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Turnês de Ivete e Ludmilla canceladas: treta envolve produtora, possível 'bolha' e 'questão de demanda'

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Os cancelamentos chegam um mês após Anitta dizer que o público brasileiro não paga por shows de grande porte. Seria essa a razão para a suspensão dos eventos? Ludmilla e Ivete Sangalo cantam ‘Macetando’ em show no Estádio do Maracanã, no Rio
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Anunciado nesta quarta-feira (15), o cancelamento das turnês de Ivete Sangalo e Ludmilla surpreendeu os fãs das artistas e levantou dúvidas sobre o motivo por trás da suspensão dos shows.
Ambas as turnês prometiam apresentações grandiosas, realizadas em estádios. Os eventos estavam sob responsabilidade da produtora 30e.
Os cancelamentos chegam um mês após Anitta dizer que o público brasileiro não paga por shows de grande porte. Seria essa a razão para a suspensão das turnês de Ivete e Ludmilla? O que mais pode estar relacionado ao caso? O que isso diz sobre a situação do mercado de show business no país?
A seguir, o g1 explica todos os detalhes do assunto.
O que aconteceu?
O que disse Ivete?
O que disse Ludmilla?
O que disse a produtora?
Quais os possíveis motivos do cancelamento?
Por que Anitta aponta problemas em realizar shows no Brasil?
O público brasileiro está disposto a pagar por grandes turnês?
O público brasileiro está disposto a pagar por festivais?
Quem comprou o ingresso para as turnês de Ivete e Ludmilla canceladas tem direito a reembolso?
Ivete Sangalo e Ludmilla
Divulgação
O que aconteceu?
As turnês “A festa”, de Ivete Sangalo, e “Ludmilla in the house”, de Ludmilla, foram canceladas nesta quarta-feira (15).
A venda dos ingressos dos eventos estava há meses liberada — no caso de Ivete, desde fevereiro, e no de Ludmilla desde dezembro de 2023.
Com shows marcados em estádios brasileiros, as duas turnês prometiam shows grandiosos.
“A festa” celebraria os 30 anos de carreira de Ivete Sangalo e seria realizada em estádios de 30 cidades do país. A primeira apresentação aconteceria em 1º de junho, em Manaus, seguindo a agenda até abril de 2025, quando a cantora chegaria ao Rio de Janeiro. Os preços dos ingressos variavam de R$ 100 a quase R$ 700.
Já a série de shows de Ludmilla celebraria seus 10 anos de carreira. A turnê começaria no dia 25 de maio, no Rio de Janeiro. Ao todo, já estavam marcadas 19 datas, incluindo uma apresentação no Allianz Parque, em São Paulo. Ingressos eram vendidos de R$ 95 a quase R$ 500.
O que disse Ivete?
Ivete Sangalo fala sobre cancelamento da turnê “A Festa”
Em uma série de vídeos postados no Instagram (assista acima), Ivete Sangalo disse estar consternada com a situação.
“Hoje venho aqui contar pra você que esse é um momento muito sério, de muita responsabilidade, porque afinal de contas, eu tenho 30 anos de carreira, e nesses 30 anos de carreira, a transparência, a responsabilidade e, obviamente, o amor em tudo o que coloco, sempre foram prioridades pra mim. São pilares fortíssimos da minha história e da minha vida. E nesse momento, pra mim, é muito difícil, porque se trata de um sonho e de um momento muito especial, que são meus 30 anos de carreira. Eu pensei, criei um show, pensei muito em nossa história, como eu faria isso. E parti pra organização”, afirmou a cantora.
Horas antes, sua equipe havia publicado nas redes um comunicado do cancelamento da turnê. Nele, dizia que “a produtora responsável pela realização dos shows não conseguiria garantir as condições necessárias para que as apresentações que as apresentações da artista acontecessem da forma como foram concebidas com a excelência e segurança prometidas e acordadas”.
“Honrando a transparência e a responsabilidade. Que marcam sua carreira, Ivete Sangalo e seu escritório optaram por cancelar a turnê “A Festa”. A decisão, embora dolorosa, revelou-se necessária a partir da constatação de que a produtora responsável pela realização dos shows não conseguiria garantir as condições necessárias para que as apresentações da artista acontecessem da forma como foram concebidas com a excelência e segurança prometidas e acordadas.”
“A principal motivação para a idealização da turnê “A Festa” foi o desejo da cantora de compartilhar a celebração dos seus 30 anos de carreira de maneira grandiosa com o público de todos os cantos do país reforçando a conexão e o compromisso que construiu ao longo de três décadas com seus fãs.”
“Mas a realização de um projeto dessa magnitude exige a mobilização de uma estrutura complexa, que só se viabilizaria se houvesse um nível de planejamento e organização adequados, que garantissem, com a antecedência necessária, todas as condições prometidas, esperadas e pactuadas em contrato.”
“Ivete Sangalo sente o carinho dos fãs e agradece muito por isso. E espera poder se apresentar nessas cidades que sempre a receberam com tanto carinho em breve.”
O que disse Ludmilla?
Ludmilla fala sobre cancelamento da turnê ‘Ludmilla in the house’
Também em vídeos publicados no Instagram (assista acima), Ludmilla lamentou o cancelamento de sua turnê, pediu desculpas pelo ocorrido e disse que os motivos são de “logística e produção”.
“Vocês que me acompanham aqui sabem o quanto eu sou exigente com as minhas entregas, o quanto eu sou exigente quando se tratada do meu público, dos meus fãs, de levar alegria para eles, para celebrar. Então, é uma coisa muito séria que não poderia ser feita de qualquer jeito”, afirmou a cantora.
“Parei toda a minha agenda para fazer isso. Era um momento que eu estava separando para celebrar junto com vocês, mas que, infelizmente, por coisas que fogem da minha mão e do meu controle, a gente não vai conseguir viabilizar a turnê.”
“Porém, isto não quer dizer que a ‘Ludmilla In The House’ nunca vai acontecer. Quando coloco uma coisa na minha cabeça, é mais fácil tirar minha cabeça do que a coisa. A gente vai fazer isso acontecer da melhor maneira possível, do melhor jeito possível.”
Mais cedo, um comunicado foi publicado em suas redes sociais. “Por motivos que fogem do controle de Ludmilla e sua equipe, a ‘Ludmilla in the house tour’ está cancelada. A decisão foi tomada mediante o não cumprimento por parte da produtora responsável pela turnê das condições previstas no pré-contrato para a viabilidade dos shows planejados há meses”, diz a nota.
“Sempre tive uma grande preocupação em levar grandes experiências para o meu público. É o que tenho feito nesses últimos anos. Fico triste com o cancelamento da turnê porque nasceu com propósito de celebrar os 10 anos da minha carreira com uma entrega digna do que meus fãs merecem.”
O que disse a produtora?
As turnês de Ivete e Ludmilla estavam sob responsabilidade da produtora 30e, que divulgou um comunicado sobre o caso pouco depois do anúncio das artistas.
Segundo a empresa, a decisão dos cancelamentos veio exclusivamente das cantoras.
“A produtora lamenta, mas respeita a decisão unilateral das artistas e esclarece que, em nenhum momento, avaliou o cancelamento das duas turnês”, diz a nota.
“Em relação à turnê ‘Festa’, por questões de demanda, a empresa propôs à artista e sua equipe uma readequação da estrutura e produção e foi surpreendida com o comunicado publicado. Em relação à turnê ‘Ludmilla in the house tour’, não houve nenhuma negociação anterior à decisão exclusiva da artista, e seu comunicado.”
“Com mais de três milhões de pessoas impactadas anualmente pelos eventos que promove, realiza e produz, a 30e pode afirmar sua integral capacidade para cumprir seus compromissos com seus clientes, parceiros e patrocinadores, e informa que as demais turnês anunciadas estão confirmadas e ocorrerão”, finaliza a nota.
Quais os possíveis motivos do cancelamento?
Embora nenhuma das partes envolvidas tenha especificado o que há por trás dos cancelamentos, é nítida a existência de um desencontro entre a produtora 30e e as ambiciosas turnês das artistas.
Tanto Ivete quanto Ludmilla prometiam apresentações no estilo de mega espetáculo. Ou seja, shows com direito a balé, banda, efeitos visuais, troca de figurino e cenografia arrojada. Tudo acompanhado por plateias enormes — compostas, aliás, por quem pagaria entre R$ 100 e quase R$ 700 (no caso de “A festa”) e R$ 95 e quase R$ 500 (no caso de “Ludmilla in the house”).
Turnês nesses moldes exigem uma numerosa equipe de profissionais, com fornecedores e prestadores de serviço de diversas áreas, assim como equipamentos e produtos de diferentes nichos. Não é pouco o dinheiro envolvido.
A 30e é bem sucinta ao comentar a turnê de Ludmilla, se limitando a dizer que “não houve nenhuma negociação anterior” à decisão da artista. Mas menciona ter tido problemas com “questões de demanda” no preparo da turnê “A Festa”.
Com “questões de demanda”, é possível que esteja se referindo ao público do evento. Como se a expectativa não correspondesse com a realidade, o que, nesse caso, significaria pouca venda de ingressos — e consequentemente, baixo lucro ou prejuízo.
A produtora também fala em ter sugerido à Ivete uma “readequação da estrutura” dos shows, o que dá a entender que o plano inicial de sua turnê seria inviável — de novo, por fatores econômicos.
Embora a desavença entre 30e e Ludmilla seja menos decifrável nos comunicados, não é exagero supor que esteja relacionada com problemas da mesma linhagem dos de “A festa”. Isso porque as duas turnês compartilham fortes semelhanças entre si: celebram todas as fases de suas respectivas artistas e propõem um mega espetáculo. Além disso, Ivete e Ludmilla são atualmente duas das cantoras mais populares do Brasil.
Nos últimos tempos, a 30e esteve à frente de turnês grandiosas, sendo “Titãs Encontro” a maior delas. Mesmo seguindo outro formato de show — com menos glamour do que o de Ivete e de Ludmilla —, as apresentações da banda foram vendidas com ingressos custando entre R$ 90 e quase R$2.000.
Qual seria, então, a explicação para a possível venda baixa das turnês das cantoras? Uma alternativa é um estouro de bolha, conceito que se refere a uma expectativa econômica frustrada mediante um investimento baseado em ativos bem-sucedidos. No caso, um cálculo precipitado e mal avaliado, sob a tentativa de se repetir um feito vigoroso.
Ainda assim, vale dizer que o termo “questões de demanda” é amplo, podendo também se referir a problemas para além de venda de ingressos, como conflitos logísticos, imbróglios burocráticos e desavenças entre empresas.
Por que Anitta aponta problemas em realizar shows no Brasil?
Numa recém-conversa com jornalistas sobre a turnê e o novo disco, ao ser questionada sobre datas no país, a cantora Anitta disse que o público brasileiro não topa pagar por shows de grande porte.
“A gente está pensando em como fazer [minha turnê ‘Funk Generation’] acontecer [no Brasil]. Uma coisa é fazer shows pequenos, como estamos fazendo em outros países. Esse evento maior requer tempo e estrutura, e a galera não está muito a fim de pagar para ir em eventos desse tipo.”
“Quando é show internacional, todo mundo quer pagar zilhões. Mas estamos tentando fazer [grandes shows no Brasil], independentemente disso”, acrescentou ela à declaração, que se tornou polêmica.
Por que ‘Funk Generation’ é o melhor álbum da carreira de Anitta
O público brasileiro está disposto a pagar por grandes turnês?
Os números dizem o contrário de Anitta. Por exemplo, um levantamento da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape) mostra que, entre janeiro e outubro de 2023, o setor de eventos e cultura teve crescimento acumulado de 46,6% no país.
O consumo no segmento movimentou R$ 96,7 bilhões, resultado 12,5% superior ao registrado no mesmo período de 2022, de R$ 86 bilhões.
Com a demanda represada da pandemia, o Brasil passou a viver, a partir de 2021, uma corrida por ingressos, que ainda não desacelerou. Shows e festivais esgotam em minutos.
Atrações brasileiras que no auge se apresentavam em locais de médio porte estão marcando reencontros ou despedidas em estádios. É o caso de NX Zero, Forfun e Natiruts.
O público brasileiro está disposto a pagar por festivais?
Só nos últimos dois anos, o Brasil ganhou ao menos três festivais de música com lineup internacional: Primavera Sound, C6 e The Town.
Isso mostra que há, sim, um significativo público interessado em ir a (e pagar por) megashows.
Ao mesmo tempo, a última edição do Lollapalooza, por exemplo, teve uma plateia nitidamente menor do que o de anos anteriores — apesar de a organização do festival ter se recusado a divulgar a quantidade de pessoas que compareceu ao evento deste ano.
Quem comprou o ingresso para as turnês de Ivete e Ludmilla canceladas tem direito a reembolso?
Segundo os comunicados de Ivete e Ludmilla, quem comprou ingressos para os shows deve entrar em contato a produtora dos eventos para buscar orientações sobre o reembolso dos valores pagos.
Em nota, a 30e afirmou que divulgará os procedimentos “o mais breve possível”.

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Caso Diddy: psiquiatra explica onda de comentários irônicos envolvendo denúncias a rapper

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Pessoas têm postado comentários ironizando toda a situação, que envolve crimes de violência física e sexual. Especialista cita que redes sociais amplificam o ‘efeito manada’. Psiquiatra explica onda de comentários irônicos envolvendo o caso Sean Combs
Sean “Diddy” Combs não saiu das notícias dos últimos dias. O rapper, que também é conhecido como Puff Daddy, foi preso no dia 16 de setembro sob a suspeita de tráfico sexual e agressão. O artista é acusado de abuso sexual e de drogar pessoas durante festas promovidas por ele.
Diddy nega todas as acusações, que são bem semelhantes às feitas por Cassie Ventura. A ex-namorada do rapper abriu um processo contra ele alegando que foi estuprada e violentada por mais de uma década.
Ponto a ponto: quem é Sean Diddy Combs e quais são as acusações que envolvem sua prisão
Além de tudo o que virou notícia sobre o caso, uma situação chamou a atenção nas redes sociais: apesar de todas as questões de violência física e sexual do caso, muita gente decidiu fazer piada e ironizar a situação.
Desde a prisão do rapper, a internet ficou cheia de postagens inspiradas nesse caso. Muitos delas apontam nomes de amigos famosos do cantor, como Jay-Z. Os dois têm uma relação bem próxima. O cantor, inclusive, já foi criticado por não ter se posicionado sobre o caso Diddy.
Caso Diddy: quem são os famosos citados nas notícias do escândalo
Quem são os sete filhos do rapper
Instagram de Sean Diddy Combs
Reprodução/Instagram
O Instagram do rapper, atualmente, conta só com duas fotos. Uma é de sua filha Chance, de 18 anos, e outra de sua caçula, Love, de 1 ano e 9 meses. No espaço para comentários, muitas piadinhas.
Muitas delas, de brasileiros que estão “culpando” Diddy por casos que aconteceram no país. Por exemplo, tem gente afirmando que não vai perdoar Diddy por ele ter empurrado Mc Kevin da sacada. O rapper brasileiro morreu em 2021 após cair do 5º andar de hotel na Barra da Tijuca. Tem gente que diz, também, que Diddy seria responsável pela morte do Silvio Santos. O apresentador morreu em agosto, aos 93 anos.
As postagens seguem a linha de teorias da conspiração que surgiram após a prisão de Diddy e que afirmam que ele estaria envolvido na morte de astros internacionais.
Existem ainda mais memes e tentativas de piadas com outras questões relacionadas ao caso: como a grande quantidade de garrafas de óleo de bebê encontradas na casa do rapper. Ou também sobre o fato de Justin Bieber ter Diddy como um de seus padrinhos musicais.
A falta do olhar do outro
Internautas criam memes ironizando caso de Sean Diddy Combs
Reprodução/Instagram
Autor de livros como “Viagem por dentro do cérebro”, “Doentia maldade” e “O lado bom do lado ruim”, o psiquiatra Daniel Barros explicou ao g1 que as pessoas tendem a contar piadas com temas graves, porque as redes sociais eliminam uma parte fundamental da interação humana: o olhar do outro.
“No ambiente virtual, não há um feedback imediato das reações emocionais dos interlocutores, como acontece nas interações face a face. E aí, sem ver o sofrimento ou a indignação diretamente, as pessoas não têm o freio social que normalmente as impediria de ironizar questões sérias”, afirma Daniel.
“Sem ver o sofrimento ou a indignação diretamente, as pessoas não têm o freio social que normalmente as impediria de ironizar questões sérias.”
“Assim, acabam expressando desprezo ou falta de empatia, algo que provavelmente não fariam no mundo real, onde o desconforto gerado pelas expressões de dor do outro seria mais evidente”, completa o psiquiatra.
O médico também comenta que as redes sociais amplificam o efeito manada. Esse comportamento é muito usado na psicologia para explicar como as pessoas, quando estão em grupo, agem e reagem de uma mesma forma, mesmo sem um planejamento.
“Quando uma pessoa faz um comentário irônico ou ofensivo, outros podem seguir o exemplo e agir da mesma maneira, sem refletir profundamente sobre o impacto disso. Essa propagação rápida de comportamentos antissociais se deve ao fato de que, nas redes, as respostas não são vistas em tempo real, o que dá uma sensação de anonimato e segurança, mesmo que parcial. Isso faz com que a escalada de agressividade e ironia ocorra de maneira mais veloz e generalizada.
Daniel ainda comenta que uma mudança em relação a esse tipo de atitude requer tempo e adaptação.
Mas ele explica que se a sociedade se tornar mais consciente dos efeitos negativos das redes sociais, talvez as pessoas desenvolvam novas formas de empatia e autorregulação no ambiente virtual.
“Um caminho potencial seria uma maior educação sobre os impactos de nossas ações on-line e o desenvolvimento de mecanismos de autorreflexão para pensar antes de postar.”

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Pop

Coldplay ainda faz música de verdade ou apenas trilha para palestra motivacional?

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‘Moon Music’, 10º álbum do grupo britânico, desperdiça boas participações em melodias ao mesmo tempo sem referência e sem identidade; veja análise do g1. g1 analisa ‘Moon Music’, novo álbum do Coldplay
O Coldplay lançou nesta sexta-feira (4) “Moon Music”, seu 10º álbum de estúdio — segundo o vocalista Chris Martin, o antepenúltimo da banda, que pretende parar de fazer música após o 12º trabalho. As dez novas faixas, no entanto, deixam a sensação de que eles já pararam.
Nas últimas décadas, o grupo britânico viveu uma das maiores transformações musicais do pop mundial. Foi do rock alternativo melancólico do disco “Parachutes” (2000), influenciado por nomes como Oasis e Radiohead, ao pop motivacional de arena, mostrado principalmente a partir de “Viva la Vida or Death and All His Friends”, de 2008.
A fase mais recente transformou o Coldplay em um fenômeno de venda de ingressos. Iniciada em 2022, a turnê global “Music of the Spheres” arrecadou US$ 945,7 milhões e foi descrita pela revista “Billboard” como a mais lucrativa de todos os tempos para uma banda de rock.
Coldplay no Rock in Rio 2022
Stephanie Rodrigues
No ano passado, o espetáculo visual cósmico, com lasers, fantoches e pulseirinhas coloridas, passou pelo Brasil em 11 apresentações de estádios, com entradas esgotadas.
Ainda assim, fãs mais antigos torcem o nariz — e torcem por algum indício de retorno da banda às raízes. Esses podem desencanar: o “Moon Music” segue a mesma atmosfera etérea-edificante do trabalho anterior de 2021, o que dá nome à turnê quase bilionária.
Nesses dois álbuns, “Music of the Spheres” e “Moon Music”, o ponto alto são as participações. O primeiro tem Selena Gomez e o grupo de k-pop BTS no auge. O novo disco traz a cantora nigeriana Ayra Starr enriquecendo os vocais de “Good Feelings”, pop funkeado sobre a importância de cultivar bons sentimentos.
Em “We Pray”, louvor com levada de rap, está o também nigeriano Burna Boy, outro astro do afrobeat. Com hits e artistas escalando nas paradas, o pop africano ganhou força global em 2024. Mas o que poderia ser uma boa referência no álbum do Coldplay acaba diluído em melodias que parecem de inteligência artificial.
O disco consegue ser, ao mesmo tempo, sem referências e sem identidade: os arranjos não se conectam de verdade com nenhum movimento musical. Já as letras falam de um mundo sem complexidade, onde apenas o poder do amor é capaz de resolver problemas geopolíticos e unir nações em guerra.
“One World”, a música que fecha o “Moon Music”, tem Chris Martin em um instrumental onírico repetindo as palavras “um mundo, apenas um mundo”, para depois concluir: “No fim, é só amor”.
Capa de ‘Moon Music’, 10º álbum do Coldplay
Divulgação
Escolha seu lugar
Não é exatamente para ouvir música que os fãs lotam as apresentações do Coldplay. Com ornamentações de todo tipo, os shows do grupo são vendidos como “experiências” que agradam também outros sentidos.
Mas, se ao vivo a combinação com elementos visuais ajuda a criar um clima mágico, no trabalho de estúdio tudo se torna bem mais monótono.
O Coldplay não está interessado na música em si, mas em guiar as sensações do público. E, sem pirotecnia ou chuva de papel picado, a experiência fica mais parecida com uma palestra motivacional.
Na música-título, que abre o álbum, há um instrumental ambiente de quase dois minutos, perfeito para os espectadores irem escolhendo seus lugares no auditório. Depois, o “Moon Music” encaminha o ouvinte para se animar em “Feels Like I’m Falling in Love”; para refletir em “We Pray”; se empoderar em “IAAM”; se emocionar ao lembrar de tempos mais difíceis em “All My Love”.
Quem consegue deixar o mau humor de lado para se entregar de corpo e alma a esse tipo de vivência pode dar o play tranquilo. Vai ser divertido. Os outros provavelmente vão achar um tanto cafona.

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Pop

Por que a cultura do estupro é tão comum na indústria musical e o que Sean Diddy tem a ver com isso

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Com mais de 200 páginas, documento reúne dezenas de casos de magnatas da música americana acusados de cometer crimes sexuais e de assumir posturas controversas. Sean ‘Diddy’ Combs
Chris Pizzello/Invision/AP
O caso Diddy ainda parece distante de uma conclusão, mas, sem dúvidas, já é um marco na indústria da música. Há, inclusive, expectativas de que se torne o próximo MeToo, movimento que chacoalhou Hollywood em 2017 com uma onda de denúncias de crimes sexuais.
Preso em 16 de setembro, Dsddy se diz inocente e aguarda julgamento. Mas ele não foi o único músico a entrar na mira da Justiça nessas últimas semanas. Quem também foi processado é o astro country Garth Brooks, acusado de estupro, o que é negado por ele.
Dominado por homens, o setor musical tem uma extensa lista de denúncias e condenações por assédio e abuso. Isso é tão frequente que há uma naturalização do problema, o que acaba levando à chamada cultura do estupro.
“Por décadas, a indústria da música tem tolerado, perpetuado e, muitas vezes, comercializado uma cultura de abuso sexual contra mulheres e meninas menores de idade. Milhares de artistas, executivos e acionistas lucraram bilhões de dólares, enquanto se envolviam e/ou encobriam comportamentos sexuais criminosos”, diz o texto introdutório do relatório “Sound Off: Make the Music Industry Safe” (ou “Som desligado: Torne a Indústria da Música segura”, em português), publicado em fevereiro deste ano.
Com mais de 200 páginas, o documento reúne dezenas de casos de magnatas da música americana acusados de cometer crimes sexuais e de assumir posturas controversas. São histórias que vão dos anos 1950 a 2024.
A constante negligência de denúncias, investigações e até sentenças judiciais estimula crimes sexuais no mercado musical. É o que aponta o relatório, elaborado por uma coalizão entre os grupos feministas Lift Our Voices, Female Composer Safety League e Punk Rock Therapist.
Caso Diddy: entenda o que é fato sobre o caso
Sexo, drogas e rock n’ roll
“Para desenvolver uma marca estética de alguns artistas, a indústria usa essa cultura a seu favor”, diz Nomi Abadi, pianista e fundadora da Female Composer Safety League, rede de suporte a compositoras vítimas de abuso sexual e assédio. Ela conversou com o g1 por videochamada. “É por isso que tem tanto músico acusado impune.”
Ela cita o famoso lema “sexo, drogas e rock n’ roll”. Para a artista, a ideia é menos sobre um espírito roqueiro e mais sobre uma dinâmica de poder que está presente em todos os gêneros musicais. É uma forma de relativizar histórias de mulheres que alegam terem sido drogadas e violadas sexualmente em festas com músicos, executivos, produtores e outros profissionais do setor.
De fato, não é raro encontrar esse tipo de queixa no meio musical. O próprio Diddy é acusado de drogar e estuprar mulheres durante seus festões luxuosos, chamados de “white parties” e “freak-off”. Inclusive, há relatos de que ele teria coagido algumas convidadas a usar fluidos intravenosos para recuperação física após submetê-las a longas e violentas performances eróticas.
O músico nega todas as acusações que levaram à sua prisão. Quanto ao caráter libertino de suas festas, ele sempre gostou de fazer menções, se gabando dos eventos.
Sean ‘Diddy’ Combs em foto de 2017, em Nova York.
Lucas Jackson/Reuters
“Todos nós já sabíamos. Por muito tempo, ouvimos histórias sobre essas festas”, afirma Nomi. “Eu conheci uma vítima de P. Diddy. Minha amiga esteve em uma dessas festas… Ninguém a escutou. Ninguém se importou com ela.”
Os eventos, que rolavam desde os anos 2000, eram privados — a lista de convidados do rapper reunia atores, músicos, empresários e políticos. Jay-Z, Will Smith, Diana Ross, Leonardo DiCaprio, Owen Wilson, Vera Wang, Bruce Willis e Justin Bieber são algumas das celebridades que compareceram aos encontros.
“O que tinha nessas festas era coisa muito ruim. E mesmo envolvendo tantas pessoas, continuava acontecendo”, continua Nomi. É mais ou menos o que também afirmou a cantora Cassie, ex-namorada de Diddy, em 2023, quando ela abriu um processo contra ele, alegando ter sido estuprada e violentada por mais de uma década. Na ação, que já foi encerrada (sem os detalhes divulgados), a artista afirmou que os supostos crimes do rapper eram testemunhados por muita gente “tremendamente leal” que nunca fazia nada para impedi-lo.
Sean ‘Diddy’ Combs
Richard Shotwell/Invision/AP
Desde que fundou a Female Composer Safety League, Nomi tem tido contato com várias denúncias de agressão sexual no setor da música. “Uma coisa que me surpreendeu quando comecei a frequentar esse meio [de dar suporte a vítimas] é que cada sobrevivente tem sua própria versão da mesma história. As circunstâncias são diferentes. O que aconteceu com cada pessoa é único. Mas todas elas querem ser validadas, compreendidas e terem seus empregos mantidos”, afirma ela. “São os mesmos medos e os mesmos desejos.”
Anos atrás, a artista moveu processos contra Danny Elfman, compositor de trilhas de blockbusters como “Batman” e “Beetlejuice”. Nas ações, ela alegou ter sido vítima de crimes sexuais. Ele nega. Os dois entraram em um acordo com termos não divulgados.
A cultura externa
Também em entrevista ao g1, a pesquisadora de rap Nerie Bento analisa que, na indústria, a cultura do estupro é atrelada à desigualdade de gênero do mercado, além da própria influência de quem está de fora.
“É uma cultura que permeia toda a sociedade, então, obviamente vai estar aqui também”, diz ela. “E a própria música em si… A gente tem muita música misógina que contribui com isso.”
Neire menciona, então, a erotização de corpos femininos em videoclipes de cantores famosos como o próprio Sean Diddy, o que, segundo ela, também endossa a cultura do estupro, ao objetificar a figura da mulher.
O apelo às gravadoras
O relatório “Sound Off” também faz menções à erotização feminina no setor. Além disso, critica as três maiores empresas do mercado fonográfico (Warner Music, Universal Music e Sony Music), propondo que adotem as seguintes demandas:
O fim de NDAs (Non-disclosure agreements, na sigla em inglês), ou seja, acordos de confidencialidade — prática frequente para o encerramento desse tipo de processo no meio musical;
Uma lista pública dos músicos, executivos, gerentes, produtores e outros profissionais acusados de má conduta sexual;
Adoção de protocolos institucionalizados que estimulem a denúncia, não o silêncio;
Investigações conduzidas por partes externas
A defesa de leis que derrubem a prescrição em crimes sexuais
Demandas que surgem porque, segundo a coalizão do relatório, essas gravadoras “ignoraram acusações, silenciaram vítimas e até permitiram o abuso” por décadas.
O g1 entrou em contato com as assessorias da Warner, Universal e Sony, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem.

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