradoura”, afirma a fundadora da TK Public Relations, Taryn Scher.
‘Os Estados Unidos são privilegiados pela sua maior variedade de cenários e por terem mais cidades interessantes do que qualquer país do planeta’
GETTY IMAGES
Os megaeventos globais dos Estados Unidos — como o festival Coachella, o Super Bowl e o Mardi Gras — também atraem visitantes de todo o mundo, segundo Scher.
E não podemos esquecer o imenso sistema de parques nacionais dos Estados Unidos, com seus 63 parques e cerca de 22 milhões de hectares (quase o tamanho de todo o Reino Unido), que atrai visitantes de todo o mundo.
“Os Estados Unidos são privilegiados pela sua maior variedade de cenários e por terem mais cidades interessantes do que qualquer país do planeta, como montanhas, desertos, trópicos e pântanos”, afirma Tim Leffel, autor do livro e portal The World’s Cheapest Destinations. “Nova Orleans, Nova York, Santa Fé, Alasca e Flórida são mais diferentes do que a maioria dos países.”
Pensar globalmente, agir localmente
“Um dos principais fatores para o sucesso da indústria do turismo nos Estados Unidos são os esforços de colaboração entre as organizações turísticas locais, regionais e estaduais”, afirma a presidente e CEO (diretora-executiva) da organização Visit Conejo Valley, Danielle Borja.
Borja destaca, por exemplo, que a organização Visit California lançou recentemente a campanha “O Playground Definitivo”, para divulgar as atividades ao ar livre, culturais e de bem-estar espalhadas pelo Estado.
Mas a organização também ofereceu a oportunidade para que parceiros do setor, como a Visit Conejo Valley, destacassem atividades divertidas. Um exemplo é uma nova exposição sobre Star Wars, no Museu e Biblioteca Presidencial Ronald Reagan.
As entidades de promoção do turismo também se associam frequentemente a empresas privadas, como restaurantes e atrações turísticas particulares. Este é outro aspecto positivo da indústria norte-americana do turismo.
O Conselho Mundial de Viagens e Turismo indica que conflitos entre o papel “executor” do governo e empresas privadas podem prejudicar a colaboração e desalinhar as prioridades, mas este problema é menos pronunciado nos Estados Unidos.
O vale do Napa, na Califórnia, é um dos lugares que colheram benefícios com a estratégia americana de promoção do turismo
GETTY IMAGES
Scher também destaca como a expansão das cidades americanas que, tradicionalmente, recebem menos turistas internacionais fez crescer o número de visitantes.
“Mais recentemente, lugares como Tampa [Flórida], Savannah [Geórgia], Cincinnati [Ohio], Indianápolis [Indiana] e Louisville [Kentucky] encontraram uma forma de levar sua mensagem para criar consciência de marca e fazem isso de forma agressiva, mas estratégica”, afirma ela.
Veterana no setor, onde atua há 20 anos, Scher acredita que os Estados Unidos vêm conseguindo manter o forte crescimento do seu turismo porque os escritórios de cada Estado e de cada cidade priorizam o trabalho de marketing.
“Observamos um enorme aumento do interesse por esses destinos menores e menos conhecidos”, ela conta. “Eles ficaram populares durante a pandemia, quando as pessoas procuravam lugares com menos pessoas para visitar. E, agora, os destinos inteligentes que viram esse aumento percebem que realmente existe dinheiro no turismo.”
Os investimentos nem sempre acontecem da noite para o dia, mas lugares como Charleston (Carolina do Sul) e o vale do Napa (Califórnia) se beneficiaram de uma estratégia de longo prazo e testemunharam como ela pode beneficiar toda a economia de uma cidade.
“Mais visitantes significam mais dinheiro nos restaurantes locais, lojas e hotéis”, destaca Scher. “Cada dólar gasto localmente pelos visitantes se multiplica e permanece na comunidade, o que gera enorme impacto econômico direto. Os booms do turismo geram mais empregos e oportunidades nas comunidades.”
Dados orientadores
Leffel afirma que parte do sucesso do setor de turismo nos Estados Unidos decorre simplesmente da boa e antiga ética profissional, eficiência organizacional e confiabilidade das comunicações.
“Os órgãos de turismo dos Estados Unidos respondem aos jornalistas, acompanham campanhas de marketing, participam de conferências para melhorar seu trabalho e encontram pessoas para colaborar”, explica ele.
“Eles observam o retorno do investimento e o que está funcionando, para poderem melhorar suas campanhas no ano seguinte. Eles comparam e observam o que os outros estão fazendo com sucesso. Eles analisam regularmente além das suas fronteiras e não se satisfazem com o marketing destinado a uma base de turistas domésticos cativos.”
Leffel indica o crescimento da conferência anual IPW, uma das maiores feiras comerciais de viagens. Ela é responsável por bilhões de dólares futuros na venda de produtos turísticos norte-americanos, como acomodações, destinos e atrações, para compradores como as operadoras de turismo internacionais.
Segundo Abelson, os escritórios de turismo dos Estados Unidos e as organizações de gestão dos destinos também costumam ter centros de informação confiáveis, apoiados por forte presença digital.
“O treinamento e a formação para os profissionais do turismo vêm evoluindo em resposta às necessidades e tendências do setor”, afirma ela.
A pandemia acelerou tendências como a adoção da tecnologia de viagens (como robôs para fazer o serviço de quarto). Além disso, as novas tecnologias, como a inteligência artificial, devem mudar a forma como os turistas pesquisam e reservam suas viagens.
Os Estados Unidos costumam ter a vantagem de assumir riscos e adotar rapidamente a tecnologia em comparação com outros países.
O apoio ao setor turístico também impulsionou o treinamento, realizado especialmente por organizações como a Brand USA e a Associação Norte-Americana de Viagens (USTA, na sigla em inglês). Elas trabalham para promover os Estados Unidos como importante destino de viagem e divulgar as políticas de vistos e entrada no país.
Os Estados Unidos nunca foram conhecidos pela sua sutileza, nem por ações em pequena escala. E, quando o assunto são suas atrações turísticas, esta fórmula é sua força.
“Quando os Estados Unidos adotam uma tendência, o país não para até que ela esteja saturada”, destaca Leffel. “Veja o vinho, a cerveja artesanal e o café, ou os museus, concertos e atividades para as crianças nas cidades.”
“Nós só paramos quando ultrapassamos a todos em qualidade ou variedade.”
Os 10 principais países para o turismo mundial
Estados Unidos
Espanha
Japão
França
Austrália
Alemanha
Reino Unido
China
Itália
Suíça
O Brasil ocupa o 26º lugar.
Fonte: Índice do Desenvolvimento de Viagens e Turismo 2024, do Fórum Econômico Mundial.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Travel.
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O que aconteceu no Líbano durante as duas grandes invasões de Israel — e quais foram as consequências delas

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Israel invadiu o Líbano em seis ocasiões. Em duas delas, grandes marcas foram deixadas na sociedade libanesa. Moradores da cidade portuária de Saida, no após fugirem de um bombardeio israelense realizado em julho de 2006.
Getty Images via BBC
Nos últimos dias, Israel lançou uma série de ataques militares em alvos específicos no sul do Líbano, onde opera o grupo armado xiita Hezbollah.
O exército israelense também mobilizou tropas e alertou centenas de milhares de libaneses para deixarem suas casas e se mudarem para o norte do país. Entretanto, os bombardeios em Beirute, a capital do Líbano, que fica mais ao centro do país, continuam a acontecer e até se intensificaram.
Todos esses desdobramentos sugerem que a escalada da nova operação no Líbano será maior do que o inicialmente anunciado.
Embora esta seja a primeira incursão israelense no Líbano desde 2006, as gerações passadas foram marcadas por um histórico de invasões. Desde a independência do Líbano em 1943, Israel fez operações militares em território libanês em seis ocasiões.
A primeira delas ocorreu em 1978 e tinha como objetivo expulsar militantes palestinos da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) do sul do país.
“A operação foi curta, durou menos de uma semana, não atingiu todos os objetivos e as Nações Unidas exigiram a retirada das forças israelenses”, resume Mayssoun Sukarieh, professor de estudos do Oriente Médio no King’s College London, no Reino Unido.
As origens do conflito
Milhares de refugiados e civis foram mortos indiscriminadamente no massacre de Sabra e Shatila durante a invasão de 1982.
Getty Images via BBC
Pode-se dizer que o atual conflito entre Hezbollah e Israel no sul do Líbano, como muitos outros que acometem a região, tem as suas origens na “nakba” ou “a catástrofe palestina”.
Este foi um período histórico em que mais de 750 mil palestinos foram forçados a fugir ou acabaram expulsos de suas casas depois que Israel proclamou a sua independência do Mandato Britânico da Palestina em 14 de maio de 1948 e durante a Guerra Árabe-Israelense, que começou no dia seguinte e durou 15 meses.
Como resultado da “nakba”, mais de 100 mil palestinos, principalmente das áreas do norte do que era então conhecido como Palestina e Galileia, acabaram no Líbano. A eles juntaram-se outras ondas de refugiados que vieram de Jerusalém Oriental, da Cisjordânia e da Faixa de Gaza durante as subsequentes guerras árabe-israelenses que aconteceram em 1956 e 1967.
A partir do Acordo do Cairo em 1969, assinado pelo presidente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Yasser Arafat, e pelo chefe do exército libanês, os campos de refugiados ficaram sob o controle de um corpo da polícia militar palestina.
A OLP, que foi criada em 1964 com o objetivo de libertar os palestinos de Israel por meio da luta armada, estabeleceu uma espécie de Estado dentro do Líbano. Neste contexto, milhares de combatentes palestinos refugiaram-se e foram treinados em campos que estavam fora da jurisdição do exército libanês.
O governo do então primeiro-ministro de Israel, Menachem Begin, considerou que a presença de militantes da OLP representava um problema de segurança e decidiu agir em 1978 e depois em 1982.
A invasão israelense do Líbano em 1982 ocorreu em meio a uma sangrenta guerra civil desencadeada após um ataque das Falanges Libanesas, uma milícia cristã de direita aliada a Israel, contra um ônibus que transportava refugiados palestinos.
A guerra civil libanesa, que durou de 1975 a 1990, foi marcada por um aumento dos ataques palestinos contra alvos israelenses em todo o mundo. Um destes ataques, ocorrido em Londres, desencadearia a ira de Israel.
A invasão mais sangrenta até hoje
Tropas israelenses no oeste de Beirute em 14 de setembro de 1982.
Getty Images via BBC
Após uma tentativa de assassinato do embaixador israelense em Londres, Menachem Begin deu início a uma invasão do Líbano no dia 6 de junho que levou o exército do país às ruas de Beirute. Por meio de uma operação terrestre, Israel tentava enfraquecer ou mesmo expulsar a OLP do Líbano.
Especialistas dizem que os líderes israelenses também procuraram impor o seu aliado Bachir Gemayel, chefe das Falanges Libanesas, como presidente do Líbano — e, assim, trazer a nação árabe para a esfera de influência de Israel.
Foram dois meses de batalhas e muita destruição até que um acordo foi assinado em agosto, no qual milhares de combatentes da OLP concordaram em deixar o país. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos garantiram a proteção da população civil libanesa após a evacuação das forças da OLP.
Até então, o plano israelense parecia ter sido bem sucedido.
Em 23 de agosto, Gemayel, o chefe das Falanges Libanesas, foi eleito presidente pelo parlamento do país para um mandato de seis anos.
Mas ele nunca assumiria a presidência.
Gemayel foi morto num ataque realizado no dia 14 de setembro, durante uma reunião de seu partido no bairro de Achrafieh, em Beirute.
Sabra e Shatila: um massacre contra refugiados palestinos
Dois dias após o assassinato de Gemayel, milícias cristãs apoiadas por Israel entraram em dois campos de refugiados em Beirute e massacraram um grande número de palestinos.
“A morte de Gemayel desencadeou a ira dos falangistas. Os israelenses cercaram os campos de Sabra e Shatila e deixaram as milícias das Falanges Libanesas entrarem e massacrarem todos que encontraram”, diz o professor Mayssoun Sukarieh.
Os falangistas entraram nos campos à noite, momento em que muitos dos refugiados dormiam, depois de lançarem sinalizadores para iluminar o local.
“Eles mataram famílias inteiras que dormiam. Alguns acordaram a tempo, começaram a chamar pelos outros e a gritar que os israelenses haviam chegado e estavam matando pessoas”, complementa Sukarieh.
Muitos buscaram abrigo na mesquita local. Mas os falangistas tomaram o prédio e assassinaram aqueles que lá estavam.
Neste episódio, também foram relatados casos de violência sexual contra mulheres palestinas. Uma enfermeira que trabalha no hospital Akka, perto de Chatila, disse à BBC que os falangistas fizeram disparos de forma indiscriminada.
“Uma criança me contou que os falangistas arrombaram a porta e atiraram em toda a família; ele foi o único sobrevivente”, disse ela.
Os militantes também sequestraram outras duas enfermeiras que trabalham no mesmo hospital. Uma delas conseguiu escapar e contou à imprensa que a colega havia sido estuprada antes de ser morta.
Estima-se que entre 2 mil e 3,5 mil pessoas morreram somente neste episódio sangrento.
“O que aconteceu foi horrível. Alguns chamam de massacre, outros argumentam que foi um genocídio”, diz Sukarieh.
Os israelenses retiraram-se do local três meses após o início da invasão, mas criaram uma zona-tampão dentro do Líbano.
Do lado libanês, cerca de 20 mil pessoas — a maioria civis — foram mortas. Do lado israelense, 654 soldados morreram.
Israel continuou a ocupar a maior parte do sul do Líbano até 3 de setembro de 1983, quando se retirou para o sul do rio Awali, devido ao aumento das baixas israelenses em ataques de guerrilheiros xiitas.
Nesse mesmo ano, o Ministro da Defesa de Israel durante o massacre, Ariel Sharon, teve que renunciar ao cargo após uma investigação feita no país sobre o que aconteceu no Líbano. Em 2001, Sharon seria eleito chefe do governo de Israel.
Um novo inimigo
Família de refugiados que conseguiu fugir dos combates entre guerrilheiros palestinos e militantes xiitas em 1982.
Getty Images via BBC
Uma das consequências da grande invasão israelense no Líbano foi promover a criação do Hezbollah, dizem analistas.
Alguns líderes xiitas do Líbano queriam uma resposta militar à invasão e romperam com o Movimento Amal, um grupo político que se tornou uma das mais importantes milícias muçulmanas xiitas durante a Guerra Civil Libanesa (1975-1990).
Os rebeldes formaram um movimento militar xiita que recebeu apoio militar e logístico da Guarda Revolucionária Iraniana e foi denominado “Amal Islâmico”. Pouco depois, esta organização aliou-se a outros grupos e criou o Hezbollah.
A fundação do grupo mudaria o alvo das futuras invasões israelenses no Líbano.
“O objetivo inicial das invasões era livrar-se dos grupos paramilitares. Mas o que elas fizeram foi desencadear uma resistência mais severa contra Israel a partir do Amal e, mais tarde, com o Hezbollah”, avalia Vanessa Newby, especialista em Oriente Médio da Universidade de Leiden, na Holanda.
“Há um argumento que sugere que o aumento do uso da força simplesmente gerou uma resistência mais violenta por parte da população libanesa”, acrescenta ela.
Em abril de 1996, as forças israelenses atacaram pela primeira vez o novo inimigo, o Hezbollah, em resposta a uma série de ataques com foguetes feitas pelo grupo. Essa operação durou pouco mais de duas semanas.
Estima-se que, além de 13 combatentes do Hezbollah, cerca de 250 civis foram mortos no Líbano. Nesse ataque, não foram registradas mortes do lado israelense.
A operação foi limitada, mas as tensões entre Israel e o Hezbollah continuaram.
As Forças de Defesa de Israel (IDF) retiraram-se do sul do Líbano em 25 de maio de 2000 e, em junho, as Nações Unidas estabeleceram uma “Linha Azul”, ou uma fronteira não oficial entre o Líbano e Israel.
E esse vácuo deixado pelas FDI foi preenchido pelo Hezbollah.
A fracassada invasão do Líbano em 2006
Pessoas cobrem o rosto para lidar com cheiro de decomposição enquanto começam a remover os restos mortais dos milhares de refugiados palestinos que foram mortos no massacre de Sabra e Shatila.
Getty Images via BBC
O Hezbollah nunca reconheceu a legitimidade da “Linha Azul” traçada pelas Nações Unidas. Para o grupo, Israel continuou a ocupar ilegalmente o território libanês.
Em 2006, o Hezbollah iniciou uma série de ataques com foguetes contra cidades israelenses.
Em 12 de julho, um grupo de combatentes do grupo cruzou a fronteira com Israel, atacou dois veículos militares, matou oito soldados e fez dois reféns.
A resposta israelense foi implacável e envolveu uma operação militar que incluiu o bloqueio e um intenso bombardeio de cidades, vilas, aeroportos, pontes e muitas outras estruturas importantes no Líbano.
A guerra durou 33 dias, durante os quais o Hezbollah também lançou uma saraivada de foguetes contra Israel.
Segundo dados oficiais, 1.191 pessoas morreram no Líbano, a maioria delas civis. Em Israel, 121 soldados e 44 civis foram mortos.
O Hezbollah ficou praticamente intacto.
A Comissão Winograd, criada pelo governo israelense para avaliar o resultado da guerra, concluiu em 2008 que a operação foi um fracasso e que Israel tinha iniciado “uma longa guerra, que terminou sem uma vitória militar clara”.
O conflito atual
Forças de Israel fazem nova onda de bombardeios contra o Líbano
Quase duas décadas depois, Israel lançou outra invasão que o governo classifica como “limitada, localizada e direcionada” no sul do Líbano contra alvos do Hezbollah.
Mas as evidências mostram que este não é o caso. As FDI desencadearam uma campanha aérea implacável sobre o Líbano, atingindo mais de 3,6 mil alvos ligados ao Hezbollah.
Para os analistas, esta é a operação aérea mais intensa dos últimos vinte anos. Os ataques conseguiram, entre diversos objetivos, matar Hassan Nasrallah, líder histórico do Hezbollah.
Até o momento, outras 1,4 mil pessoas foram mortas e 900 mil foram deslocadas desde que Israel iniciou a sua operação transfronteiriça, de acordo com o governo libanês.
A analista Vanessa Newby acredita que a mais recente invasão israelense poderá desencadear uma guerra mais ampla no Oriente Médio.
Mayssoun Sukarieh, por sua vez, tem dúvidas sobre se Israel conseguirá erradicar o Hezbollah, como planejado.
“Ainda é muito cedo para saber se esse objetivo será alcançado”, acredita ele.

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Greta Thunberg é presa durante manifestação em Bruxelas

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A ativista ambiental sueca foi detida neste sábado (5) pela polícia da capital belga após se recusar a deixar o local da mobilização, que bloqueou o trânsito. O protesto era contra os subsídios às energias fósseis. Greta Thunberg em protesto ambiental em Bruxelas em 5 de outubro de 2024.
John Thys/AFP
A ativista ambiental sueca Greta Thunberg foi detida neste sábado (5) em Bruxelas, na Bélgica, junto com dezenas de manifestantes, por bloquear o trânsito durante um protesto contra os subsídios às energias fósseis.
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Thunberg, que já foi presa por desobediência civil em protestos anteriores, foi levada pela polícia belga após se recusar a deixar o local de uma mobilização, segundo a AFP.
A ativista de 21 anos integrava um grupo de manifestantes que se separou de um protesto organizado pelo movimento United for Climate Justice para pedir à União Europeia (UE) que acabasse com os subsídios aos combustíveis fósseis.
O objetivo é alcançar a neutralidade de carbono até 2050, mas essa meta “não ocorrerá sem uma eliminação imediata dos subsídios aos combustíveis fósseis”, escreveram ativistas da luta contra a mudança climática, cientistas e economistas em uma carta aos líderes da UE.
“Até que as mudanças necessárias sejam introduzidas, as pessoas continuarão saindo às ruas para fazer com que nossas vozes sejam ouvidas e cobrar responsabilidades”, acrescentaram.

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Cidadão dos EUA morre em bombardeio israelense no Líbano

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Kamel Ahmad Jawad foi um dos mortos dos bombardeios israelenses diários ao território libanês. Kamel Ahmad Jawad, de Michigan, foi morto no Líbano em um ataque aéreo israelense em 1º de outubro de 2024.
Reprodução/redes sociais
Um americano foi morto no Líbano durante um bombardeio israelense nesta semana, segundo o Departamento de Estado norte-americano. As informações foram divulgadas nesta sexta-feira (4).
Kamel Ahmad Jawad, de Dearborn, Michigan, foi morto no Líbano em um ataque aéreo israelense na terça-feira (1º), de acordo com sua filha, um amigo e a congressista dos EUA que representa seu distrito.
O governo Biden está trabalhando para entender as circunstâncias do incidente, segundo o porta-voz Matthew Miller. Os Estados Unidos são o principal aliado de Israel, que realiza bombardeios diários contra diversos locais do Líbano, inclusive a capital Beirute, e uma operação terrestre contra alvos militares do grupo extremista libanês Hezbollah. (Leia mais abaixo)
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AO VIVO: Acompanhe a cobertura do conflito no Oriente Médio em tempo real
O porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, disse no início desta semana que Washington acreditava que Jawad era um residente permanente legal, e não um cidadão americano. Na sexta-feira, o departamento afirmou que ele era cidadão dos EUA.
“Estamos cientes e alarmados com os relatos da morte de Kamel Jawad, que confirmamos ser cidadão dos EUA”, disse o porta-voz.
“Como temos observado repetidamente, é um imperativo moral e estratégico que Israel tome todas as precauções possíveis para mitigar danos a civis. Qualquer perda de vida civil é uma tragédia”, disse Miller.
Israel afirma que está atacando militantes do Hezbollah, apoiados pelo Irã, que têm lançado foguetes em Israel desde o início da guerra em Gaza, há um ano.
Sua recente campanha militar no Líbano matou centenas e feriu milhares, de acordo com o governo libanês, que não informou quantas das vítimas eram civis ou membros do Hezbollah. O bombardeio israelense também desalojou mais de 1,2 milhão de libaneses.
A governadora de Michigan pediu ao governo dos EUA que faça mais para resgatar americanos presos no Líbano, muitos deles de Michigan, durante a ofensiva militar de Israel no país.
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Bombardeios israelenses deixam rastro de destruição em Beirute, capital do Líbano
Mais de 1.900 mortos
Em menos de duas semanas, os bombardeios de Israel ao Líbano já deixaram 1.974 pessoas mortas, afirmou nesta quinta-feira (3) o Ministério da Saúde libanês.
Desse total, 127 eram crianças, ainda de acordo com o ministério.
Mais de 6 mil pessoas também ficaram feridas em decorrência dos bombardeios.
O número ultrapassou o balanço total de mortos na guerra do Líbano em 2006 — quando Israel também invadiu o país vizinho para lutar contra o Hezbollah. Em pouco mais de um mês, o conflito teve um total de 1.191 mortos, entre civis, soldados e membros do Hezbollah.
No conflito atual, as Forças Armadas de israelenses começaram a bombardear o território libanês em 20 de setembro, dias depois de anunciar uma nova fase da guerra, com foco no norte de Israel, perto da fronteira com o sul do Líbano. A região é o reduto do Hezbollah
No último dia 30, Israel invadiu o Líbano por terra. Nesta quinta-feira, dois novos ciclos de bombardeios atingiram o centro de Beirute, matando nove pessoas e ferindo outras 14.
Crise humanitária grave
Durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU na quarta-feira (2), o representante interino do Líbano na ONU, Al-Sayyid Hadi Hashim, afirmou que o país foi empurrado para uma crise humanitária grave, com milhares de pessoas desabrigadas.
Segundo Hashim, um milhão de libaneses precisaram deixar suas casas por causa do conflito. O país também abriga 2 milhões de sírios deslocados, além de 500 mil palestinos refugiados.
“O que está acontecendo agora, com essas mortes, pessoas desabrigadas e destruições sem precedentes, não pode ser mais tolerado ou ignorado. As crianças dos subúrbios do sul de Beirute estão dormindo nas ruas”, afirmou.
Do lado de Israel, 50 soldados morreram em confrontos diretos com membros do Hezbollah no sul do Líbano, segundo as Forças Armadas israelenses. Oito deles foram mortos na quarta-feira (2) em uma emboscada do grupo extremista em um vilarejo no sul.
O representante de Israel na ONU, Danny Danon, disse que o país enfrenta ataques diretos à própria existência. “Essa é a realidade que enfrentamos todos os dias: terror nas fronteiras, mísseis sobre nossas cabeças, balas nas ruas. O Conselho [de Segurança da ONU] precisa entender o cenário em que Israel é forçado a viver”, disse.
O representante do Líbano rebateu o argumento de Israel e disse ser “mentira” que as forças israelenses tenham feito ataques precisos e “cirúrgicos”.
“Os prejuízos aos civis e à infraestrutura civil são imensos”, afirmou Hashim. “Hoje, o Líbano está preso entre a máquina de destruição de Israel e a ambição de outros na região. As pessoas do Líbano rejeitam essa fórmula fatal. O Líbano merece vida.”
O governo do Líbano pediu ao Conselho de Segurança da ONU o envio de ajuda humanitária urgente e apelou por um aporte financeiro de US$ 426 milhões (R$ 2,3 bilhões). O país também pediu para que outras nações pressionem Israel para a aprovação de um cessar-fogo de 21 dias proposto por França e Estados Unidos.
“O Conselho de Segurança deve tomar as medidas para evitar uma implosão do Oriente Médio”, afirmou Hashim.
Israel, Irã e Líbano trocam acusações em reunião do Conselho de Segurança da ONU
Entenda o conflito
Entenda o conflito no Oriente Médio e a possibilidade de uma guerra geral
Israel disse que está fazendo uma operação militar contra o grupo extremista Hezbollah. Embora tenha atuação política no Líbano, a organização possui um braço armado com forte influência no país. Além disso, o Hezbollah é apoiado pelo Irã e é aliado dos terroristas do Hamas.
Os extremistas têm bombardeado o norte de Israel desde outubro de 2023, em solidariedade ao Hamas e às vítimas da guerra na Faixa de Gaza.
Nos últimos meses, Israel e Hezbollah viveram um aumento nas tensões. Um comandante do grupo extremista foi morto em um ataque israelense no Líbano, em julho. No mês seguinte, o grupo preparou uma resposta em larga escala contra Israel, que acabou sendo repelida.
Mais recentemente, líderes israelenses emitiram uma série de avisos sobre o aumento de operações contra o Hezbollah.
O gatilho para uma virada no conflito veio após os seguintes acontecimentos:
Nos dias 17 e 18 de setembro, centenas de pagers e walkie-talkies usados pelo Hezbollah explodiram em uma ação militar coordenada.
A imprensa norte-americana afirmou que os Estados Unidos foram avisados por Israel de que uma operação do tipo seria realizada. Entretanto, o governo israelense não assumiu a autoria.
Após as explosões, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse que estava começando “uma nova fase na guerra”.
Enquanto isso, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prometeu que levará de volta para casa os moradores do norte do país, na região de fronteira, que precisaram deixar a área por causa dos bombardeios do Hezbollah.
Segundo o governo, esse retorno de moradores ao norte do país só seria possível por meio de uma ação militar.
Em 23 de setembro, Israel bombardeou diversas áreas do Líbano. O dia foi o mais sangrento desde a guerra de 2006.
Em 27 de setembro, Israel matou o chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, por meio de um bombardeio em Beirute.
Em 30 de setembro, Israel lançou uma operação terrestre no Líbano “limitada e precisa” contra alvos do Hezbollah.
Em 1º de outubro, o Irã atacou Israel com mísseis como resposta à morte de Nasrallah e outros aliados do governo iraniano. Os mísseis iranianos, no entanto, foram interceptados pelo sistema de defesa israelense, o chamado Domo de Ferro.
Veja onde fica o Líbano
Arte/g1
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