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Os diários de pracinha brasileiro capturado por nazistas na 2ª Guerra: ‘Comíamos neve para enganar o estômago’

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Os relatos de brasileiro são reproduzidos no livro “A dupla face da guerra: A FEB pelo olhar de um prisioneiro”, que interpreta e dá contexto, com base em fontes acadêmicas e em documentos históricos. Waldemar Cerezoli, à esquerda, posa para foto com companheiro da FEB em uma rua francesa. Ambos usam fardas brasileiras. Maio/junho de 1945.
ACERVO FAMÍLIA CEREZOLI/BBC
“Dia 15 de julho.
Faz três sábados que estamos enfiados nesse navio. Segundo dizem, chegaremos amanhã. As últimas notícias que temos são de que vamos para a Itália e que desceremos no porto de Nápoles. Penso que jamais voltaremos para o Brasil…
Tenho sonhado muito com minha família. Uma coisa com que ainda não me acostumei é comer só duas vezes ao dia.
Vamos ficar bem perto do inimigo, mas o que podemos esperar, a não ser isso? Talvez, em breve, iremos combater. Por fim, às 4h recebemos a notícia que tanto esperávamos: chegaremos amanhã cedo. Enfim, vou sair desse terrível porão, mas só Deus sabe o que nos espera lá fora.”
As linhas acima foram escritas em 1944 pelo cabo Waldemar Reinaldo Cerezoli, um dos 25 mil brasileiros enviados à Europa para combater os nazistas na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). ]
Elas foram redigidas dentro do navio americano General Mann, que transportou o primeiro grupo da Força Expedicionária Brasileira (FEB) a deixar o Brasil para lutar contra as forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão).
Estavam a bordo 5,8 mil homens, a maioria deles pracinhas, como ficaram conhecidos os brasileiros destacados para lutar ao lado dos Aliados (Reino Unido, França, União Soviética e Estados Unidos) e que não eram militares de carreira.
Eles deixaram o porto do Rio de Janeiro em 29 de junho, sem saber quando ou onde desembarcariam. No pescoço, levavam uma placa de reconhecimento militar para identificação em caso de morte.
Waldemar Cerezoli sobreviveu e, com ele, seu diário, no qual registrou detalhes de sua rotina nos 381 dias que ficou fora do país — 142 deles como prisioneiro de guerra em um campo de concentração alemão.
O caderno, com 98 páginas preenchidas a caneta azul, voltou na bagagem do ex-combatente em 1945 e foi conservado por sua família após sua morte, em 1975.
Mas só agora, oito décadas depois do desembarque do primeiro contingente brasileiro na Itália, o manuscrito veio à tona, resgatado pela historiadora Cristina Pellegrino Feres.
Pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação (LEER), da Universidade de São Paulo (USP), Feres vem se debruçando sobre a história da FEB, com foco nas pessoas comuns que tiveram a vida transformada pelos acontecimentos históricos.
“Não me interessam os dados sobre batalhas, sobre estratégia militar, me interessa o homem em combate, a valorização do indivíduo na história”, afirma.
Waldemar Reinaldo Cerezoli em foto da década de 1940
ACERVO FAMÍLIA CEREZOLI via BBC
Feres recebeu uma fotocópia das páginas do diário no fim da década de 1990, das mãos de um amigo da família de Waldemar.
Como ainda não pesquisava o tema, deixou o caderno guardado, até que, em 2020, decidiu analisar seu conteúdo.
Em novembro de 2023, ela lançou o livro A dupla face da guerra: A FEB pelo olhar de um prisioneiro (ed. Intermeios), no qual, além de reproduzir integralmente o texto do diário, interpreta e dá contexto ao relato, com base em fontes acadêmicas e em documentos históricos.
Diários de guerra
Muitos pracinhas registraram por escrito sua experiência durante o conflito, contrariando a orientação do Ministério da Defesa da época, que proibiu os soldados de manterem diários.
“No começo, todo mundo anotava tudo”, relatou o cronista Rubem Braga, então correspondente de guerra, no jornal Diário Carioca.
Segundo Maria Luiza Tucci Carneiro, professora do Departamento de História da USP, o diário de guerra, além de servir como fonte histórica, cumpre diversas funções para seus autores.
Um exemplo: o hábito de escrever ajuda o soldado a manter as referências temporais na falta dos marcos convencionais da vida em sociedade — como festas, casamentos e feriados. Mas não só.
“Muitas vezes, cumpre com o seu papel de autoajuda nos momentos de angústias e frustrações; em outros, serve para o narrador retomar o equilíbrio e a respiração após um bombardeio”, afirma Carneiro, no prefácio do livro sobre o diário de Waldemar — que ela considera uma “preciosidade histórica” por ter sido produzido in loco, em meio a situações de estresse individual e coletivo.
Alguns diários de pracinhas sobreviveram e foram publicados, mas Cristina Feres viu no relato de Waldemar algumas contribuições inéditas.
Primeiro, porque se trata de um dos poucos testemunhos de um brasileiro capturado pelos alemães. Dos 25,3 mil pracinhas, só 35 foram feitos prisioneiros.
“O Brasil fecha os olhos para essas histórias”, afirma Feres, acrescentando que os combatentes que caem nas mãos do inimigo são vistos como a antítese do herói.
“Eles carregam o estigma de terem falhado na missão.”
Dois desses ex-prisioneiros da Segunda Guerra tiveram seus depoimentos incluídos na coleção de história oral do Exército.
Um terceiro, Eliseu de Oliveira, contou sua história ao jornalista Altino Bondesan, que compilou as entrevistas no livro Um pracinha paulista no inferno de Hitler (ed. Guaíra, 1947).
O diário de Waldemar, por sua vez, é um testemunho escrito no calor dos acontecimentos, sem ter sido lapidado ou ressignificado pelo filtro do tempo, como acontece com outras memórias.
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O ex-combatente da FEB Waldemar Reinaldo Cerezoli, à direita em pé, durante a Segunda Guerra na Itália. Data não identificada
ACERVO FAMÍLIA CEREZOLI via BBC
Talvez por isso o registro passe longe da grandiosidade dos relatos tradicionais de guerra, revelando uma dimensão cotidiana da rotina de soldado, que sente medo, tédio, saudade e incômodo — nas palavras de Feres, “as fragilidades humanas que o discurso oficial tende a ocultar”.
Para a historiadora, faltam no Brasil ações institucionais para conservar e compilar os relatos de sobreviventes da Segunda Guerra, como fizeram outros países.
“Essa memória sobrevive em pequenos nichos: entre os familiares, associações de veteranos ou simpatizantes da temática da guerra. Mas não está na memória coletiva brasileira”, afirma.
Ratos, comida enlatada e cama de capim
Morador da cidade paulista de Ribeirão Pires, que na época era um distrito de Santo André, Waldemar foi sorteado para o Exército em 1941.
Segundo sua certidão funcional, ele era um soldado que se destacava por sua disciplina, força de vontade e resistência física durante os treinamentos.
O diário revela outro lado do pracinha: o de um jovem de 24 anos consumido pelas saudades da família, que abandonou sua pacata vida de funcionário dos Correios para empunhar uma metralhadora no front de guerra e que não teve coragem de contar para a mãe que havia sido convocado para lutar na Europa — preferiu dizer que estava no Norte do Brasil.
Seu relato se inicia com o embarque no Rio de Janeiro, em 29 de junho de 1944, e tem periodicidade diária até 30 de outubro, logo antes de seu aprisionamento.
As agruras do cativeiro também foram registradas, mas de forma resumida, provavelmente após sua libertação.
A última anotação do caderno é um poema datado de janeiro de 1946, seis meses após seu retorno ao Brasil.
De acordo com o diário, o calvário do grupo começou já na viagem de navio, dormindo em um porão cheio de ratos, sob um calor infernal e com comida insuficiente.
“Dia 4 de julho.
A maior parte dos meus colegas está doente. Eu, felizmente, estou me acostumando com a viagem, mas cada dia mais triste porque afasto-me cada vez mais da minha terra e com poucas esperanças de tornar a vê-la. Temos passado fome aqui no navio, onde só temos duas refeições durante o dia todo, e eu não me acostumo com essa comida americana, tudo é doce.
À noite, é uma tristeza, apagam-se todas as luzes cedo e temos que ficar no escuro com os ratos, e o porão faz um calor insuportável! Todos os dias temos instruções de abandono do navio, é a maior chateação!”
As privações continuaram após o desembarque no porto de Nápoles. Os pracinhas dormiam sobre capim, acordavam antes do sol nascer para cumprir treinos exaustivos e comiam refeições enlatadas.
Eventualmente, alguém conseguia tomates e preparava uma salada dentro do capacete.
Livro reproduz integralmente o texto do diário, interpreta e dá contexto ao relato
DIVULGAÇÃO via BBC
“Dia 16 de julho.
Estou louco de fome e cansado. Às 8h, recebemos duas latinhas de comida em conserva.
Esta noite vamos dormir tendo por teto as estrelas. Começou o sofrimento. Acabou a boa cama e a mamãe para fazer tudo. Enfim, estamos na guerra e não em casa. Arrumei um pouco de capim embaixo de uma árvore e deitei-me para dormir.”
Ainda assim, Waldemar comemora um luxo raro, providenciado pelo Exército dos Estados Unidos.
“Estamos no mato, e temos chuveiro com água quente. Nos quartéis do Brasil nem água fria tínhamos!”, escreveu.
Vinho e mulheres
As primeiras semanas do diário são marcadas pela ansiedade da espera para entrar em combate.
Diversas vezes, Waldemar escreve que quer ver logo “a cobra fumar” — expressão surgida como uma provocação (de que seria mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra), que acabou sendo incorporada à iconografia e ao uniforme da FEB.
Para passar o tempo, os pracinhas jogavam vôlei ou baralho, lavavam roupa, limpavam as armas, dormiam ou conversavam “sobre o Brasil e as garotas”.
O cigarro e o álcool eram válvulas de escape para o estresse e o tédio. Waldemar faz referências constantes a se embriagar com o vinho comprado dos empobrecidos italianos. “Vinho e miséria aqui não faltam”, escreveu.
“Dia 28 de julho.
A cada dois dias recebemos um maço de cigarros, já estamos sem cigarros e não temos onde comprar. Hoje, recebi o primeiro pagamento aqui na Itália, 2.500 liras que correspondem a 500 cruzeiros em nosso dinheiro; mas para que me serve isso se não tenho onde gastar, a não ser no vinho do italiano?”
A confraternização com a população local incluía o contato com as “lavadeiras”, mulheres italianas que, na ausência de homens em casa e de meios de sobrevivência, lavavam e costuravam as fardas dos soldados em troca de algumas moedas.
Uma delas, segundo Waldemar, se afeiçoou tanto a eles que até chorou ao saber que iriam para o front.
O brasileiro também cita uma jovem chamada Dora, com quem aparentemente engatou um namoro.
“Nunca vi uma pequena tão bonita e amável, até em casamento falamos”, escreveu.
A miséria da população chocou muitos pracinhas, que costumavam dar comida ou doces para as crianças famintas que se aproximavam.
Uma delas, Giovanna, de cinco anos, se afeiçoou a Waldemar, que fez uma fotografia dela e a trouxe para o Brasil.
“Dia 5 de agosto.
Estive conversando com os velhos italianos e fiquei impressionado em ouvi-los contar as barbaridades que os alemães fizeram ao passar por aqui. Levei-lhes duas latas em conserva e eles ficaram um tanto satisfeitos, dando-me em troca um cantil de vinho.
À tarde, me troquei e fui passear na cidade de Tarquínia. Voltei cedo porque a cidade não vale nada, está tudo destruído. Há somente vinho e frutas.”
Da esquerda para a direita, em sentido horário: Distintivo da cobra fumando, que representa a FEB; distintivo do 5º Exército Americano; placa em metal com o nome FEB; placa de identificação de Waldemar Reinaldo Cerezoli e medalha de campanha recebida por Waldemar Reinaldo Cerezoli
ACERVO FAMÍLIA CEREZOLI via BBC
Cadáveres
Segundo dados do Exército, 443 combatentes da FEB morreram e 2.722 ficaram feridos na Europa.
Uma parte deles foi vitimada antes mesmo de ir para o front, em acidentes durante os treinos.
“Hoje, morreram mais dois colegas: um afogado e outro com a explosão de uma mina. Ainda não entramos em combate e já morreram vários colegas”, escreveu Waldemar, em 4 de setembro.
À medida que o tempo passava, o inimigo ficava mais próximo. Em 11 de setembro, o cabo brasileiro viu soldados alemães pela primeira vez — eram nove e estavam mortos.
“11 de setembro.
Durante a instrução, entrei em uma trincheira velha e encontrei nove cadáveres de alemães. Tivemos a curiosidade de revistá-los, e encontramos várias fotografias de moças, de crianças e deles mesmos. Fiquei com duas fotografias para lembrança desse dia de sacrifício. Tirei do cinto de outro um porta-cantil.
Tive a impressão de que é bem triste morrer em combate. Hoje encontrei esses corpos, talvez amanhã encontrem o meu.”
Uma das maiores angústias de Waldemar era a falta de notícias da família. Ele escrevia para a mãe e para a namorada, mas, diferentemente de seus companheiros, não recebia retorno.
“Já escrevi 18 cartas e não sei o que é uma resposta, talvez pensem que eu já morri”, desabafou, em 13 de agosto.
No mês seguinte, quando seu regimento já estava em meio ao fogo cruzado, chegaram as primeiras cartas para ele.
“Dia 23 de setembro.
Esta noite inteira a artilharia inimiga atirou sobre nós. Tomei café às 8h e estava costurando quando o tenente me chamou e me entregou duas cartas de minha mãe e uma de Cida. Ninguém avalia como estou contente! Recebi uma fotografia da garota e as notícias de casa que são boas.
Amanhã atacaremos, e agora morrerei contente porque tive notícias da minha família pela primeira vez.”
No front com a ‘gata’
Waldemar foi para a frente de batalha dois meses depois de sua chegada à Itália. Com ele, levou sua metralhadora — que ele chamava de “minha gata”.
“15 de setembro.
Estamos em primeira linha, entrei em posição com minha metralhadora. Agora já não é mais instrução, e sim realidade. Estava na metralhadora quando ouvi ruídos poucos metros à frente, mas, como estava escuro, não pude ver nada. Recebi ordens de abrir fogo e, pela primeira vez, atirei para matar.”
O relato foi se tornando mais dramático, com enfrentamentos diretos e mortes de compatriotas.
“24 de setembro.
Nunca vi a morte tão perto. Morreu um cabo perto de mim e se feriram quatro. Avançamos novamente e meu capitão ordenou que abríssemos trincheiras porque iríamos passar a noite na defensiva.
Cavei um buraco e coloquei minha gata em posição de atirar. Estava em posição e começou a chover. Ficamos embaixo da chuva até de madrugada. Às 6h, começou a cobra a fumar novamente: abri fogo e atirei até o cano da gata ficar vermelho. Às 7h, parou o fogo e o inimigo recuou.”
Nesse mesmo dia, o regimento de Waldemar trouxe três prisioneiros alemães, que chegaram quase nus.
“Estavam loucos de fome e sede. Nosso capitão deu a eles umas latinhas em conserva e eu dei um pouco de água que tinha no cantil”, contou.
Segundo o diário, a situação dos rivais era tão desesperadora que alguns se rendiam para conseguir comer.
“Ontem à noite, quatro alemães vieram se entregar porque estavam passando fome”, escreveu o cabo.
A situação dos brasileiros também era precária. “Estou sujo como um porco, faz cinco dias que nem tiro a botina. Banho há 15 dias que não vejo, mas, infelizmente, a guerra é assim”, contou Waldemar.
Comandantes do campo de prisioneiros Stalag VI-A, na Alemanha, onde o ex-combatente Waldemar Reinaldo Cerezoli ficou prisioneiro. 1944/45.
ACERVO FAMÍLIA CEREZOLI via BBC
“Às 7h, preparei minha cama dentro de um galinheiro, mas não pude dormir porque os piolhos me atacaram. Pior que os alemães!”, disse, em outro trecho.
Com o passar dos dias, o caos ficou tão familiar que ele nem se abalou com o barulho de duas granadas que caíram a dez metros de onde dormia.
“As vidraças ficaram em cacos, mas eu nem acordei. À tarde, fritamos batatinhas e compramos dois cantis de vinho”, escreveu, em 20 de outubro.
Batalha final
O relato de Waldemar chegou ao ápice em 30 de outubro, data de sua última batalha antes de ser capturado, no Vale do Serchio, região da Toscana.
Sob forte chuva, eles tentavam subir o morro de São Quirico em direção a uma base defensiva alemã.
Surpreendidas com um contra-ataque, as tropas da FEB tiveram que bater em retirada, mas o grupo de Waldemar ficou cercado pelo inimigo.
Eram 17 pracinhas abrigados em uma casa, contra 300 soldados alemães, no que seria considerado o primeiro revés sofrido pelo Brasil na Itália.
“30 de outubro.
Só me restava uma granada de mão que estava pendurada no meu cinto do lado esquerdo. O soldado Eliseu a arrancou do cinto, porque eu não podia me mover para tirá-la. Eu já tinha onze furos de bala no capacete e estava desabrigado. Enquanto eu atirava, Eliseu rastejou até perto da trincheira inimiga e atirou a granada. Aqueles dois já não matariam mais brasileiros.”
Waldemar e Eliseu de Oliveira foram buscar ajuda no posto de comando próximo, sob fogo cruzado.
Quando voltaram à casa onde os colegas resistiam, uma granada atravessou a janela e feriu Waldemar e um sargento.
Com metralhadoras apontadas contra suas cabeças, eles se renderam.
“Era aproximadamente 11h, e eu já estava com fome e sede insuportáveis. Subi para o andar superior e vi pela janela que o inimigo já tinha cercado a casa. (…) Enquanto tinha balas, atirei para matar. Quando terminaram meus 3 mil tiros de metralhadora, peguei meu fuzil e continuei atirando. Atirávamos a dois ou três metros de distância, dava para ver o ódio estampado no rosto do inimigo. (…) Vi perfeitamente uma granada entrar pela janela e cobri o rosto com o braço esperando a explosão. Senti uma pancada na cabeça e desacordei por alguns segundos. Depois, vi meu braço ferido e senti sangue escorrer pela perna esquerda. Quis andar, mas não pude.
Olhei para o sargento e vi sangue no braço dele, que se contorcia de dor e estava com o braço direito quebrado. Ao meu lado estava o Hamilton deitado em uma poça de sangue. Um estilhaço havia-lhe cortado a veia.”
A italianinha Giovanna, de cinco anos, que Waldemar fotografou na cidade de Chiatri (Itália). Setembro de 1944.
ACERVO FAMÍLIA CEREZOLI via BBC
Campo de prisioneiros
A partir dali, o relato passou a ser retrospectivo, provavelmente escrito após a libertação de Waldemar.
Ele contou que foi levado a um hospital, onde sofreu nas mãos de enfermeiros italianos.
“Tiraram-me o estilhaço da perna e outro da cabeça, mas tudo sem anestesia; punham-me gaze na boca para sufocar os gritos”, escreveu.
Em 5 de dezembro, os cativos embarcaram em um trem de carga em direção à Alemanha, em vagões de aço lacrados, e passaram “três dias e três noites fechados como ratos”.
“À meia-noite, de 8 de dezembro, tive a honra de desembarcar na Alemanha. Estávamos loucos de sede e, assim que descemos, começamos a comer neve. Entramos em forma e seguimos para o campo de concentração. Foi a pior impressão de minha vida ver aquele cercado de arame onde eu ia entrar, mas não sabia se sairia.”
À sua frente, estava o Stalag VII-A, o maior campo de prisioneiros de guerra da Alemanha nazista, na cidade de Moosburg, na Baviera.
Planejado para 10 mil prisioneiros, tinha mais de 76 mil no momento de sua libertação pelo Exército americano, em 29 de abril de 1945 — outros 40 mil cativos eram mantidos nos arredores, realizando trabalhos forçados.
Não se sabe se Waldemar levou o caderno para o campo nazista. Cristina Feres acredita que não.
“Acho difícil, até porque a caneta poderia ser considerada uma arma. Provavelmente o diário ficou naquela casa no Vale do Serchio e depois foi recuperado por alguém junto com os outros bens deixados pelos prisioneiros”, diz.
No diário de Waldemar, os cinco meses de prisão foram resumidos em poucos parágrafos, com conteúdo perturbador.
“No outro dia, às 9h, vieram uns pães pretos, mas alguns avançaram como loucos nos pães e quem foi educado não comeu nada. À tarde fomos identificados e recebi uma chapa com o número 142292, a qual era obrigado a levar pendurada no pescoço. (…) A comida constituía somente em batata. Dormia-se no pedregulho. A primeira refeição vinha às 3h ou 4h da tarde, e muitos dias não vinha; então, comíamos neve para enganar o estômago. Já andava eu barbudo, sujo, cheio de muquirana e bichos de toda espécie.”
O registro terminou com a libertação do grupo, que passou três meses viajando pela França, sendo tratado com regalias.
“Ninguém avalia nossa alegria. Jamais tive um dia tão feliz! Os tanques comandados pelo general Patton invadiram o campo e já não éramos mais prisioneiros, trocamos de lugar com os alemães. No mesmo dia, chegou cigarro e comida à vontade. Comi tanto que amanheci doente. Montaram chuveiros e tomamos um banho quente, trocamos de roupa, cortei a barba e já me sentia outro.”
‘Neurose’ de guerra
A economia de palavras para rememorar o cativeiro se manteve após o retorno de Waldemar para o Brasil.
Familiares disseram à pesquisadora que ele era uma pessoa nervosa, calada e que se recusava a falar sobre o assunto — possivelmente, uma estratégia de defesa para não ter que lidar com memórias traumáticas.
A desmobilização da FEB ocorreu assim que acabou a guerra, na própria Itália, ou seja, os pracinhas que haviam embarcado como soldados voltaram como civis.
Waldemar entrou para a reserva e passou a exercer um trabalho braçal em uma pedreira de Ribeirão Pires.
Certificado de Reservista de Waldemar, expedido pelo Ministério da Guerra do Brasil. 10 de agosto de 1945
ACERVO FAMÍLIA CEREZOLI via BBC
Dezessete anos depois, foi reformado por incapacidade. Um exame psíquico da Junta Militar de Saúde o diagnosticou com “reação depressivo neurótica”.
Segundo o parecer médico, “desde 1945, (quando voltou da Itália incorporado a FEB) ficou nervoso e não podia trabalhar”, tinha “crises de choro frequentes e tremores nas mãos” e às vezes “perdia os sentidos”. Waldemar morreu de leucemia em 1975, aos 55 anos.
Existem diversos relatos de pracinhas que enfrentaram dificuldades para se reintegrar à sociedade, com reportagens da época noticiando casos de “neurose de guerra”, alcoolismo, mendicância e suicídio entre esses veteranos.
Segundo Feres, esse impacto emocional foi ignorado pelo Estado brasileiro.
“Existem dados sobre os mortos, prisioneiros e feridos em combate, mas esses que voltaram com sequelas psicológicas não entraram nas estatísticas”, afirma.
Waldemar não recebeu nenhuma assistência psicológica após a libertação.
Ainda que não gostasse de falar sobre o assunto, recorreu ao diário para desabafar nos meses seguintes ao seu retorno, relatando ter pesadelos com o sangue, os gemidos e os gritos de angústia dos colegas que tombaram ao seu lado.
“Vocês não avaliam o estado moral de um combatente que, após um árduo combate, é ferido e aprisionado; que passou fome, frio, sede, enfim, tudo que é possível um soldado sofrer, vendo sempre em sua frente uma cerca de arame, que foi humilhado pelos seus semelhantes, que viveu vários meses pensando na sua desgraça e sem notícias de seus entes queridos. Mas sofreu tudo com resignação porque ele também matou, talvez um pai, um filho ou noivo que alguém esperava, e cuja espera foi em vão.”
No texto, intitulado “Procurem compreender-me”, ele faz um apelo para não ser julgado e passa a impressão de que, depois daquela experiência, ele nunca mais foi o mesmo.
“Não me condenem como ruim, procurem compreender-me. Nunca esqueçam que me separei temporariamente deste mundo e fui para a guerra, da qual muitos não voltaram.”
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O que aconteceu no Líbano durante as duas grandes invasões de Israel — e quais foram as consequências delas

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Israel invadiu o Líbano em seis ocasiões. Em duas delas, grandes marcas foram deixadas na sociedade libanesa. Moradores da cidade portuária de Saida, no após fugirem de um bombardeio israelense realizado em julho de 2006.
Getty Images via BBC
Nos últimos dias, Israel lançou uma série de ataques militares em alvos específicos no sul do Líbano, onde opera o grupo armado xiita Hezbollah.
O exército israelense também mobilizou tropas e alertou centenas de milhares de libaneses para deixarem suas casas e se mudarem para o norte do país. Entretanto, os bombardeios em Beirute, a capital do Líbano, que fica mais ao centro do país, continuam a acontecer e até se intensificaram.
Todos esses desdobramentos sugerem que a escalada da nova operação no Líbano será maior do que o inicialmente anunciado.
Embora esta seja a primeira incursão israelense no Líbano desde 2006, as gerações passadas foram marcadas por um histórico de invasões. Desde a independência do Líbano em 1943, Israel fez operações militares em território libanês em seis ocasiões.
A primeira delas ocorreu em 1978 e tinha como objetivo expulsar militantes palestinos da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) do sul do país.
“A operação foi curta, durou menos de uma semana, não atingiu todos os objetivos e as Nações Unidas exigiram a retirada das forças israelenses”, resume Mayssoun Sukarieh, professor de estudos do Oriente Médio no King’s College London, no Reino Unido.
As origens do conflito
Milhares de refugiados e civis foram mortos indiscriminadamente no massacre de Sabra e Shatila durante a invasão de 1982.
Getty Images via BBC
Pode-se dizer que o atual conflito entre Hezbollah e Israel no sul do Líbano, como muitos outros que acometem a região, tem as suas origens na “nakba” ou “a catástrofe palestina”.
Este foi um período histórico em que mais de 750 mil palestinos foram forçados a fugir ou acabaram expulsos de suas casas depois que Israel proclamou a sua independência do Mandato Britânico da Palestina em 14 de maio de 1948 e durante a Guerra Árabe-Israelense, que começou no dia seguinte e durou 15 meses.
Como resultado da “nakba”, mais de 100 mil palestinos, principalmente das áreas do norte do que era então conhecido como Palestina e Galileia, acabaram no Líbano. A eles juntaram-se outras ondas de refugiados que vieram de Jerusalém Oriental, da Cisjordânia e da Faixa de Gaza durante as subsequentes guerras árabe-israelenses que aconteceram em 1956 e 1967.
A partir do Acordo do Cairo em 1969, assinado pelo presidente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Yasser Arafat, e pelo chefe do exército libanês, os campos de refugiados ficaram sob o controle de um corpo da polícia militar palestina.
A OLP, que foi criada em 1964 com o objetivo de libertar os palestinos de Israel por meio da luta armada, estabeleceu uma espécie de Estado dentro do Líbano. Neste contexto, milhares de combatentes palestinos refugiaram-se e foram treinados em campos que estavam fora da jurisdição do exército libanês.
O governo do então primeiro-ministro de Israel, Menachem Begin, considerou que a presença de militantes da OLP representava um problema de segurança e decidiu agir em 1978 e depois em 1982.
A invasão israelense do Líbano em 1982 ocorreu em meio a uma sangrenta guerra civil desencadeada após um ataque das Falanges Libanesas, uma milícia cristã de direita aliada a Israel, contra um ônibus que transportava refugiados palestinos.
A guerra civil libanesa, que durou de 1975 a 1990, foi marcada por um aumento dos ataques palestinos contra alvos israelenses em todo o mundo. Um destes ataques, ocorrido em Londres, desencadearia a ira de Israel.
A invasão mais sangrenta até hoje
Tropas israelenses no oeste de Beirute em 14 de setembro de 1982.
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Após uma tentativa de assassinato do embaixador israelense em Londres, Menachem Begin deu início a uma invasão do Líbano no dia 6 de junho que levou o exército do país às ruas de Beirute. Por meio de uma operação terrestre, Israel tentava enfraquecer ou mesmo expulsar a OLP do Líbano.
Especialistas dizem que os líderes israelenses também procuraram impor o seu aliado Bachir Gemayel, chefe das Falanges Libanesas, como presidente do Líbano — e, assim, trazer a nação árabe para a esfera de influência de Israel.
Foram dois meses de batalhas e muita destruição até que um acordo foi assinado em agosto, no qual milhares de combatentes da OLP concordaram em deixar o país. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos garantiram a proteção da população civil libanesa após a evacuação das forças da OLP.
Até então, o plano israelense parecia ter sido bem sucedido.
Em 23 de agosto, Gemayel, o chefe das Falanges Libanesas, foi eleito presidente pelo parlamento do país para um mandato de seis anos.
Mas ele nunca assumiria a presidência.
Gemayel foi morto num ataque realizado no dia 14 de setembro, durante uma reunião de seu partido no bairro de Achrafieh, em Beirute.
Sabra e Shatila: um massacre contra refugiados palestinos
Dois dias após o assassinato de Gemayel, milícias cristãs apoiadas por Israel entraram em dois campos de refugiados em Beirute e massacraram um grande número de palestinos.
“A morte de Gemayel desencadeou a ira dos falangistas. Os israelenses cercaram os campos de Sabra e Shatila e deixaram as milícias das Falanges Libanesas entrarem e massacrarem todos que encontraram”, diz o professor Mayssoun Sukarieh.
Os falangistas entraram nos campos à noite, momento em que muitos dos refugiados dormiam, depois de lançarem sinalizadores para iluminar o local.
“Eles mataram famílias inteiras que dormiam. Alguns acordaram a tempo, começaram a chamar pelos outros e a gritar que os israelenses haviam chegado e estavam matando pessoas”, complementa Sukarieh.
Muitos buscaram abrigo na mesquita local. Mas os falangistas tomaram o prédio e assassinaram aqueles que lá estavam.
Neste episódio, também foram relatados casos de violência sexual contra mulheres palestinas. Uma enfermeira que trabalha no hospital Akka, perto de Chatila, disse à BBC que os falangistas fizeram disparos de forma indiscriminada.
“Uma criança me contou que os falangistas arrombaram a porta e atiraram em toda a família; ele foi o único sobrevivente”, disse ela.
Os militantes também sequestraram outras duas enfermeiras que trabalham no mesmo hospital. Uma delas conseguiu escapar e contou à imprensa que a colega havia sido estuprada antes de ser morta.
Estima-se que entre 2 mil e 3,5 mil pessoas morreram somente neste episódio sangrento.
“O que aconteceu foi horrível. Alguns chamam de massacre, outros argumentam que foi um genocídio”, diz Sukarieh.
Os israelenses retiraram-se do local três meses após o início da invasão, mas criaram uma zona-tampão dentro do Líbano.
Do lado libanês, cerca de 20 mil pessoas — a maioria civis — foram mortas. Do lado israelense, 654 soldados morreram.
Israel continuou a ocupar a maior parte do sul do Líbano até 3 de setembro de 1983, quando se retirou para o sul do rio Awali, devido ao aumento das baixas israelenses em ataques de guerrilheiros xiitas.
Nesse mesmo ano, o Ministro da Defesa de Israel durante o massacre, Ariel Sharon, teve que renunciar ao cargo após uma investigação feita no país sobre o que aconteceu no Líbano. Em 2001, Sharon seria eleito chefe do governo de Israel.
Um novo inimigo
Família de refugiados que conseguiu fugir dos combates entre guerrilheiros palestinos e militantes xiitas em 1982.
Getty Images via BBC
Uma das consequências da grande invasão israelense no Líbano foi promover a criação do Hezbollah, dizem analistas.
Alguns líderes xiitas do Líbano queriam uma resposta militar à invasão e romperam com o Movimento Amal, um grupo político que se tornou uma das mais importantes milícias muçulmanas xiitas durante a Guerra Civil Libanesa (1975-1990).
Os rebeldes formaram um movimento militar xiita que recebeu apoio militar e logístico da Guarda Revolucionária Iraniana e foi denominado “Amal Islâmico”. Pouco depois, esta organização aliou-se a outros grupos e criou o Hezbollah.
A fundação do grupo mudaria o alvo das futuras invasões israelenses no Líbano.
“O objetivo inicial das invasões era livrar-se dos grupos paramilitares. Mas o que elas fizeram foi desencadear uma resistência mais severa contra Israel a partir do Amal e, mais tarde, com o Hezbollah”, avalia Vanessa Newby, especialista em Oriente Médio da Universidade de Leiden, na Holanda.
“Há um argumento que sugere que o aumento do uso da força simplesmente gerou uma resistência mais violenta por parte da população libanesa”, acrescenta ela.
Em abril de 1996, as forças israelenses atacaram pela primeira vez o novo inimigo, o Hezbollah, em resposta a uma série de ataques com foguetes feitas pelo grupo. Essa operação durou pouco mais de duas semanas.
Estima-se que, além de 13 combatentes do Hezbollah, cerca de 250 civis foram mortos no Líbano. Nesse ataque, não foram registradas mortes do lado israelense.
A operação foi limitada, mas as tensões entre Israel e o Hezbollah continuaram.
As Forças de Defesa de Israel (IDF) retiraram-se do sul do Líbano em 25 de maio de 2000 e, em junho, as Nações Unidas estabeleceram uma “Linha Azul”, ou uma fronteira não oficial entre o Líbano e Israel.
E esse vácuo deixado pelas FDI foi preenchido pelo Hezbollah.
A fracassada invasão do Líbano em 2006
Pessoas cobrem o rosto para lidar com cheiro de decomposição enquanto começam a remover os restos mortais dos milhares de refugiados palestinos que foram mortos no massacre de Sabra e Shatila.
Getty Images via BBC
O Hezbollah nunca reconheceu a legitimidade da “Linha Azul” traçada pelas Nações Unidas. Para o grupo, Israel continuou a ocupar ilegalmente o território libanês.
Em 2006, o Hezbollah iniciou uma série de ataques com foguetes contra cidades israelenses.
Em 12 de julho, um grupo de combatentes do grupo cruzou a fronteira com Israel, atacou dois veículos militares, matou oito soldados e fez dois reféns.
A resposta israelense foi implacável e envolveu uma operação militar que incluiu o bloqueio e um intenso bombardeio de cidades, vilas, aeroportos, pontes e muitas outras estruturas importantes no Líbano.
A guerra durou 33 dias, durante os quais o Hezbollah também lançou uma saraivada de foguetes contra Israel.
Segundo dados oficiais, 1.191 pessoas morreram no Líbano, a maioria delas civis. Em Israel, 121 soldados e 44 civis foram mortos.
O Hezbollah ficou praticamente intacto.
A Comissão Winograd, criada pelo governo israelense para avaliar o resultado da guerra, concluiu em 2008 que a operação foi um fracasso e que Israel tinha iniciado “uma longa guerra, que terminou sem uma vitória militar clara”.
O conflito atual
Forças de Israel fazem nova onda de bombardeios contra o Líbano
Quase duas décadas depois, Israel lançou outra invasão que o governo classifica como “limitada, localizada e direcionada” no sul do Líbano contra alvos do Hezbollah.
Mas as evidências mostram que este não é o caso. As FDI desencadearam uma campanha aérea implacável sobre o Líbano, atingindo mais de 3,6 mil alvos ligados ao Hezbollah.
Para os analistas, esta é a operação aérea mais intensa dos últimos vinte anos. Os ataques conseguiram, entre diversos objetivos, matar Hassan Nasrallah, líder histórico do Hezbollah.
Até o momento, outras 1,4 mil pessoas foram mortas e 900 mil foram deslocadas desde que Israel iniciou a sua operação transfronteiriça, de acordo com o governo libanês.
A analista Vanessa Newby acredita que a mais recente invasão israelense poderá desencadear uma guerra mais ampla no Oriente Médio.
Mayssoun Sukarieh, por sua vez, tem dúvidas sobre se Israel conseguirá erradicar o Hezbollah, como planejado.
“Ainda é muito cedo para saber se esse objetivo será alcançado”, acredita ele.

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Mundo

Greta Thunberg é presa durante manifestação em Bruxelas

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A ativista ambiental sueca foi detida neste sábado (5) pela polícia da capital belga após se recusar a deixar o local da mobilização, que bloqueou o trânsito. O protesto era contra os subsídios às energias fósseis. Greta Thunberg em protesto ambiental em Bruxelas em 5 de outubro de 2024.
John Thys/AFP
A ativista ambiental sueca Greta Thunberg foi detida neste sábado (5) em Bruxelas, na Bélgica, junto com dezenas de manifestantes, por bloquear o trânsito durante um protesto contra os subsídios às energias fósseis.
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Thunberg, que já foi presa por desobediência civil em protestos anteriores, foi levada pela polícia belga após se recusar a deixar o local de uma mobilização, segundo a AFP.
A ativista de 21 anos integrava um grupo de manifestantes que se separou de um protesto organizado pelo movimento United for Climate Justice para pedir à União Europeia (UE) que acabasse com os subsídios aos combustíveis fósseis.
O objetivo é alcançar a neutralidade de carbono até 2050, mas essa meta “não ocorrerá sem uma eliminação imediata dos subsídios aos combustíveis fósseis”, escreveram ativistas da luta contra a mudança climática, cientistas e economistas em uma carta aos líderes da UE.
“Até que as mudanças necessárias sejam introduzidas, as pessoas continuarão saindo às ruas para fazer com que nossas vozes sejam ouvidas e cobrar responsabilidades”, acrescentaram.

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Mundo

Cidadão dos EUA morre em bombardeio israelense no Líbano

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Kamel Ahmad Jawad foi um dos mortos dos bombardeios israelenses diários ao território libanês. Kamel Ahmad Jawad, de Michigan, foi morto no Líbano em um ataque aéreo israelense em 1º de outubro de 2024.
Reprodução/redes sociais
Um americano foi morto no Líbano durante um bombardeio israelense nesta semana, segundo o Departamento de Estado norte-americano. As informações foram divulgadas nesta sexta-feira (4).
Kamel Ahmad Jawad, de Dearborn, Michigan, foi morto no Líbano em um ataque aéreo israelense na terça-feira (1º), de acordo com sua filha, um amigo e a congressista dos EUA que representa seu distrito.
O governo Biden está trabalhando para entender as circunstâncias do incidente, segundo o porta-voz Matthew Miller. Os Estados Unidos são o principal aliado de Israel, que realiza bombardeios diários contra diversos locais do Líbano, inclusive a capital Beirute, e uma operação terrestre contra alvos militares do grupo extremista libanês Hezbollah. (Leia mais abaixo)
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O porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, disse no início desta semana que Washington acreditava que Jawad era um residente permanente legal, e não um cidadão americano. Na sexta-feira, o departamento afirmou que ele era cidadão dos EUA.
“Estamos cientes e alarmados com os relatos da morte de Kamel Jawad, que confirmamos ser cidadão dos EUA”, disse o porta-voz.
“Como temos observado repetidamente, é um imperativo moral e estratégico que Israel tome todas as precauções possíveis para mitigar danos a civis. Qualquer perda de vida civil é uma tragédia”, disse Miller.
Israel afirma que está atacando militantes do Hezbollah, apoiados pelo Irã, que têm lançado foguetes em Israel desde o início da guerra em Gaza, há um ano.
Sua recente campanha militar no Líbano matou centenas e feriu milhares, de acordo com o governo libanês, que não informou quantas das vítimas eram civis ou membros do Hezbollah. O bombardeio israelense também desalojou mais de 1,2 milhão de libaneses.
A governadora de Michigan pediu ao governo dos EUA que faça mais para resgatar americanos presos no Líbano, muitos deles de Michigan, durante a ofensiva militar de Israel no país.
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Mais de 1.900 mortos
Em menos de duas semanas, os bombardeios de Israel ao Líbano já deixaram 1.974 pessoas mortas, afirmou nesta quinta-feira (3) o Ministério da Saúde libanês.
Desse total, 127 eram crianças, ainda de acordo com o ministério.
Mais de 6 mil pessoas também ficaram feridas em decorrência dos bombardeios.
O número ultrapassou o balanço total de mortos na guerra do Líbano em 2006 — quando Israel também invadiu o país vizinho para lutar contra o Hezbollah. Em pouco mais de um mês, o conflito teve um total de 1.191 mortos, entre civis, soldados e membros do Hezbollah.
No conflito atual, as Forças Armadas de israelenses começaram a bombardear o território libanês em 20 de setembro, dias depois de anunciar uma nova fase da guerra, com foco no norte de Israel, perto da fronteira com o sul do Líbano. A região é o reduto do Hezbollah
No último dia 30, Israel invadiu o Líbano por terra. Nesta quinta-feira, dois novos ciclos de bombardeios atingiram o centro de Beirute, matando nove pessoas e ferindo outras 14.
Crise humanitária grave
Durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU na quarta-feira (2), o representante interino do Líbano na ONU, Al-Sayyid Hadi Hashim, afirmou que o país foi empurrado para uma crise humanitária grave, com milhares de pessoas desabrigadas.
Segundo Hashim, um milhão de libaneses precisaram deixar suas casas por causa do conflito. O país também abriga 2 milhões de sírios deslocados, além de 500 mil palestinos refugiados.
“O que está acontecendo agora, com essas mortes, pessoas desabrigadas e destruições sem precedentes, não pode ser mais tolerado ou ignorado. As crianças dos subúrbios do sul de Beirute estão dormindo nas ruas”, afirmou.
Do lado de Israel, 50 soldados morreram em confrontos diretos com membros do Hezbollah no sul do Líbano, segundo as Forças Armadas israelenses. Oito deles foram mortos na quarta-feira (2) em uma emboscada do grupo extremista em um vilarejo no sul.
O representante de Israel na ONU, Danny Danon, disse que o país enfrenta ataques diretos à própria existência. “Essa é a realidade que enfrentamos todos os dias: terror nas fronteiras, mísseis sobre nossas cabeças, balas nas ruas. O Conselho [de Segurança da ONU] precisa entender o cenário em que Israel é forçado a viver”, disse.
O representante do Líbano rebateu o argumento de Israel e disse ser “mentira” que as forças israelenses tenham feito ataques precisos e “cirúrgicos”.
“Os prejuízos aos civis e à infraestrutura civil são imensos”, afirmou Hashim. “Hoje, o Líbano está preso entre a máquina de destruição de Israel e a ambição de outros na região. As pessoas do Líbano rejeitam essa fórmula fatal. O Líbano merece vida.”
O governo do Líbano pediu ao Conselho de Segurança da ONU o envio de ajuda humanitária urgente e apelou por um aporte financeiro de US$ 426 milhões (R$ 2,3 bilhões). O país também pediu para que outras nações pressionem Israel para a aprovação de um cessar-fogo de 21 dias proposto por França e Estados Unidos.
“O Conselho de Segurança deve tomar as medidas para evitar uma implosão do Oriente Médio”, afirmou Hashim.
Israel, Irã e Líbano trocam acusações em reunião do Conselho de Segurança da ONU
Entenda o conflito
Entenda o conflito no Oriente Médio e a possibilidade de uma guerra geral
Israel disse que está fazendo uma operação militar contra o grupo extremista Hezbollah. Embora tenha atuação política no Líbano, a organização possui um braço armado com forte influência no país. Além disso, o Hezbollah é apoiado pelo Irã e é aliado dos terroristas do Hamas.
Os extremistas têm bombardeado o norte de Israel desde outubro de 2023, em solidariedade ao Hamas e às vítimas da guerra na Faixa de Gaza.
Nos últimos meses, Israel e Hezbollah viveram um aumento nas tensões. Um comandante do grupo extremista foi morto em um ataque israelense no Líbano, em julho. No mês seguinte, o grupo preparou uma resposta em larga escala contra Israel, que acabou sendo repelida.
Mais recentemente, líderes israelenses emitiram uma série de avisos sobre o aumento de operações contra o Hezbollah.
O gatilho para uma virada no conflito veio após os seguintes acontecimentos:
Nos dias 17 e 18 de setembro, centenas de pagers e walkie-talkies usados pelo Hezbollah explodiram em uma ação militar coordenada.
A imprensa norte-americana afirmou que os Estados Unidos foram avisados por Israel de que uma operação do tipo seria realizada. Entretanto, o governo israelense não assumiu a autoria.
Após as explosões, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse que estava começando “uma nova fase na guerra”.
Enquanto isso, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prometeu que levará de volta para casa os moradores do norte do país, na região de fronteira, que precisaram deixar a área por causa dos bombardeios do Hezbollah.
Segundo o governo, esse retorno de moradores ao norte do país só seria possível por meio de uma ação militar.
Em 23 de setembro, Israel bombardeou diversas áreas do Líbano. O dia foi o mais sangrento desde a guerra de 2006.
Em 27 de setembro, Israel matou o chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, por meio de um bombardeio em Beirute.
Em 30 de setembro, Israel lançou uma operação terrestre no Líbano “limitada e precisa” contra alvos do Hezbollah.
Em 1º de outubro, o Irã atacou Israel com mísseis como resposta à morte de Nasrallah e outros aliados do governo iraniano. Os mísseis iranianos, no entanto, foram interceptados pelo sistema de defesa israelense, o chamado Domo de Ferro.
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Arte/g1
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